15 de dez. de 2009

Noite Feliz

Ventava. Os animais estavam recolhidos, e alguns aconchegavam-se uns aos outros, na tentativa de espantar o frio e conservar o calor naquela noite carregada de nuvens.

Apenas duas criaturas destoavam do grupo: o velho burro, sempre distante, e a ovelha malhada que, do meio do pátio, alongava o olhar para a porta da casa, sob cuja soleira a chama de uma candeia oscilava ao vento, frágil e vacilante.

Aqueles estavam sendo dias movimentados. Aquela casa humilde nunca vira tantos visitantes. Vindos de longe, chegavam cansados e suarentos e se acomodavam como podiam. Os bichos foram, então, desalojados do cubículo tradicionalmente ocupado na época do frio, dentro da casa, e dormiam no pequeno estábulo improvisado.

Além disso, trabalhavam dobrado. O burro perdeu a conta de quantas bilhas de água carregara no lombo naquele dia. As cabras eram ordenhadas assim que o sol surgia. Algumas ovelhas chegaram a ser novamente tosquiadas, para vestir e abrigar visitantes desavisados. E, por conta da grande bulha ao redor da casa, seus donos haviam se esquecido de alimentá-los naquele dia.

As demais ovelhas e carneiros baliram tristemente, mas, tímidos, juntaram-se uns aos outros para compartilhar o calor e adormeceram. O boi deixou o estábulo e aventurou-se nos pastos vizinhos, em busca de um capim improvável. O burro, resignado, sabia de experiência própria que um dia os visitantes retornariam a seus próprios lares e a vida voltaria a seu curso normal.

Somente a ovelha malhada mantinha a esperança de mastigar alguma coisa ainda, por isso a espera angustiosa pelos donos. A noite, porém, parecia ficar mais intensa, e logo a chama da candeia era o único foco de luz visível na escuridão. Mesmo assim, o pacífico animal, com o dorso encardido pela poeira vermelha daquelas paragens, continuava aguardando, expectante.

De súbito, um rumor despertou sua atenção. Um tropel suave, a denunciar que novos visitantes chegavam. Uma moça montada num burro, sendo conduzida pelo marido. A porta se abrira, e a claridade derramou-se pelo pátio.

Desapontado, o animal suspirou e retornou lentamente para o estábulo. Juntou-se aos demais, aninhando-se para dormir e esquecer a fome.

A porta permanecia aberta, enquanto o recém-chegado parlamentava com o dono da casa. A moça, cansada, apeou do burro e, para surpresa de todos os animais, dirigiu-se ao pequeno estábulo. Todos viram que ela estava grávida, e caminhava com dificuldade. Chegou e, com um olhar de ternura e paz, buscou um cantinho no monte de palhas, onde recostou-se, aliviada. Estava exausta, após dias na montaria incômoda.

O velho burro acercou-se do companheiro trabalhador e ambos também caminharam até o estábulo. O animal viajante ainda alongou os olhos para o cocho, vazio contudo. Mesmo assim, pareciam felizes por se encontrarem.

O homem, por fim, aproximou-se. Trazia água, pão e frutas secas, ofertados pelos donos da casa. A porta já estava fechada novamente. A moça aceitou apenas a água. Aconchegada no monte de palha, olhava para os céus, pensativa. Sem espaço para se deitar, o homem ajoelhou-se, velando pela jovem esposa.

Logo o silêncio voltou a reinar. O óleo na candeia findou, e a chama se apagou, fazendo toda a cena mergulhar na escuridão. O vento, cortante, parecia amainar, transformando-se aos poucos em brisa confortante. Os animais, inclusive os burros, dormiram.

A jovem adormeceu. O homem permanecia a seu lado, olhando-a com carinho. A gravidez a tornara ainda mais bela. A longa viagem tornara sua expressão cansada, mas também esperançosa. Enternecido, notou que do rosto dela parecia vir um brilho tênue. Olhou admirado para o céu. As nuvens haviam se dissipado, e uma luz diferente vinha do alto, banhando a todos com delicadeza e emoção.

Voltou-se para o rosto da esposa, cujos olhos abriram-se num repente. Chegara a hora!

* * *

A ovelha malhada foi a primeira a notar que algo estava diferente. A candeia fora trazida do alto da porta e, reabastecida, iluminava todo o estábulo. O casal de humanos havia forrado com palha a manjedoura vazia e a contemplavam, embevecidos.

Levantou-se, hesitante, e se aproximou, com cautela. Seria, enfim, o alimento? O homem e a mulher pareciam nem notar seus movimentos. Abeirando-se do cocho, espiou e viu um pequenino ser que dormitava, envolto em faixas. Com a pureza de seu coração autêntico, ali ficou a ovelha a fitar o menino.

Os animais foram, aos poucos, despertando e se aproximando, com reverência. Atraídos pela criança, puseram-se ao redor da manjedoura, e ali permaneceram, participando da noite feliz. E foi assim, aquecido pelo hálito dos animais, na palha singela da manjedoura humilde, que Jesus viveu sua primeira noite na Terra.


30 de nov. de 2009

Sem medo do mundo

A gente sempre aprende com as crianças; em especial, quando elas aprendem com o mundo.

A criança não tem medo do mundo; acha que tudo ali em volta dela existe para ela, está a sua disposição para que ela experimente, aproveite, e viva, de maneira plena.

Por isso, ela se joga para a frente, querendo andar, desconhecendo por completo a lei da gravidade; tenta pegar tudo o que está ao alcance dos braços, sem se importar se corta, espeta ou dá choque.

Lembro que, certa vez, Isabella encontrou uma bolinha de naftalina e não titubeou: colocou na boca achando que era um Mentos. Depois sentiu o gosto ruim e cuspiu.

Com o tempo, e com a ação educativa dos pais, ela aprende aos poucos seus limites, e descobre, mesmo que com o dedo queimado ou o joelho ralado, o que pode e não pode, o que deve e não deve.

Mas o problema é que ficamos com muito medo do mundo, a partir do momento em que descobrimos nossas limitações. Não posso, não devo, não, de maneira geral, acaba se internalizando e virando uma norma implícita de conduta.

Creio que muitas de nossas inseguranças nascem nesse período. Tememos tanto o mundo que adotamos quase sempre uma postura defensiva, protegendo nossos interesses e se arriscando apenas de forma calculada.

Hoje, vejo que as crianças estão certas.

O mundo é nosso, foi criado por Deus para nossa morada, e nosso instrumento de progresso. Por que se amedrontar ante a própria casa?

O risco maior de nossa existência é o de não se arriscar, deixar as oportunidades passarem, por puro medo.

Temos pernas para andar, mãos para segurar, olhos para ver, boca para falar. Sem ação e esforço, não há crescimento, aprendizado. Membros e funções não utilizados, atrofiam e murcham. E o tempo passa.

As crianças têm razão por serem corajosas.

9 de nov. de 2009

Mais aprendizado

Dizem que o autoconhecimento é a chave do progresso individual. Saber quem somos, quais nossas potencialidades e limitações, auxilia-nos a decidir melhor os rumos de nossa vida.

Estou descobrindo que, para se conhecer, nada melhor que conhecer os próprios filhos.

Nossas crianças copiam nosso comportamento. É algo inconsciente, que eles realizam como uma necessidade. Sem perceberem, eles nos observam e dissecam, e depois replicam o que viram. Adotam como seus os modelos comportamentais que lhes oferecemos.

Assim, se quer saber quem você é, observe seus filhos. Eles te copiam. E aqueles comportamentos deles que mais te incomodam, com certeza absoluta são teus também. É por isso que eles te incomodam tanto.

Você quer se livrar deles em si próprio, e acaba incomodado com o que teus filhos fazem.

Não tem como fugirmos de nós mesmos. Ainda que replicados nos infantes.

Aprendizado

Estar em uma família é estar aprendendo, o tempo todo. Mesmo que não se queira.

É claro que não se fala aqui de aprendizado formal, de disciplinas ou matérias. É aprendizado de comportamento, de posturas, de hábitos.

Ao se formar um casal, os indivíduos se adequam ao jeito do outro, harmonizando seus quereres e tendências. Em geral, como essas tendências e gostos foram um fator de afinidade e aproximação, fica fácil estabelecer uma vida em comum harmônica.

No entanto, quando surgem os filhos, tudo muda. Os cuidados e esforços exigidos para o bem estar das crianças literalmente invadem a esfera de vida, já estabilizada, que os pais construíram para si. Uma reacomodação de vontades, espaços e prioridades torna-se indispensável.

A rotina altera-se completamente. Os hábitos cristalizados do grupo são alterados. Inevitavelmente, programas e costumes serão abandonados ou adiados. O foco da família desloca-se do par para a prole. Até porque, se os filhos não estiverem bem, os pais também não estarão.

E é difícil passar por isso. Resiste-se a essa quebra da rotina, sem sucesso. Vejo que talvez muitas uniões não tenham sucesso por conta da inacapacidade dos pais em enfrentar a mudança. Rebelamo-nos contra esse processo natural, queremos enquadrar a realidade aos nossos interesses, sem resultado.

Por imaturidade, esperamos que tudo volte como era antes, com nossa liberdade. Apenas nos esquecemos que, com nosso livre arbítrio, permitimos felizes o ingresso de outros indivíduos em nosso círculo existencial.

Indivíduos que surgem, no início, completamente dependentes de nossos cuidados, atenção e amor. Seres que se entregaram, literalmente, a nossos braços, confiantes em nossa capacidade de amá-los e de direcioná-los para uma vida sadia e feliz. E como é bom ser o agente dessa direção!

Se queres mudança, constitua uma família. Se não queres, lembra-te de que, sem mudança, a vida não progride, não anda para a frente. É como se o mundo não girasse.

Estar em uma família é estar aprendendo, o tempo todo. Mesmo que não se queira.

29 de set. de 2009

20 Anos - Carta

De: Pai distraído
Para: Outro pai distraído

Pai querido,

Hoje, completam-se 20 anos de saudades.

Se fosse mal agradecido a Deus, teria motivos de queixa. Afinal, já vivi mais tempo sem do que contigo. Quando partistes, tinha 14 anos.

Mas, pensando melhor, não dá para alguém viver sem seus pais, mesmo eles estando ausentes. Somos uma projeção deles, misturada com nossas próprias experiências, assim como serão os nossos filhos. Não podemos nos desfazer das impressões e vivências da infância.

Assim, sempre estivestes comigo: no sorriso, na timidez, no jeito amigo. Da mesma forma como permaneces com meus irmãos. E isso é um motivo de grande alegria.

Hoje estou aqui, vivendo as experiências da paternidade, tal qual as vivestes. Agora vejo que muitas vezes erramos por ignorância, e que nunca nos falta a vontade de acertar. Conosco, você acertou quase sempre.

Teus três filhos já são pais. De nossa parte, esperamos ser com nossos filhos tão carinhosos quanto fostes conosco. É nossa maior herança.

Um grande abraço, até mais.

27 de set. de 2009

Laços invisíveis

Quando somos bem pequenos, nossa vida está literalmente nos braços de nossos pais. Deles dependemos para absolutamente tudo, e sem seus cuidados e diretrizes nossa precária vida se perderia em poucas horas.

Acaba que nós crescemos e nos esquecemos disso. Sabemos que somos ligados a eles mas, na maior parte das vezes, não damos a eles maior importância do que damos a nossos amigos, nossos outros parentes, nossos amores.

Ocorre que a recíproca não é verdadeira.

Um bebê desperta em seus pais laços invisíveis de afeto, carinho e proteção. Basta olhar para suas tentativas de interagir com o mundo, basta se sensibilizar com seu sorriso espontâneo e largo, sua inocência em cada pequena descoberta...

Por isso é que, depois que eles crescem, e muitas vezes erram na vida, os pais, e acima de tudo as mães, olham para eles e não conseguem esquecer aquele ser pequenino e carinhoso. Nunca deixamos de ser bebês para nossos pais.

Graças a Deus.

24 de set. de 2009

Coisas que sempre se ouve - II

Quando se torna pai, a gente descobre, estupefato, que a grande maioria da população terrestre é o supra-sumo da puericultura. Todos são mestres, doutores e PhDs na arte de cuidar de crianças, e cada um tem a receita mais infalível para solucionar qualquer problema.

Assim, você sempre escuta:

- Não pode dar banho até o sétimo dia;
- Não pode sair na rua durante os três primeiros meses;
- Olha esse vento encanado! Fecha a janela!
- Cuidado na hora do banho para não entrar água no ouvido!
- Tem de forçar a glande para desobstruir o pipizinho.
- Não pode forçar a glande de jeito nenhum!
- Chegou da rua? Vai descansar antes de pegar no bebê. Senão dá quebranto!
- Chazinho é bom para cólica;
- Fralda de pano é mais confortável para ele, já viu como a descartável esquenta?
- Já está engatinhando? Tem de engatinhar até os seis meses!
- Até os dois meses só pode dar um banho por dia;
- Criança no ar condicionado? Deus me livre!
- Os dentinhos estão nascendo? Esfrega um alho na gengiva que não vai doer.
- Dá uma rodela de limão para ele mastigar;
- Etc, etc, etc...

Ouça sempre o pediatra do seu filho. E não economize no bom senso.

4 de ago. de 2009

Coisas que sempre se ouve

Quando você é solteiro, sempre ouve:

"Aproveitando a vida, né? Quando vai se aquietar e arrumar alguém?"

Quando começa a namorar:

"Pare de enrolar a moça e case logo."

Quando fica noivo:

"Pare de enrolar a moça e case logo!"

Quando se casa:

"Meus parabéns! Quando vão engravidar?"

Quando nasce o primeiro filho:

"Meus parabéns! Vocês vão ter outro, né? Filho único cresce tão sozinho!"

Quando nasce a primeira filha:

"Que lindo! Um casal. Agora já dá para parar, né?"

Quando vem a terceira gravidez:

"Vocês estão loucos? Como vão criar três filhos nesse mundo?!"

19 de jul. de 2009

Viver sem julgar

Já reparou como é difícil viver sem julgar os outros?

Sem percebermos, passamos o tempo todo pregando rótulos em quem cruza nosso caminho. Quase todos, negativos.

Quem ultrapassa nosso carro pela direita é um louco irresponsável.

O colega de trabalho que elogia o chefe é um puxa-saco inveterado.

Alguém que nos olha de cara fechada é grosseiro e ignorante.

A mãe que dá um refrigerante para a criança é descuidada com as cáries.

O homem que fala ao celular no elevador cheio é um mal educado.

A questão é que nós taxamos essas pessoas sem ao menos ouvir o lado delas. Preferimos julgar e condenar assim, só de olhar.

Não cuidamos de saber se quem dirige perigosamente está em urgência, ou se o assunto objeto da conversa no celular é importante, ou se o dono da cara feia teve um dia ruim. Nós simplesmente julgamos.

E sabe porque fazemos isso?

Por causa do orgulho. Quando desferimos julgamentos assim, a torto e a direito, estamos dizendo a todos, nossa, como vocês fazem coisas erradas; eu não as faço.

Achamos que somos melhores que os outros; por isso condenamos aquilo que enxergamos de errado. Quando chamo alguém de louco no trânsito, por conta de alguma infração, é como se eu dissesse baixinho comigo: eu não faço isso, não sou como eles.

O orgulho nada mais é do que isso: uma falsa visão de que somos melhores que os outros, que merecemos o melhor da vida, que nada de ruim pode nos atingir. Julgar os outros é um indício dessa característica.

Por isso, a advertência inesquecível de Jesus: aquele que estiver sem pecados, que atire a primeira pedra.

Sim, eu já cometi infrações de trânsito, já olhei de cara amarrada para os outros, já falei ao celular no elevador, no consultório médico, no plenário, na igreja, no volante do carro...

E ainda vou questionar se tenho direito de julgar os outros...

18 de jul. de 2009

Procurando Nemo



Não sei porque só fui falar desse filme agora. Gosto muito dele, embora o ache triste às vezes.

Sinopse

Marlin e Coral formam um casal de peixes-palhaço. Eles habitam uma anêmona em um recife, à beira do precipício, e preparam-se para o nascimento de seus filhotes.

Súbito, um peixe enorme e mal encarado ataca o recife. Marlin é jogado contra as rochas e desmaia. Quando desperta, vê que sua esposa e quase todos os ovos desapareceram.

Apenas um ovo restou, perdido na areia. Marlin o batiza de Nemo, e afirma que, dali em diante, nada irá acontecer com o filhote.

O tempo passa, Nemo cresce e chega a hora de ir para a escola. Marlin preocupa-se em demasia com o filho, não apenas por conta do acidente mas também porque Nemo tem uma nadadeira atrofiada, e assim nada com certa dificuldade.

No primeiro dia da escola, Nemo quer demonstrar para o pai que é capaz de realizar coisas sozinho, e não precisa dele para tudo. Marlin não concorda, e Nemo acaba desafiando sua autoridade, afastando-se perigosamente do recife, em direção ao mar aberto. Sua intenção é tocar um barco ali ancorado e retornar.

No retorno, porém, surge um mergulhador que acaba aprisionando Nemo em uma rede e levando-o embora. Marlin desespera-se e, abandonando o recife, nada sofregamente atrás do barco, em busca de seu filho.

Durante a busca, acaba encontrando a máscara do mergulhador que levou Nemo (na qual está escrito seu endereço) e termina por topar também com Dori, uma atrapalhada peixe azul que sofre de perda de memória recente. Ela se esquece facilmente das coisas.

Daí em diante, Nemo e Marlin partem para Sidney, onde vive o mergulhador, atravessando inúmeros perigos e sendo ajudados de muitas formas por outros habitantes do mar.

Enquanto isso, Nemo é levado pelo mergulhador, um dentista, para o consultório deste. Lá passa a viver em um aquário junto a outros peixes, cujo sonho maior é fugir dali para o oceando imenso e azul.

Enfim, Marlin termina por encontrar Nemo e ambos, em companhia de Dori, retornam para o recife.

Valores presentes no filmes

O maior valor é o da relação familiar, em especial a do pai com o filho. Como dito, Marlin é superprotetor, deseja que a existência de Nemo transcorra nem nenhum sobressalto ou surpresa. Daí, desenvolve uma paranoia constante, cercando-o de cuidados e não permitindo que ele faça suas descobertas.

Nemo, por outro lado, quer crescer e aprender, e sente que o pai está castrando sua liberdade. Seu ato de rebeldia no início do filme mostra isso, que ele, apesar de ser órfão de mãe e ter uma nadadeira menor, pode fazer muitas coisas.

Um dos grandes desafios dos pais é dosar a liberdade dos filhos, a fim de que estes conquistem sozinhos a responsabilidade. O ato de criar um filho é o de ir paulatinamente lhe delegando as decisões sobre seu destino. No início, os pais decidem tudo; aos poucos, vão passando esse poder de escolha para o filho, à medida em que ele possua capacidade para tanto.

Costumamos ficar nos extremos: ou damos liberdade de menos ou de mais. Sem liberdade, a criança acomoda-se e torna-se alguém eternamente dependente dos mais velhos. Com muita liberdade, a criança não encontra limites e vive como se estes não existissem.

Enfim, a separação ocorrida acaba por despertar em Marlin a vontade de deixar, aos poucos, que Nemo assuma responsabilidades.

Confiança

Marlin é extremamente prudente e racional em suas decisões. Acha que consegue controlar plenamente sua vida e a de seu filho. Quando Nemo se vai, sua convicção nesse controle vai por água abaixo.

Para complicar sua vida, ele passa a conviver com Dori, a criatura mais displicente com o próprio destino de todo o oceano. Seu lema é "continue a nadar, continue a nadar". Para Marlin, isso não faz sentido algum. Nadar por nadar é loucura, se eu nado tenho que ter alguma direção, algum objetivo.

No entanto, em várias ocasiões do filme Marlin vê que essa postura extremamente racional é inadequada para a vida, e Dori quase morre por causa disso, quando eles atravessam uma nuvem de águas-vivas. Marlin passa, então, a ser mais confiante na vida, arrisca-se mais. Deixa de ser tão taciturno e até conta piadas.

Solidariedade

A narrativa sobre a saga de Marlin e Dori espalha-se pelo oceano. Todas as criaturas marinhas tomam conhecimento das dificuldades que eles enfrentaram e contam, umas para as outras, os detalhes dessa história.

Isso acaba tecendo uma rede de solidariedade. Na busca por Nemo, Marlin e Dori são auxiliados por um trio de tubarões, um cardume de peixes, um grande grupo de tartarugas marinhas, uma baleia e um pelicano.

Humanizar

Humanizar, dizem os dicionários, é tornar humano, é inspirar humanidade, é atribuir a algo ou a alguém características humanas. Mas não quaisquer características, de preferência as boas: a compaixão, a bondade, o amor.

Na ficção, em especial no cinema, muitos são os exemplos de humanizações. No filme Náufrago, o personagem vivido por Tom Hanks, Chuck, transforma uma bola de vôlei em Wilson, um amigo com o qual troca confidências e com quem compartilha o degredo involuntário numa ilha. Parece que, sem Wilson, Chuck perderia a sanidade.

É tocante e profundamente comovente ver a dor com que Chuck percebe que Wilson desprendeu-se da jangada construída para deixar a ilha e boia no oceano sem fim, separando-se irremediavelmente de seu parceiro. Chuck chega a se jogar da embarcação e nada atrás de Wilson, apenas desistindo ao perceber que, se persistisse na busca, não conseguiria voltar para a jangada.

No filme Wall-E, vemos uma série de robôs com adoráveis características dos homens, mas apenas um com uma marcante postura humana e humanizante: o tímido e apaixonado protagonista. Falei um pouco sobre esse filme aqui.

E não apenas objetos sem vida biológica tornam-se humanos nas telas do cinema. É infindável a quantidade de filmes em que animais apresentam caracteres mais humanos que homens e mulheres. Como exemplo máximo para mim, está King Kong, com seu olhar de ternura e tristeza, cativando a bela Ann Darrow.

Sim, somos capazes de enxergar humanidade onde ela não existe, somos capazes de emprestar aquilo que temos de melhor para que nossa vida seja mais bela, mais justa, mais civilizada. Mas nem sempre conseguimos humanizar a vida, até mesmo onde ela já é humana.

Falo isso porque nossa sociedade está prestes a aceitar o aborto de fetos anencéfalos. O Supremo Tribunal Federal irá julgar a ADPF 54, e a tendência é que inclua essa possibilidade de abortamento às permissões já existentes: no caso de estupro e de risco de vida à mãe.

Será que o anencéfalo, uma criança com má formação do encéfalo, não é humano? Será que não reúne todas as potencialidades de um ser humano, apenas tolhidas por uma deficiência? Será que devemos ter a mesma postura (abortar, eliminar) com os seres humanos adultos que, por alguma circunstância (acidentes, doença), ficaram na condição de deficientes?

Por que nos emocionamos com o olhar apaixonado do gorila gigantesco, mas somos indiferentes à sorte desses bebês? Por que rimos das brincadeiras ingênuas do robô Wall-E mas elegemos uma razão fria e insensível para decidir o futuro de quem não pode se defender? Por que essa contradição, em espalhar humanidade na criação humana mas negá-la onde ela já se encontra?

16 de jul. de 2009

Gentileza

O texto abaixo ficou classificado em 3º lugar no concurso literário promovido pela Justiça Militar da União no ano passado.

A Gentileza como instrumento de trabalho

Desempenhar as atribuições de Oficial de Justiça no âmbito da Justiça Militar da União é um convite permanente ao exercício da gentileza. Para bem cumprir seu papel, o Oficial – servidor que executa no ambiente externo as decisões judiciais, como a “longa mão” do magistrado – precisa ser gentil, de maneira particular, em dois momentos distintos.

No primeiro, a gentileza assume vital importância na localização de endereços de testemunhas e acusados. Via de regra, nas grandes cidades brasileiras, onde se localiza a maioria das sedes das Auditorias, a ação estatal não acompanhou a velocidade da expansão urbana.

Assim, muitos endereços não constam em mapas e guias, e os nomes das ruas não seguem a nomenclatura oficial, sendo conhecidos apenas pelos próprios moradores. Localizar um endereço, nessas circunstâncias, torna-se um exercício de paciência e perseverança.

Quase sempre o Oficial “depende da bondade de estranhos” (como a personagem Blanche DuBois, da peça Um Bonde Chamado Desejo) para encontrar os destinatários das ordens judiciais e assim cumpri-las. Carteiros, policiais, motociclistas, transeuntes, comerciantes, motoristas de ônibus, todos, sem distinção, são uma valiosa fonte de informações sobre os logradouros perdidos do nosso cotidiano.

E, para despertar essa boa vontade alheia, nada mais adequado que a gentileza. Abordagem respeitosa, tom de voz educado, calma e harmonia no semblante são instrumentos eficazes para se transformar um estranho em colaborador, e assim obter os informes necessários. Truculência, arrogância e autoritarismo só fazem gerar antipatia e dificultar o desempenho da missão.

O segundo momento em que a gentileza se faz necessária diz respeito ao relacionamento do Oficial com alguns dos “atores” do processo penal militar: testemunhas, ofendidos e, principalmente, com os protagonistas, os acusados.

Para essas pessoas, o Oficial de Justiça representa o “cartão de visitas” da JMU; em geral, trata-se do primeiro contato delas com o ambiente judiciário e em grande número são as dúvidas, os preconceitos e o temor.

O Oficial age nessas ocasiões como um verdadeiro intérprete, traduzindo em linguagem acessível ao público leigo os dispositivos legais e os trâmites judiciários, explicando pacientemente a razão de ser daquela ordem judicial e o que compete a cada um.

Testemunhas e ofendidos, de maneira geral, mostram-se receptivos e apresentam boa disposição em comparecer à Justiça e prestar sua colaboração. O mesmo, entretanto, não pode ser dito em relação ao acusado.

Por ser uma justiça criminal, a Justiça Castrense lida com o bem mais precioso do ser humano: a liberdade. Uma vez instaurado, o processo penal militar pode trazer como conseqüência extrema ao réu a privação de sua liberdade.

A perspectiva de vir a ser preso, para o acusado, é atemorizante, e o Oficial deve ter bastante sensibilidade nos contatos que com ele realiza, desde a citação até as comunicações posteriores no processo. Em geral, o acusado reage com incredulidade e até mesmo revolta à simples notícia da existência do processo.

Essa reação é compreensível. Normalmente já desvinculado do ambiente militar, ele esperava que os problemas houvessem permanecido dentro do quartel. Uma idéia que lhe acode, após a citação, é a da revelia: não comparecer e esperar que o assunto seja esquecido com o tempo.

Nesses instantes, ao invés de aumentar o grau de temor do acusado, ao apresentar ameaças e conseqüências funestas de sua ausência, o Oficial deve persuadi-lo racionalmente a comparecer a Juízo. Para tanto, portar-se com urbanidade e paciência, dedicando-lhe uma atenção cortês e respeitosa, a fim de convencê-lo de que apresentar-se perante o Conselho de Justiça é sempre a melhor opção.

Agindo desta forma, o servidor angaria a confiança dos jurisdicionados e contribui para a aplicação célere da Justiça.

Momentos há, no dia a dia do Oficial, em que ele deve agir com firmeza, sob pena de ver desmoralizada a autoridade de que se encontra investido. Entretanto, jamais pode se esquecer da gentileza, essa “arma” altamente eficaz que independe de porte e que possui o condão de lhe abrir muitas portas e garantir o fiel cumprimento de suas missões.

Família, sempre família

No final do ano passado, uma notícia interessante sobre a família foi divulgada. Encontraram o mais antigo registro arqueológico de um grupo familiar.

Veja aqui.

Não é a toa que vivemos em família. Como instituição, ela foi a responsável por o progresso humano ter chegado até onde chegou. Sem ela, nada seríamos.

Há algum tempo, no contexto das atividades de que participo na Fundação Allan Kardec, preparei o seguinte texto, que fala de funções essenciais desempenhadas pelo lar. Serviu como base o Roteiro de Estudo para os grupos de pais com crianças assistidas, desenvolvido por trabalhadores daquela instituição:

a) Progresso

Dentro de uma família, os mais velhos e experientes amparam, sustentam, protegem e orientam os mais novos. Ao renascerem, as crianças encontram uma estrutura e uma dinâmica destinadas a lhes proporcionar cuidados e a estabelecerem metas de direção e ordem.

Assim, os filhos terão progresso previsível, isto é, menos sujeitos aos perigos, intempéries e necessidades de uma vida ao léu. A infância humana é a de maior duração do reino animal; o longo período de aprendizado que os filhos passam ao lado dos pais lhes serve como preparativo necessário às lutas que terão de desempenhar, a sós, no mundo.

Nessas condições, o lar representará uma fortaleza, destinada a proteger e preparar os mais frágeis integrantes da família.

b) Memória das conquistas sociais

Hábitos como lavar as mãos antes das refeições; limpar os pés antes de entrar em casa; dar preferência a alimentos naturais e frescos podem, nos dias de hoje, serem considerados como banais e corriqueiros. Em verdade, representam conquistas, não apenas de um grupo isolado mas sim de toda a sociedade, e que se incorporaram ao modo de viver humano graças à intervenção da família.

Na família, encontra-se a memória das conquistas sociais que são transferidas, de forma natural, aos filhos. A família é a depositária, por excelência, dos avanços e conquistas efetuados pela sociedade em diversos campos, como higiene e relacionamento social, por exemplo. Representa para a família um dever perpetuar e manter esses traços evolutivos, a fim de que os filhos possam incorporá-los como recursos que os ajudarão a serem exitosos em suas interações sociais.

Assim, o lar desempenha a nobre função de Escola de Homens, forjando os futuros cidadãos e homens de bem.

c) Consolidação dos avanços sociais

Na família, através das experiências reparadoras vivenciadas pelos seus membros, são consolidados os comportamentos novos que fomentam os avanços sociais e com os quais os filhos se munem para não ficarem alienados ou marginalizados do progresso coletivo.

As experiências exitosas dentro da família tendem a se repetir na sociedade. Filhos criados em clima de liberdade e respeito, no âmbito do qual podem emitir e discutir fraternalmente opiniões, reproduzem socialmente esses padrões de comportamento, fomentando o avanço do meio em que vivem e atuam.

Desta forma, o lar funciona como um laboratório das mudanças e dos avanços sociais.

d) Aprendizado do amor

Esta é a função da família mais posta em relevo nas discussões espíritas. A família é a escola divina onde os Espíritos, como filhos, desde a mais tenra idade, aprendem as lições sublimes do relacionamento com o próximo através de circunstâncias nas quais a compreensão, a desculpa, o compartilhamento, a gratidão e outros são vivenciados de forma natural.

O que determina a composição de nosso grupo familiar não são, somente, as afinidades e reajustes oriundos do pretérito, mas de maneira preponderante, as nossas necessidades de aprendizado e evolução.

Somos convidados, pois, a viver em família com espíritos muitas vezes bastante diferentes de nós mesmos, com pendores, inclinações e necessidades diversas. Convivendo com o desigual, o ser passa a dar mais valor à opinião alheia, ao gosto do outro, ao modo de ser que não são necessariamente os seus.

A vida em família representa a mais completa ferramenta para se combater o egoísmo; pensar no próximo antes de si, cuidar de suas necessidades, velar por quem nem sempre compartilha das mesmas opiniões próprias são apenas alguns exemplos de situações que tendem a diminuir nosso individualismo e deslocar nossas prioridades para o bem estar alheio.

Assim, o lar abriga também uma Escola de Almas, um auxílio precioso para a renovação de que tanto necessitamos.

e) Espaço de reconforto psíquico

A família é, por fim, o espaço de reconforto psíquico, no qual os Espíritos encontram as condições para se recomporem e se fortalecerem para a luta do cotidiano.

O lar representa o ambiente onde o indivíduo haure forças para os desafios de cada dia: na vizinhança, no trânsito, no estudo, no trabalho, nos locais públicos. É na intimidade familiar que falamos e somos compreendidos; opinamos e somos levados a sério; uns velam pelos outros e todos estão comprometidos com o esforço de união, progresso e harmonia. É onde encontramos “os nossos”, a quem pertencemos.

Por tal razão, fala-se do lar como um refúgio, um porto seguro para o indivíduo frente ao tempestuoso mar da vida.

Vemos a família desempenhando, assim, as funções de fortaleza, escola de homens e almas, laboratório e refúgio. Decerto os lares terrestres não possuem todas essa características de forma integral; essa constatação, entretanto, não nos exime de valorizar e defender a família, sob pena de ver nossa sociedade soçobrando ante o egoísmo.

14 de jul. de 2009

Sugestão

Durante muitos anos, eu e meus irmãos usamos o shampoo Aquamarine. Era basicão, tudo de que três meninos precisavam.Tinha uma cor verde meio alga, vinha num vidrão de 500ml, durava uma beleza no banheiro lá de casa.

Depois esse produto foi alterado, diminuíram a quantidade para 400ml, incluíram alguns ingredientes à fórmula para deixar mais incrementado. Subiu o preço e sumiu das prateleiras, ao menos aqui em Manaus.

Desde então, vivo uma eterna peregrinação para encontrar um shampoo decente. Sempre que vou comprar, acho uma infinidade de opções, e nunca sei qual o mais adequado.

Tem shampoo para cabelos secos, ultrassecos, oleosos, com caspa. Se for para mulher, então, as opções crescem exponencialmente. Para cabelos quimicamente tratados, rebeldes, com frizz, com pontas duplas, cabelos cacheados, alisados, tingidos, esticados na chapinha, para quem fez escova japonesa, escova de chocolate, capuccino, etc.

É um tormento. Fico com receio de comprar o errado e algo dar mais errado ainda. Tenho que preservar o que ainda tenho.

Daí a sugestão. Criar um shampoo "para quem não sabe seu tipo de cabelo". Eu ia comprar caixas.

10 de jul. de 2009

Há um ano...

Hoje nosso curumim completa 5 meses. Tá lindão, esperto, com muita energia e um sorriso arrebatador. Nunca imaginei que uma gengiva fosse tão simpática.

Fiquei lembrando que, há cerca de um ano, vivíamos uma enorme expectativa para saber se a gravidez era uma realidade.

Realizáramos o procedimento de implantar os embriões dia primeiro de julho. Em doze dias, faríamos o teste do Beta Hcg para descobrir se eles haviam se fixado ou não na parede do útero.

Lembro que, passados os doze dias, colhemos o sangue. O resultado ficaria pronto no dia seguinte, à tarde.

Para deixar as coisas mais emocionantes, eu estava na época substituindo meu chefe. Daí não sabia se seria possível ir ao laboratório apanhar o laudo.

No dia aprazado, à tarde, tantas eram as ocupações que logo percebi que não daria para fugir um pouco. Assim, aproveitando que um dos motoristas tinha uma missão a cumprir no centro, pedi que retirasse para nós o resultado.

A tarde foi passando, as tarefas se acumulando, e vez por outra o coração disparava, sabendo que logo logo um pedaço de papel traria uma notícia fortíssima, para um lado ou outro. Evitava até ligar para minha esposa, para um não ficar alimentando a ansiedade do outro.

Certa hora, nosso chefão foi até a sala que eu ocupava e começou a dar inúmeros comandos e orientações. Atazanado, eu fazia anotações a torto e a direito, levantava-me apressado para buscar processos, mostrava tarefas já concluídas.

Mal notei que o motorista entrara, discretamente, e deixara sobre a mesa um envelope lacrado.

O chefão ainda permaneceu algum tempo por ali. Depois que ele saiu, ainda fiquei na azáfama de cumprir os prazos e concluir o trabalho por cerca de vinte minutos.

De repente, lembrei! Estava ali, a resposta! Trêmulo, balbuciei mentalmente uma prece, pedindo a Deus fosse realizada Sua vontade. Que, para nossa felicidade, coincidia com a nossa.

O resultado do Beta Hcg não deixava margem a qualquer dúvida. Pedro havia se agarrado, com unhas e dentes, no interior de sua mamãe. Graças a Deus!

29 de jun. de 2009

Criança: argila nas mãos dos pais

Há algum tempo atrás, uma notícia divulgada nos meios de comunicação chocou diversas pessoas: a de que fora encontrada na Rússia uma menina de cinco anos vivendo como um pequeno animal em meio a cães e gatos.

Segundo se divulgou, ela vivia com o pai e os avós paternos em um apartamento, dividia a comida com animais ali viventes e comportava-se tal e qual eles, latindo e correndo pelo imóvel.

Nesse link, uma versão da notícia.

A criança é uma verdadeira argila: será aquilo que os pais fizerem dela. Ou, no caso dessa garotinha, aquilo que os pais deixaram de fazer.

Repare bem numa criança, no quanto ela é observadora. Parece estar sempre atenta a tudo, "filmando" todo o ambiente no qual está.

De maneira inconsciente, ela absorve os exemplos e comportamentos a que está submetida. Está em constante e ininterrupto aprendizado, coletando experiências com seus sentidos e "percebendo" tudo no espaço onde se movimenta.

Depois, ela irá colocar em prática esses modelos de conduta, reproduzindo-os a seu próprio modo.

A pequena russa, assim, ante o desleixo da própria família, fixou seu processo de aprendizado nas criaturas que lhe estavam mais próximas: os cães e gatos.

Sem possibilidade de fazer qualquer juízo de valor, ela simplesmente incorporou ao próprio viver o comportamento que lhe era mais habitual. Daí, o choque que a notícia nos trouxe.

Os pais são os principais professores dos filhos; na ausência deles, outros tomarão o lugar e influenciarão, de maneira decisiva, os rumos que nossas crianças irão tomar.

28 de jun. de 2009

O Descobridor

À medida que cresce, a criança vai se tornando senhora do organismo e passa a melhor comandá-lo.

O primeiro órgão que obedece a criança são os olhos. Ela passa a olhar para a luz, segue objetos em movimento, acompanha com o olhar quem está falando ou quem acabou de entrar no quarto.

Em seguida, ela descobre as mãos. Primeiro fica encarando, maravilhado, aquela pequena bolinha cheia de dedos. Daí manda o braço se mover e se surpreende, ao perceber que ela está na direção.

Daí em diante, manda a mão se encostar em tudo o que lhe chama a atenção. Nem sempre consegue dosar a força, mas aos poucos consegue controlar os movimentos.

Chega a hora dos dedos. Às vezes a criança quer abri-los, mas está tão empolgada e cheia de energia que, ao revés de sua vontade, faz com que eles permaneçam juntos à palma da mão, pressionando-a com força.

Mas, também com muita persistência, descobre o segredo de mantê-los abertos e começa a agarrar tudo, do cabelo da irmão ao brinco da mãe, passando por fraldas, brinquedos, o cinto de segurança do carro, o óculos da tia e os pelos do braço do pai.

Um dos momentos mais lindos que presenciamos do Pedro até agora foi quando uma mão agarrou a outra! Ele ficou se apalpando, olhando admirado para a interação entre os dedos. Apertava com força, como quem treina para agarrar o mundo.

Agora, ele descobriu que pode agarrar coisas e levá-las à boca. E, claro, descobriu que pode ficar chupando seus dedos, por vezes adormece com o polegar entre os lábios.

E, enquanto ele descobre o mundo, nós descobrimos que somos uns babões. Mas com muita alegria!

O Viajor

Sempre que o Pedro é levado para um ambiente aberto, ele instintivamente ergue os olhos e procura o céu.

A par da busca pela luminosidade, um grande fator de atração das crianças recém natas, tendo a entender o fenômeno como uma lembrança da origem mediata das crianças e, por extensão, de todos nós.

A crença que adoto informa sermos viajores da existência, a transitar entre os dois planos da vida atrás do progresso, da elevação, do aprendizado. Por este modo de entender a vida, Pedro é um viajor recém chegado até aqui.

Daí se explica essa constante busca pelo céu, como quem toma um trem e olha, saudoso mas cheio de esperança, para a estação de partida.

A artista Marielza Tiscate captou bem essa situação na música 'Olhar o Céu'.

É tão bom olhar o céu e ver a imensidão.
Ir no pensamento além, saber que a vida é muito, é sempre mais... é mais...
Herdeiro que tu és do infinito azul, pra sempre aprender, amar, servir...
Liberta o coração e voa pra amplidão com fé em Deus e as mãos na Terra.

Tantos choram sem saber que a vida não tem fim.
Abra os braços, solte a voz, declame esse poema de amor... de amor...
E o amor será maior, a esperança a luz e a Terra uma campina, um sonho em cor.
Liberta o coração, liberta o teu irmão e a Terra será livre, um lar, então.
Vais viver com alegria o infinito aqui
Vais viver com alegria o infinito aqui

Quem tiver interesse, pode baixar uma versão da música aqui.

12 de jun. de 2009

A Matemática

Há alguns anos, na inocência da juventude, eu acreditava piamente que, vencidos os desafios do ensino secundário, jamais voltaria a me dedicar à Matemática.

Sendo a disciplina colegial que mais esforço me exigia, acabei por criar uma antipatia por fórmulas, equações, teoremas e tudo o que dissesse respeito a essa ciência. A única coisa de que gostava era a geometria espacial.

Tanta era a prevenção que, ao completar a prova de matemática do vestibular em 1992, exultei, pois jurava que aquela seria a última oportunidade em que "faria continhas". Dali em diante, estudaria apenas aquilo que me desse prazer.

Dos enganos de minha vida, esse talvez tenha sido o mais patético. Não apenas porque estudei muitas coisas chatíssimas (como o indispensável Direito Econômico), mas principalmente porque agora, na condição de pai, tenho de ensinar Matemática à Bellinha...

A gente nunca sabe o dia de amanhã, e estou sendo gentilmente convidado pela Vida a aprender agora o que deixei passar naquela ocasião.

Antes de ser pai, eu já era distraído. :)

10 de jun. de 2009

Preconceito

Cada vez mais me convenço de que admiramos muito as máximas de Jesus, mas não temos coragem de torná-las uma realidade na nossa vida.

Já escutamos muitas e muitas vezes que não devemos julgar, para não sermos julgados, mas continuamos a medir o outro com a régua torta de nossos preconceitos.

Na semana passada, os impositivos profissionais me levaram a visitar uma residência na zona leste, a mais populosa, carente e violenta de nossa cidade. Fui entregar um documento a uma senhora.

Lá chegando, e encontrando o portão meio aberto, entrei, anunciei com quem gostaria de falar e permaneci no pátio aguardando.

Havia um grupo de jovens lá dentro, e não pude deixar de perceber que quase todos usavam tatuagens, tinham os cabelos descoloridos, vestiam apenas bermudas e chinelo, e ostentavam uma postura meio arrogante.

Levando em conta a região geográfica, logo uma ideia começou a se insinuar em minha mente: marginais..., ou galerosos, como se costuma chamar por aqui.

Encostei-me numa parede e aguardei a vinda da pessoa. De súbito, irrompe do fundo das casas um jovem com todas aquelas características, e carregando singelamente uma espingarda. Pequena, mas uma espingarda. Passou por mim e ganhou a rua.

Arregalei os olhos e encostei-me mais ainda no cantinho onde estava. O grupo de jovens logo seguiu o primeiro rapaz.

Aquela ideia inicial avançou um pouco mais. Então os marginais iam praticar algum ato de violência, um assalto, um ajuste de contas. Meu Deus! Aonde fomos parar!

Lembrei-me, então, da senhora que fora visitar. Será que ela sabia daquilo? Quem seriam aqueles jovens para ela? E aí a ideia inicial chegou ao seu ápice. Decerto ela sabia de tudo, pois eles haviam ido buscar a arma na casa dela. Era a mandante ou, no máximo, alguém conivente com o crime!

Estava lá com essas conjecturas (e os olhos quase saltando das órbitas) quando a senhora surgiu, esbaforida, dos fundos da casa. Já veio se desculpando pela demora.

"O senhor me perdoe a demora, mas tenho andado muito atarefada. Sou costureira, e os rapazes aqui do bairro participam do festival folclórico todos os anos. Este ano vamos fazer a dança do cangaço. Estou cansada de tanto trabalhar, mas acho que vai ficar tudo muito lindo!"

Asseguro que foi o sorriso mais amarelo que já sorri.

24 de mai. de 2009

Gratidão

Quando um casal decide trazer mais uma criança a este mundo, a decisão é inteiramente sua - assim como a responsabilidade. É uma questão de escolha.

Entretanto, por ser talvez o empreendimento mais complexo e glorioso da existência humana, o ato de criar um filho nunca é uma experiência isolada. A própria dinâmica das coisas desencadeia um movimento de coordenação, dependência e auxílio, envolvendo inúmeras pessoas, próximas ou distantes ao rebento.

Constatamos, eu e minha família, essa dinâmica durante o nascimento do Pedro. E gostaríamos de agradecer a tantas pessoas que colaboram nesse projeto.

Aos profissionais médicos, Dr. Marco Tulio e Dra. Raquel. Por uma feliz coincidência, professor e aluna. Ele cuidou dos procedimentos de reprodução assistida, ela acompanhou a gravidez e realizou o parto. Ambos compromissados e sérios, mas acima de tudo afetuosos e amigos.

Aos colegas de trabalho (em especial aos chefes), que nos ofertaram compreensão e apoio em todos os momentos.

Aos amigos, irmãos e irmãs do coração que encontramos nas estradas do mundo e que, por um imperativo de afinidade, passaram a ser nossos companheiros de jornada. Como é bom ver a alegria com que recebem o Pedro!

Aos parentes, sempre presentes, constituidores agora da moldura familiar que acolhe nosso curumim.

Aos nossos irmãos, alguns já experimentados nas lides paternas, por apoiarem silenciosamente nossas decisões e torcerem pelo sucesso de nossos planos.

Agradecemos aos avós do Pedro, sábios e benevolentes em suas palavras. Em especial, agradeço a D. Silvana, a maior entusiasta dessa longa caminhada. Ela acompanhou desde o início os esforços para a gravidez se concretizar, ofertando, além de recursos materiais, farta dosagem de amor, apoio e paz. Teve a honra de escoltar o Pedro quando ele finalmente veio para casa.

Enfim, somos gratos a todos os que vibraram pelo êxito dessa etapa de nossas vidas.

Mas faltam agradecimentos, ainda.

A nossa filha, que com paciência e compreensão, após anos de longa espera, ganhou seu maninho querido, gostosamente acolhido em seu quarto.

Ao próprio Pedro, por acreditar em nossa capacidade de amá-lo e direcioná-lo para uma vida sadia e equilibrada, na qual as boas decisões triunfem e a paz encontre lugar.

Finalmente, agradecemos a Deus, por nos julgar dignos de desempenhar tão nobre papel. Obrigado, Senhor.

21 de mai. de 2009

Dicas de filmes - Wall-E


Como você já notaram, tenho uma predileção especial pelos filmes da Pixar. Wall-E é um dos que mais me emocionaram.

Sinopse

No futuro, a humanidade abandonou o planeta Terra. Coberto de lixo e poluição, o globo tornou-se um local inadequado para manter e gerar a vida. A solução é, assim, embarcar todas as pessoas em uma grande espaçonave, deixando na Terra inúmeros robôs que limparão o planeta.

A ideia inicial era retornar assim que as condições estivessem melhores. Para monitorar o estado da Terra, periodicamente robôs seriam enviados ao planeta a fim de identificar a melhora da situação.

No entanto, o plano não funcionou. O tempo passou, o planeta continuou sujo e a humanidade parece ter esquecido de sua terra natal. Confinada em um moderno veículo espacial (a nave Axiom), desfrutando de inúmeras comodidades, a grei humana engordou e passou a viver uma vida sem sentido, em que os relacionamentos são todos virtuais e ninguém parece interessado em fazer algo diferente. E, nisso, 700 anos se passaram.

Na Terra, todos os robôs limpadores deixaram de funcionar. Todos, menos Wall-E. Ele continua com sua rotina de recolher o lixo, compactá-lo e empilhá-lo de forma a construir enormes estruturas, similares a edifícios urbanos.

Mas, além da função para a qual foi projetado, Wall-E desenvolveu uma vida própria. Adestrou uma pequena barata e a transformou em seu animal de estimação; passou a colecionar objetos encontrados em seu cotidiano; transformou um pequeno contêiner em refúgio, no qual guarda suas quinquilharias, protege-se das tempestades e descansa durante a noite.

Wall-E sente-se só. Todas as noites, assiste ao filme "Hello, Dolly", emocionando-se quando vê os personagens darem-se as mãos. Ele anseia pelo contato com alguém.

De súbito, seu desejo se realiza. Eva, uma robô enviada pela Axiom para avaliar as condições do planeta, pousa próxima a seu contêiner. Wall-E logo se apaixona e passa a segui-la. Eva, no entanto, tem uma missão: encontrar algum tipo de vegetação na Terra. Esse é o sinal de que o planeta se recuperou dos danos ambientais e está pronto para receber de volta a população humana.

Eva, desta forma, nenhuma importância dá a Wall-E, que se esforça por se fazer notar, inutilmente, enquanto ela vasculha tudo a seu redor.

Enfim, Eva acaba achando o que procura, retorna para a Axiom e leva, sem saber, um apaixonado robô a reboque. A presença de Wall-E dentro da nave é essencial para que a humanidade retorne à Terra.

Valores do filme

Sem dúvida, a grande lição de Wall-E é a humanidade. O pequeno robô parece o ser mais humano de todo o universo mostrado no filme.

Sua gentileza (quase morre de susto ao ver que atropelou a baratinha), sua timidez (aproxima-se a custo de Eva), sua educação (apresenta-se aos demais robôs da Axiom cumprimentando-os e dizendo o próprio nome) e, principalmente, seu amor por Eva são o que o caracteriza como dotado de uma humanidade linda, poética.

Além disso, ele humaniza a todos com quem se relaciona: Eva ri e se diverte, Mo torna-se amigo, John, Mary e o Comandante McCrea despertam da letargia provocada pela Axiom, até os gigantes Wall-A dão adeusinho quando ele parte. É como que sua figura desajeitada despertasse o que de melhor há nas criaturas.

Outro aspecto interessante, ligado a este primeiro, é o do progresso. Wall-E, no longo período passado a sós na Terra evoluiu, desenvolvendo as características mencionadas acima. Mas , curiosamente, desenvolveu sintomas de humanidade diversos dos demais robôs.

Todos os robôs mostrados tem caracteres humanos. Eva é irritadiça, destrói coisas em virtude do aborrecimento por não cumprir sua missão; Mo tem compulsão por limpeza; Auto é ardiloso e maquiavélico. Wall-E é diferente, é singelo e amoroso, e isso faz a diferença.

Há, ainda, o valor no filme do meio ambiente, do cuidado com nossa casa e das consequências que um estilo de vida consumista e desleixado pode nos proporcionar.

19 de mai. de 2009

Nós, os criminosos

Há alguns anos, novel na Doutrina Espírita, li uma frase de Chico Xavier que me deixou encucado. Não me recordo agora dos termos exatos, mas ele dizia que a diferença entre nós e os criminosos é que estes haviam sido descobertos. Nós, não.

Fiquei pensativo, ora, mas eu não sou criminoso. Formado em Direito, tendo estagiado por quase três anos em varas criminais no fórum de Belo Horizonte, sabia bem a diferença entre quem cometia crimes e quem era "cidadão de bem".

Por outro lado, pensava: mas quem disse isso foi o Chico. Como assim, ele é um criminoso?!

O tempo foi passando e, mais esclarecido, identifiquei algumas situações em que eu era, de fato, alguém que praticava crimes às ocultas.

Bastou eu me lembrar de um computador pessoal que comprara e no qual havia instalado somente programas sem a devida licença. Pirataria pura.

Depois, várias pequenas infrações de trânsito. Crime. Atraso no recolhimento da contribuição previdenciária de nossa secretária doméstica. Culpado.

Daí concluí que eu era, de fato, um criminoso não descoberto. E, à medida em que me encontrava praticando delitos, buscava me corrigir, deixando de transigir nas pequeninas infrações que passavam desconhecidas do grande público.

Essa é uma característica desse tipo de delitos: ninguém sabe. Ninguém nos vê quando avançamos o sinal vermelho, e isso nos dá uma sensação de que não faz mal. Acontece que nossa consciência não nos abandona, e vê tudo. E depois cobra.

Pois bem, eu achei que havia entendido bem a frase. Mas continuava com caraminholas na cabeça: será que era disso que o Chico falava? Mas ele não era um cidadão exemplar, cumpridor de seus deveres? Será que ele praticava essas infrações também?

O tempo continuou a passar e meu conceito de crime foi se alterando. Não pensava mais nas normas criadas pelo homem para disciplinar a vida em sociedade, mas sim refletia sobre as leis eternas e imutáveis do Criador.

Leis que estabelecem apenas um dever: o de amar. Toda a lei está contida no mandamento do amor, disse Jesus. E, quem posterga ou se nega a cumpri-lo, acaba praticando um crime.

Não amar é negar nossa condição humana. Não amar é deixar de realizar nosso potencial. Não amar é se iludir e ter de refazer tudo, dessa vez com amor.

Quem desobedece a uma lei humana e pratica um crime, sujeita-se à pena.

Quem desobedece à lei divina e deixa de amar, também lavra contra si uma condenação: a de ter de amar, se não agora, depois.

Assim, feliz da vida, confirmei que, de fato, somos todos criminosos, pois desperdiçamos as chances diuturnas que temos de amar. Mas o tempo está a nosso favor, e um dia certamente, com esforço e coragem, optaremos pelo amor, sempre.

Mãe e Amor

Homenagem quase tardia às mães (o mês ainda não acabou).

Diz um ditado judaico que, não podendo estar em todos os lugares, Deus então criou as mães.

Há nesse dito uma licença poética, pois a ideia de Deus por si só fala de sua onipresença; o objetivo do provérbio é ressaltar a grandeza do amor materno, tido como expressão mais próximo do amor divino.

Alguns meses atrás, a cidade de Manaus assistiu a uma demonstração desse amor. Uma jovem, por nome Socorro, caminhava em uma movimentada avenida junto a seu filho de 4 anos.

No próximo dia, seria comemorado o aniversário de 5 anos do garoto, e mãe e filho haviam buscado na confeiteira o bolo com que a data seria celebrada.

De súbito, na energia de seus poucos anos, o filho desprendeu-se das mãos maternas e arrojou-se perigosamente na via pública. Um ônibus ameaçador surge, em velocidade inadequada para o local, posto que grande é o número de pedestres ali.

Sem hesitar, a mãe lançou-se atrás do filho, conseguindo empurrá-lo e desviá-lo da rota do coletivo. Seu gesto heroico, entretanto, não a livrou do choque. Socorro faleceu enquanto era atendida pelo serviço de urgência.

Entre as reflexões que realizei nos dias subsequentes ao fato, compreendi que ela deu ao filho, pela segunda vez, a vida. Sacrificou-se, para que ele pudesse viver. Deu o que tinha de mais precioso para permitir que ele seguisse adiante.

A tarefa materna, acredito, representa um intenso programa de atividades que Socorro realizou em poucos segundos.

Qual mãe não sacrifica suas horas de sono para amamentar seu pequeno rebento?

Qual mãe não abre mão de suas horas livres para poder acompanhar de perto o crescimento de seu filho?

Qual mãe não adia a concretização dos próprios sonhos para que os filhos realizem os seus?

Qual mãe não ensina com doçura o que a vida impõe muitas vezes com dor e aflição?

Qual mãe não tem um estoque infinito de paciência?

Qual mãe não deseja, acima de tudo, que os filhos sejam felizes e possam encontrar o próprio caminho?

13 de abr. de 2009

A mão esquerda e a direita

A lição de Jesus contida na expressão "Não saiba vossa mão esquerda o que dê a direita" é um convite à prática do bem sem ostentação. Muitas vezes, sentimo-nos motivados a exercitar a caridade, mas parte dessa motivação vem dos elogios e aplausos que receberemos.

É certo que, neste caso, o bem é feito, mas perdemos o mérito por sua realização. Daí a advertência generosa de Jesus, convidando-nos a fazer o bem de forma anônima, sem propaganda, para que não nos percamos nos meandros da vaidade.

Eu sempre tive dificuldade para aprender essa lição, sempre costumo deixar margem a que outros conheçam as ações benfazejas que porventura pratico. E o ensinamento de Jesus, nesses casos, também é categórico: "(...) já receberam o seu galardão".

Há algum tempo, tive notícia de alguém que praticou a fundo essa lição. Minha madrinha saíra de casa, em Belo Horizonte, e estava na parada do ônibus, cerca de 7 horas da manhã. A próxima lembrança dela, após esse momento, já era no hospital, deitada em um leito, na hora do almoço.

Ela teve um desmaio, e foi socorrida por um bom samaritano. Este nobre indivíduo consultou os documentos dela, identificou o plano de saúde, chamou um táxi para o hospital conveniado mais próximo. Acompanhou-a no veículo, retirou delicadamente da carteira dela para pagar o táxi (tendo o cuidado de deixar o troco) e a apresentou na emergência do hospital. De lá, retornou a sua vida, sem qualquer notícia.

É claro que esse é um comportamento altruísta de grande valor, fazer ao próximo o que gostaria que lhe fosse feito. Mas o fato de permanecer anônimo, na minha opinião, aumenta ainda mais seu mérito.

Eu me coloquei no lugar dele. Poderia fazer tudo como ele fez, mas não resistiria à tentação de deixar meu nome e telefone. Como me conheço, usaria até o pretexto de entrar em contato depois para saber notícias. Tudo para ser incensado...

Bem, não se soube ao certo o que ocorreu com ela naquela manhã, a razão de ter desmaiado. Este fato nunca mais aconteceu, e ela segue bem.

8 de mar. de 2009

Honrar pai e mãe

Eu disse aqui, certa vez, que os filhos devem grande consideração às respectivas mães pelo que elas passam, durante a gravidez, para concretizar um "projeto de gente".

Depois do parto, mudo meus conceitos. Os filhos precisam não apenas respeitar, mas sim venerar seus pais.

Só de pensar em quanto trabalho dei a meus pais, acordando a cada duas ou três horas, sujando uma quantidade incrível de fraldas (e olha que no meu tempo era só fralda de algodão), precisando de um super cuidado na hora de ser carregado, e isso tudo 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem direito a intervalo ou refresco.

Ao contrário de outros animais, que por vezes já nascem prontos para enfrentar os desafios da vida adulta sozinhos, nós humanos precisamos de muito apoio no início de nossas vidas. Muito mesmo. Sem isso, não sobreviveríamos nem à primeira noite. Os pais precisam se dedicar bastante a sua prole, pois são imprescindíveis a orientação, os cuidados e as providências por estes adotadas.

E como a Vida é para lá de sábia, esses mesmos pais que cuidam de nós tornam-se, com o passar do tempo, necessitados de nossa atenção. É como se eles se transformassem nas crianças e nós nos adultos respeitáveis que deles tomam conta.

Esses pensamentos circularam em minha mente um bocado nesta semana. No domingo passado, a imprensa de Manaus publicou reportagens a respeito da Fundação Dr. Thomas, um asilo público aqui existente. No texto, os profissionais responsáveis pela instituição esclarecem a população sobre os critérios de admissão de novos internos.

De maneira muito didática, eles explicam: só são admitidos na Fundação idosos em situação de risco, seja por abandono, maus tratos ou extrema pobreza da família. Tive a impressão que eles estavam prestando esclarecimentos sobre porque negam pedidos para internar idosos. Sempre era enfatizado: enquanto puder permanecer com a família, melhor.

E, infelizmente, deve ser uma realidade da instituição ser procurado por aqueles que querem lá deixar seus idosos, sem maiores preocupações. Se tivéssemos uma memória mais completa, que abrangesse os primeiros dias de vida, ou mesmo um senso de responsabilidade mais apurado, certamente adotaríamos outra solução para o caso.

Solução essa que todos conhecemos, e está nos preceitos religiosos: Honrar pai e honrar mãe. Não fala honrar pai sadio, ou honrar só a mãe que não reclama. Honrar, sempre.

3 de mar. de 2009

Ah, os pais...

Os pais, quando olham o bebê, riem.

Quando ele chora.
Quando ele ri.
Quando ele dorme.
Quando acorda.
Quando faz cara feia.
Quando faz beicinho.
Quando faz xixi.
Quando faz cocô.
Claro, quando solta pum.
Quando arrota.
Quando mama muito.
Quando não quer mamar.
Quando olha fixo para os pais.
Quando olha para lugar nenhum.
Quando chora às três da manhã (e às quatro, às cinco...).
Quando faz xixi na fralda recém trocada.
Quando espirra.
Quando puxa os próprios cabelos.
Quando puxa os cabelos dos pais.
Quando toma sol.
Quando se espreme todo com cólica.
Quando suspira de satisfação após uma mamada intensa.
Quando tem soluço.
Quando mama para curar o soluço.
Quando fica uma gracinha com o body que a tia deu.
Quando perde roupas a galope.
Quando percebem que a fralda acabou.
Quando colocam, pela enésima vez, a meia que o bebê insiste em tirar.
Quando espantam o cachorro, que ainda não conseguiu lamber o bebê.

Enfim, com um bebê, não existe hora em que os pais não riem.

27 de fev. de 2009

Caduquices

Caducar
v. int.
,
fazer-se caduco;
envelhecer;
perder as forças;
deixar de ter valor ou validade;
tornar-se nulo.

Quando cheguei ao Amazonas, há quase 10 anos, estranhei o uso que se faz aqui do verbo caducar. Eu sempre o utilizava em algum dos sentidos acima. Caducar, para mim, era tornar-se decrépito.

Aqui no Norte usa-se caducar em um sentido muito especial. Quando nasce uma criança, e seus pais e parentes ficam com aquele ar meio bobo, babando pela prole, diz-se que estão caducando.

Bem, confesso que estou caduquíssimo. Como disse no post anterior, é muito, muito difícil deixar de ficar olhando para o Pedro. Passamos boa parte do tempo simplesmente admirando suas múltiplas caras e bocas.

Outro dia, enquanto o carregava na garagem, fiquei torcendo para que algum vizinho passasse pela rua e assim eu pudesse mostrar meu troféu, orgulhoso. Vizinhos dos quais nem sei o nome direito, e duvido que saibam o meu.

É incrível como buscamos interpretar os mínimos sinais que ele emite. Uma boca franzida, ele concordou com o que falamos. Um olhar de interrogação, ele está pensando no que foi falado. Cara feia, não gostou da vovó. Tem cara de calminho, vai ser muito tranquilo. Olha como é resignado, quase não chora. E por aí vai.

Todo mundo havia me falado isso antes, e agora tendo a concordar mais do que nunca. É muita emoção. Quando o segurei pela primeira vez, ele ainda estava na UTI. Ver aquele pequeno ser se esforçando para se aproximar mais de mim, como quem se entrega em absoluta confiança, foi dos momentos mais marcantes até então. Ele buscava aconchego, colo, carinho, e ia esticando o pequeno corpo para se aninhar junto a mim.

Pois é, cá estou. Caducando.

9 de jan. de 2009

Livro - Bebê a Bordo


Uma ferramenta interessantíssima que temos utilizado na espera pelo Pedro é o livro "Bebê a Bordo - Guia para curtir a gravidez a dois", de autoria de Flávio Garcia de Oliveira.

O autor é um médico obstetra bastante experiente, que dividiu sua obra em capítulos tratando cada um de uma semana de gestação. Assim, os grávidos vão acompanhando, semana a semana, tudo o que deve estar acontecendo no interior do útero.

O livro tem uma linguagem simples, objetiva e bem agradável, mas sem abrir mão das informações médicas relevantes. O autor apresenta o tamanho aproximado do bebê naquela semana; quais os principais sintomas que a mãe deve estar apresentando; quais os exames necessários; e uma série de outras informações e conselhos úteis.

Além disso, traz orientações para gestações múltiplas e uma série de alertas e dicas para os pais marmanjos, distraídos ou não. Para finalizar, o livro ainda conta com ilustrações bem humoradas.

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7 de jan. de 2009

Dicas de Filmes - A Fantástica Fábrica de Chocolate


Sinopse

Willy Wonka é o excêntrico proprietário de uma fábrica de chocolates. Seus produtos, inventivos e saborosos, alcançam grande popularidade.

O mote condutor do filme é uma promoção realizada por Willy. Ele escondeu 5 cupons dourados nas embalagens do chocolate Wonka. Os felizardos que os encontrarem terão a oportunidade única de conhecerem a fábrica, dela podendo levar todo o chocolate que conseguirem carregar.

Inicia-se, assim, um grande frenesi mundial pelos produtos Wonka. Milhares de barras de chocolate são vendidas em questão de minutos. A mídia realiza uma cobertura maciça, e todos se perguntam: Quem irá ganhar?

Nas imediações da fábrica, vive a humilde família de Charlie Bucket, um garotinho que tanto admira os chocolates Wonka que chegou a construir uma réplica da fábrica usando tampas de dentifrício - obtidas por seu pai no próprio emprego.

Ele divide o lar com os pais e os quatro avós (que dormem juntos na mesma cama) e todos passam por privações. Um dos avôs de Charlie foi empregado da fábrica, e esse fato aumenta o fascínio do garoto por tudo o que diz respeito aos chocolate Wonka.

As dificuldades da família aumentam com o advento da promoção, pois o pai de Charlie acaba por perder o emprego. Em virtude do aumento assombroso do número de cáries provocado pelo consumo desenfreado de chocolate, a indústria onde trabalhava automatizou toda a produção e demitiu vários funcionários.

O frenesi pela promoção atinge a família Bucket, e Charlie consegue tentar a sorte em duas barras de chocolate adquiridas com sacrifício. Mas nenhuma delas estava premiada. Enquanto isso, a TV e os jornais divulgam os nomes dos primeiro quatro ganhadores.

Augustus Gloop, um rechonchudo garoto alemão; Veronica Salt, inglesinha aristocrática; Violet Beauregarde, campeã de caratê e outras modalidades; e Mike Teavee, garoto aficcionado por videogames. Os dois últimos, norte-americanos.

A sorte parece ter abandonado Charlie - os jornais até noticiam que um garoto russo encontrou o último cupom, para depois informar que se tratava de uma falsidade - quando ele se depara com uma nota de dez dólares na rua. Com ela compra uma barra e encontra seu pedacinho dourado de felicidade.

Os ganhadores podem levar um parente para a visita. No dia marcado, todos se surpreendem com a extravagante figura de Willy Wonka (que parece uma criança que cresceu demais) e com as maravilhas da fábrica, na qual os operários são os pequeninos Oompa-Loompas e onde existe até um rio de chocolate.

Com o transcorrer da visita, as crianças começam a se envolver em confusões: Augustus tenta beber o chocolate líquido, cai no rio e fica preso em um duto; Violet prova, apesar de desautorizada, um chiclete experimental e acaba inchando como uma bola violeta gigante; Veronica tenta pegar para si um dos esquilos da fábrica, acaba sendo atacada pelos animais e jogada no lixo; Mike tenta teletransportar-se em um aparelho especial e termina sendo miniaturizado.

À medida que esses incidentes ocorrem, as crianças e os respectivos parentes são afastados da visita. Apenas Charlie e seu avô permanecem acompanhando Willy Wonka. Ao perceber este fato (que apenas uma criança restara), Willy revela o verdadeiro motivo da promoção: que ele procurava, em verdade, um herdeiro, alguém para quem deixar a fábrica.

O filme, baseado em um livro homônimo de Roald Dahl, é muito divertido e ainda tem uma trilha sonora bem peculiar, com as músicas sendo cantadas pelos Oompa-Loompas.

Valores presentes no filme

Família - Certamente, o principal valor do filme, trabalhado em duas perspectivas distintas.

A primeira, na comparação entre as famílias das demais crianças e a família de Charlie. Há uma relação direta entre as situações que as crianças vivenciaram no interior da fábrica com a forma com que foram criadas.

Augustus come de tudo e em quantidade superior às próprias necessidades, sempre com a complacência dos pais. A mãe de Violet sempre a estimulou a competir e a ser melhor que as demais crianças. Já Veronica tem todos os caprichos atendidos, por mais estapafúrdios sejam. E Mike tem pais que ignoram seu potencial e não entendem seus anseios.

O único que parece viver em um lar equilibrado é Charlie; seus pais são humildes e trabalhadores, e esforçam-se por lhe proporcionar exemplos sadios de perseverança e confiança no futuro. Por outro lado, seus avós são carinhosos e o orientam com acerto.

Dessa forma, há um grande mérito na escolha de Charlie como futuro dono da fábrica.

O outro aspecto em que a família é trabalhada no filme diz respeito ao próprio Willy Wonka. Durante o filme, revela-se que ele teve uma relação tumultuada com o pai, dentista que abominava chicletes, doces e chocolates. Ao ser privado dessas produtos na infância, Willy acaba revoltando-se ao descobrir o sabor do açúcar e inicia sua trajetória de confeiteiro de guloseimas.

Ao final do filme, Willy reconcilia-se com o pai e adota a família de Charlie como sua.

5 de jan. de 2009

Dicas de Filmes

Um velho sonho se realiza.

Sou um grande fã de filmes ditos infantis, em especial de animações. Gosto particularmente quando o roteiro é de qualidade e proporciona, além da diversão dentro da sala de exibição, um conteúdo para refletir depois.

Pensando nisso, e aproveitando os momentos livres que antecedem a chegada do Pedro, vou compartilhar meus filmes preferidos. A ideia é apresentar uma pequena sinopse seguida de uma análise, despretensiosa, sobre alguns valores identificados no filme.

Seria mais ou menos como "Um guia de filmes para assistir com seus filhos".

Boa diversão!

Monstros SA

Carros

A Fantástica Fábrica de Chocolate

Dicas de Filmes - Monstros S.A.


Sinopse

O filme trabalha com a perspectiva de duas realidades: a dos humanos e a dos monstros. O lado de "lá" - representado pela cidade em que se desenrola boa parte da ação, Monstrópolis - é bem similar ao nosso, exceto pelos seus habitantes: monstros, com todos os caracteres com que nossa imaginação costuma pintá-los - chifres, dentes afiados, partes do corpo com tamanho desproporcional, pelos, garras, aspecto asqueroso, etc.

Mike e Sully são monstros empregados da firma "Monstros S/A" (Monsters Inc., no original). Sua tarefa é assustar crianças pequenas todas as noites. Assim, quando as crianças gritam, é armazenada uma certa quantidade de energia, vital para a sobrevivência e a comodidade do mundo dos monstros.

O ponto de contato entre os dois mundos é a porta do armário dos quartos de crianças por toda a Terra. É por esse canal que os monstros invadem momentaneamente o mundo humano, assustam as crianças e depois retornam. A empresa mantém um imenso depósito de portas, e as processa por um sistema industrial e automatizado, qual uma linha de produção. É uma verdadeira fábrica, com turnos, gerentes, recepcionista, vestiários, e etc. A Monstros S/A é responsável pela captação e pela posterior distribuição da energia em Monstrópolis.

Os dois monstros formam uma equipe: Sully é quem assusta as crianças, e Mike é seu auxiliar - manuseia o equipamento que controla as portas e armazena a energia. Dividem o mesmo apartamento e são muito amigos. Eles são os recordistas da empresa em quantidade de energia armazenada, e participam dos comerciais da companhia. Mike é o baixinho falante e resmungão, Sully é o grandão pensativo e de grande coração.

Existe a crença, no mundo dos monstros, de que crianças são potenciais transmissores de doenças. Há uma preocupação, por parte dos monstros assustadores, em evitar ao máximo o contato com os infantes e os objetos que fazem parte de seu quarto. Quando um desses objetos é trazido acidentalmente para o mundo dos monstros, há a adoção de medidas profiláticas urgentes e extremas. O órgão responsável por isso é a CDA - Child Detection Agency.

O enredo do filme inicia-se com o ingresso acidental de uma garotinha nas dependências da empresa e, como não poderia deixar de ser, no mundo dos monstros. A princípio, a culpa pelo acidente parecer ser de Sully, que havia retornado à linha de produção fora do horário de expediente, a fim de resolver uma pendência burocrática de Mike. No local, ele nota uma porta fora do depósito e resolve abri-la. É surpreendido então por Boo, uma pequena garotinha que passa a brincar com ele.

A reação de Sully é a de espanto e horror. Ele, que todos os dias assustava dezenas de crianças com seu rugido, foge espavorido do pequeno ser de olhos brilhantes e sorriso maroto que o persegue sem cessar, pois o enxerga como um grande e bonito brinquedo com o qual deseja se divertir.

A partir daí, Mike e Sully passam a experimentar grandes e cômicos sobressaltos a fim de encobrir a presença de Boo em Monstrópolis e para devolvê-la à casa dela. Por fim, eles acabam descobrindo que a presença da garotinha na empresa não fora acidental, mas sim integrava um plano urdido por Waternoose, dono da companhia, em conluio com um dos assustadores, a fim de aumentar a produção de energia por intermédio de tortura infligida a crianças trazidas para esse fim a Monstrópolis.

Durante a convivência com Boo, Sully percebe que o riso das crianças gera muito mais energia que o grito de pavor. Esse detalhe é essencial para o final do filme: uma vez descoberta a trama do diretor, a empresa passa por uma reformulação em seus princípios, e as turmas de assustadores passam a ser de "divertidores". O clima na fábrica também melhora muito, torna-se mais ameno e divertido.

A relação entre Sully e Boo é a principal linha de condução do filme. Inicialmente, ele a repele como quem repele um ser abjeto, e ela, em sua inocência, é toda ternura para com ele. Com o passar do tempo, o monstro vai se afeiçoando à criança, chegando ao final do filme como verdadeiro protetor da criança.

Valores presentes no filme

Aceitação das diferenças - Sully possuía inicialmente um preconceito: crianças são perigosas, transmitem doenças e podem arruinar sua carreira. Afinal de contas, são seres de outra dimensão, desconhecidos e imprevisíveis, e por esta razão, temíveis.

Com o tempo, essa falsa impressão vai se desfazendo, e a afeição real entre Sully e Boo vai se cristalizando. O medo inicial se transforma em curiosidade; depois em surpresa; por fim em amizade e amor.

Esse é um grande ensinamento, não só para as crianças como para os adultos: mesmo quem é diferente de nós, quem pensa e age de modo diverso, quem não se parece conosco merece nosso respeito e nossa consideração. Quando conhecemos melhor alguém, há uma chance maior de nos simpatizarmos e criarmos laços de afeição.

Energia do riso - A convivência com Boo faz Sully perceber que o riso dela produz mais energia do que seu grito de medo. Essa é a chave para a retomada da Monstros S.A. após o escândalo envolvendo o Sr. Waternoose.

Isto nos faz refletir que, em nossa vida, as relações construídas a partir da confiança e do respeito são muito mais sólidas do que as que se baseiam no medo e no temor uns pelos outros. Se isso é verdadeiro quando se fala das relações de modo geral, é particularmente mais válido no âmbito familiar.

Ter autoridade dentro da família não significa ter a obediência cega e incondicional por parte dos filhos e dos demais membros; representa, ao contrário, a necessidade constante de dialogar, respeitar, ouvir e compreender as demais vozes presentes no lar para, somente então, decidir.

Amizade - Por fim, o filme traz uma mensagem de amizade, na medida em que a relação entre Mike e Sully estremece ante as ocorrências, mas se fortalece cada vez mais.

(Nota: este texto foi escrito em 2003, e nele foi baseada uma contribuição feita à Wikipedia, no verbete Monstros SA)

Dicas de Filmes - Carros


Sinopse

A ação de Carros se desenrola em um mundo no qual os veículos - e em especial os carros - são a única forma de vida, ou ao menos a mais importante. O personagem principal, Relâmpago McQueen, é um carro de corrida.

O filme se inicia com a disputa da Copa Pistão. McQueen chega à última etapa empatado em número de pontos com O Rei, veterano das corridas, e com Chick Hicks, um carro que usa de estratégias escusas para alcançar melhores posições. Há uma grande expectativa em torno de McQueen, pois ele é estreante naquele ano, e nunca um estreante conquistara a Copa.

De temperamento difícil, McQueen trocou de chefe de equipe três vezes durante a temporada, e chega à ultima corrida contando apenas com os mecânicos, os quais trata com arrogância e desprezo. A corrida termina com um surpreendente e eletrizante triplo empate, com os três candidatos ao título cruzando a linha de chegada juntos.

A organização da Copa resolve, assim, marcar uma nova corrida dali a uma semana, na Califórnia, apenas com os três carros. McQueen sabe que O Rei irá se aposentar naquele ano, e ele almeja sua vaga na equipe Dinoco, a que conta com melhor estrutura na Copa Pistão. Desta forma, ele convence o caminhão que o transportará até o local, Mack, a viajar dia e noite seguidos, a fim de se preparar melhor.

Mesmo relutante, Mack concorda, e eles partem. Durante o trajeto, entretanto, McQueen acaba saindo acidentalmente do caminhão em um momento em que Mack cochila. Perdido, McQueen acaba tomando, sem saber, a famosa Rota 66, rodovia que perdeu o charme e o movimento de veículos quando a nova Rodovia Interestadual foi inaugurada.

McQueen acaba por chegar a Radiator Springs, pequena cidade esquecida à margem da Rota 66. E acaba preso por excesso de velocidade e por destruir a principal via de Radiator. Colocado em julgamento, é condenado à prestação de serviços comunitários: restaurar a pista por si destruída. Era tudo o que ele menos desejava, pois a reconstrução da pista consumirá os dias que ele pretendia utilizar preparando-se para a corrida e negociando com a Dinoco.

A partir daí, McQueen passa a conviver com os habitantes de Radiator Springs e, com o tempo, muda suas convicções a respeito do que importa na vida. De revoltado e rancoroso passa a resignado e gentil; de concentrado apenas na vitória e no sucesso, passa a atencioso e compreensivo, e é com esse espírito que disputa a corrida final da Copa Pistão.

Valores presentes no filme

Humildade - Creio que é este o principal valor trabalhado pelo filme. O McQueen do início é individualista e orgulhoso, deplora seus patrocinadores e auxiliares. Quando é preso em Radiator Springs, trata os habitantes locais como simplórios e desprovidos de inteligência.

Tal postura acaba por afastar as pessoas de si. É emblemática uma conversa mantida por McQueen com Harv, seu empresário, no início da viagem até a Califórnia. Harv informa que tem 20 ingressos para a última prova, destinados aos amigos de McQueen. Solicitado a nomear os felizardos, McQueen hesita e acaba não nomeando ninguém - porque não tem amigos.

O filme mostra a mudança de McQueen, que passa a valorizar mais o relacionamento com os semelhantes em detrimento das conquistas e da glória.

Solidariedade - O aprendizado que McQueen realiza o torna uma pessoa (vá lá, um carro) mais sensível aos problemas alheios. No final da corrida que decidirá o título, ele vê pelos telões do autódromo que Chick tirou O Rei da pista com uma manobra desleal, ocasionando a este um grave acidente.

McQueen freia abruptamente a poucos metros da linha de chegada, e retorna para auxiliar O Rei. Encosta seu pára-choque no do rival e o empurra até a linha de chegada. Ele, assim, abre mão do título para poder auxiliar alguém.

Cada família tem o Marley que merece

Fomos, a família toda, assistir a Marley e Eu. Tínhamos duas opções caninas, Marley ou Bolt. Ainda bem que conseguimos convencer a Bella a desistir do chamado Supercão.

Nenhum de nós havia lido o livro, mas já intuíamos uma história com final triste. Dito e feito, foi impossível conter as lágrimas. Creio que todos no cinema choraram, pois só ouvíamos fungadas e narizes sendo assoados.

Particularmente, o filme me fez relembrar os cães e cadelas que fizeram parte de meu passado, em especial a Suzete, cadelinha fox que nasceu um mês depois de mim e viveu por 14 anos, e o Tyson, que era o guardião da família amazonense quando cheguei.

Hoje em dia, temos um marley branco e magrelo, o Campeão. Já mencionei em outro post.



Campeão é um dogue alemão de 3 anos e mais de 50 kilos. Nasceu em Parintins e vive conosco desde os 3 meses de idade. É leal e brincalhão, mas às vezes se excede um pouco.

É um excelente cão de guarda, pois tem um latido potente e intimida pelo tamanho. Mas, conosco, é um anjo, e adora lamber qualquer parte de nosso corpo que estiver a seu alcance. Quando chega alguém, a primeira coisa que ele faz é cheirar, sem qualquer pudor, as partes íntimas do visitante.

No primeiro ano, tivemos várias situações como as narradas no filme do Marley. Roupas estraçalhadas, brinquedos destroçados, vasos de plantas revirados, até parte da moldura de gesso da porta ele comeu. Ele tinha uma implicância especial com as roupas de minha esposa: bastava que uma estivesse pendurada no varal que ele a transformava em trapos.

Cachorros não entram dentro de casa, mas de vez em quando ele se aventurava, acho que por pura curiosidade. Certa vez, eu deixara a fatura de meu cartão de crédito sobre a cama. Algum tempo depois, encontrei vestígios dessa fatura no pátio, totalmente destruída. Fui averiguar e descobri as patinhas do criminoso no trajeto. Sem qualquer explicação possível.

Com o tempo ele foi se acalmando e fazendo menos travessuras, mas, ainda hoje, se dermos bobeira, ele apronta. Se o almoço estiver na mesa e ninguém vigiar, ele vai direto na carne e come tudo sem deixar rastros.

Mas, obviamente, há muitos outros momentos de afeição e companheirismo. Numa noite de chuva aqui, as variações de energia fizeram com que o portão da garagem se abrisse sozinho. Não sabemos a que horas isso ocorreu.

Pela manhã, quando abrimos a porta, Campeão nos olhava aflito, alternando o olhar para o portão escancarado. Era como se ele quisesse nos avisar que algo estava errado.

O filme termina com o dono do Marley dizendo que um cachorro te ama independentemente de qualquer coisa, e isso é uma verdade indiscutível. Como em toda boa amizade, às vezes seu amigo faz algo que te desagrada, mas você logo perdoa e segue adiante.

4 de jan. de 2009

A Espera

Todos sabemos, a gravidez é uma espera. O pai espera, distraído, às vezes se surpreendendo com o tamanho da barriga ou com algum outro fenômeno que lhe escapa. Os avós esperam, confiantes, a chegada de mais um neto, em busca do tempo e dos esforços que tenham perdido com os próprios filhos. E a mãe, heróica como sempre, espera com doçura e paciência o desenrolar da vida dentro de si.

Na espera pelo Pedro, uma personagem se destaca: a Isabella.

Ela completou 9 anos em setembro último, e tudo o que ela espera, desde muito, é um irmão. Ela, de fato, tem 4 irmãos por parte de pai, mas só os viu em fotos na casa da avó e pela internet. Eles moram em outra cidade, e é muito pouco provável que venham a conviver algum dia.

Houve uma época em que ela fantasiava com os irmãos, fazia desenhos em que todos brincavam com ela, escrevia os nomes, guardava as datas de aniversário. Obviamente, apenas observávamos, algo compungidos, pois não havia como lhe tolher essa fantasia - embora a soubéssemos quase irrealizável.

O tempo passou, e ela acabou deixando um pouco de lado essa história. Mas não deixou de desejar um irmãozinho, ou melhor, uma irmãzinha, para dela cuidar como se fosse uma boneca.

Hoje, com a vinda do Pedro tornando-se uma realidade cada dia mais presente, ela é a mais ansiosa. Conversa com ele, lê poesia, beija-o constantemente. Dá bom dia, boa noite, tchau quando vai sair. E espera, ardente de uma saudade incrível.

E parece que toda essa torcida está dando certo. Segundo nossa médica, o Pedro está também ansioso para vir, e a previsão é de que ele nasça no final do mês de janeiro.