31 de dez. de 2012

Roberto Carlos e eu

Ninguém me perguntou, mas mesmo assim relato como percebi a presença de Roberto Carlos (RC) em minha vida.

Para um jovem dos anos 90 RC sempre esteve associado à Rede Globo. O único momento em que ele aparecia na mídia era o especial de final de ano. Não tocava nas rádios que eu escutava. Assim, a antipatia que os jovens costumavam ter pela Globo transferia-se automaticamente a ele. Achava as músicas chatas, e o via como mais um instrumento global de alienação popular. Por isso, nutria espontaneamente uma certa má vontade por tudo o que se relacionasse com ele.

Em 2000, estava morando em Manaus. E passava por uma crise, pois não conseguia me adaptar à cidade e queria a todo custo voltar a BH. Embora fosse um momento nebuloso, de lucidez embotada pela tristeza, creio que de maneira inconsciente fui guiado a refletir sobre minha própria identidade. Sempre gosto de lembrar que essa crise me levou ao Espiritismo - o que me tornou grato para sempre a ela.

Assim, em um dos aspectos dessa busca, fui tomado pela curiosidade de saber quais eram as músicas que tocavam na época em que nasci, em fins de 1974. Terminei por comprar o cd (na época LP) lançado por RC naquele ano. De camisa azul aberta, longos cabelos, o sempre presente medalhão, lá estava Roberto. E quando comecei a ouvir, fui levado por um sentimento de melancolia e nostalgia, pois uma das músicas era "O Portão", que falava exatamente do que eu estava experimentando: saudade de casa, inadaptação, vontade de ser acolhido.

Se isso não ajudou a resolver o retorno a BH, ao menos me sensibilizou para poder chorar de saudades, abrindo as comportas das lágrimas. Percebi que não era errado, ou inadequado, sentir falta de um lugar e de suas pessoas. E que isso fazia parte de minha identidade. Escutar aquela música representou uma grande libertação, uma catarse emocional. E me fez muito bem.

Depois disso fiquei interessado pela obra do RC. As demais músicas do LP de 1974 eram sensacionais. Comecei a perceber que muitas músicas que faziam parte de minhas vivências eram do RC. Músicas que outros artistas gravaram posteriormente e cuja autoria eu desconhecia. Como "É preciso saber viver", daquele mesmo LP, que eu só conhecia (e adorava) na versão dos Titãs. Até a música  que o papagaio de meu avô cantava, "Jesus Cristo, eu estou aqui", era dele.

Consegui comprar a biografia "Roberto Carlos em detalhes" antes da proibição judicial. E foi essa leitura que me fez descobrir a riqueza e o valor do Roberto. Tornei-me um fã e admirador a partir do texto que, ironicamente, não agradou a RC, tanto que sua distribuição foi vetada a partir de uma ação proposta por ele.

Hoje concordo com o título de "Rei" dado a ele. É um artista e tanto - seu trabalho tornou e torna nossa vida mais feliz e esperançosa.

24 de dez. de 2012

Feliz Natal

"Feliz Natal", é o que mais se expressa nessa época do ano. Formulamos esse desejo, essa intenção, a torto e a direito. Chega a ser um pouco banal. Desejamos feliz natal pra moça da padaria, para o atendente do telemarketing, nas gravações da secretaria eletrônica. E, obviamente, para aquelas pessoas mais próximas e especiais.

Natal é relativo ao tempo ou ao lugar de nascimento. Natural, nato, natalício são parentes dessa palavrinha. Culturalmente, estamos celebrando o nascimento de Jesus - é a data aceita pela tradição como sendo a relativa aos acontecimentos narrados nos Evangelhos. A anunciação a Maria, a viagem até Belém, o nascimento na manjedoura.

Então - e ninguém precisava ler essa explicação tosca, mas eu a apresento assim mesmo - o nascimento feliz referido pela nossa saudação é o de Jesus. O natal de Jesus se tornou um evento, em geral celebrado na companhia de familiares e com um cardápio diferenciado. Famílias e agrupamentos cultivam tradições, gastronômicas e sentimentais, levadas a cabo nesses dias.

No entanto, a proximidade dos festejos natalinos com o final do ano agrega um valor diferenciado a essa celebração. Precisamos dessa ideia de ciclos iniciando e terminando, daí esses são dias em que planejamos novas realizações, avaliamos o que foi feito e buscamos novas energias e disposição para, literalmente, começar tudo de novo.

E, pensando em uma interpretação um pouco diferente da usual, a expressão "feliz natal" tem tudo a ver com esse momento. Quando falo "feliz natal" para o jornaleiro, penso eu, estou desejando a ele um novo nascimento, um novo recomeço e, além disto,  um nascimento feliz, pleno, exitoso.

Eu sou cristão. E não estou esvaziando o sentido do Natal, atribuindo a ele um significado próximo do "próspero ano novo" (outra expressão banalizada). Por mais felicidade que desejemos agregar ao destino alheio, está fora de nossas possibilidades isentar a criatura de sofrimentos, decepções e agruras. Faz parte de nossa condição a adversidade, a tristeza, o amargor.

E é na mensagem de Jesus, no relato de sua trajetória de fraternidade plena, de comunhão integral com o Pai Divino, de aceitação resignada e confiante das provas da vida, que retiramos a força e a energia necessárias para nossas lutas diárias. Que exemplo maior de amor ao semelhante, de esperança no futuro, de simplicidade e de beleza na conduta podemos encontrar?

Que a vida renasça em ti bela e feliz. Que encontres força e motivação para cumprir teus compromissos, aceitar teus desafios e seguir adiante, integrado ao amor de Deus. É o que te desejo com o meu "Feliz Natal"!

16 de set. de 2012

Cartas Para Julieta

Eu e France sempre escolhemos de comum acordo os filmes a que assistimos no cinema. Há gêneros que obviamente não passam pela pré-qualificação: terror, violência, comédias cínicas, entre outros.

Quanto aos demais, certamente há os que mais me agradam, e ela tolera, e vice versa. Assim, ela assiste a minhas animações e aos filmes de aventura, e eu a acompanho nas comédias românticas. Costumamos brincar que vamos acumulando créditos quando assistimos a um filme que agrada ao outro, e depois os compensamos.

Um dos filmes da cota dela a que assistimos foi "Cartas Para Julieta". Na história, um casal de noivos viaja à Itália, na região da Toscana. O rapaz é um cozinheiro em busca contatos com fornecedores para seu restaurante prestes a ser inaugurado em Nova York. A moça é jornalista e aspirante a escritora, e espera que seja uma viagem romântica.

Em Verona, eles encontram uma antiga tradição inspirada na história de 'Romeu e Julieta': numa espécie de 'muro das lamentações amorosas', diversos bilhetes e cartas são deixados, todos endereçados à integrante da família dos Capuleto e contendo indagações, pedidos de conselhos, dúvidas, desabafos, e etc.

Um grupo de senhoras, intituladas 'secretárias de Julieta', e funcionárias da prefeitura local, recolhe as mensagens e as responde, em nome de Julieta. A protagonista da história, Sophie, encanta-se com a tradição, à medida em que seu noivo gradativamente dela se afasta, pois está mais interessado na culinária italiana. A ideia do romantismo na viagem aos poucos esmorece. 

Ao vasculhar o muro onde são afixadas as cartas para Julieta, Sophie acaba encontrando uma carta ali deixada há mais de 50 anos. Ao ler a missiva, encanta-se com a narrativa de Claire, uma jovem inglesa que se apaixona perdidamente por Lorenzo, um morador de Siena. Na carta, Claire pergunta a Julieta o que fazer, pois está apaixonada mas precisa retornar a Londres e sabe que seus pais não aprovariam o relacionamento com o jovem italiano.

Confiante de que o amor nunca termina, Sophie responde à carta de Claire, incentivando-a a correr atrás de seu amor.

Claire, ainda morando na Inglaterra, acaba por receber a resposta escrita por Sophie e anima-se a voltar à Itália e procurar por Lorenzo. Sophie acaba se juntando a ela nessa busca, e ambas, na tradição das comédias românticas, encontram seus amores - e não estou falando do noivo cozinheiro.

Quase toda comédia romântica é previsível, e essa não é exceção. Mas ainda assim a gente se deixa levar pelo enredo, torce pelo 'felizes para sempre' e se diverte. E ainda escuta uma trilha sonora bacana e se deslumbra com as belas paisagens da Toscana.

24 de fev. de 2012

Na Clínica

Esposa: Alô?
Marido: Oi, amor! Já estou aqui na clínica da prefeitura, para fazer a castração de nossa cadelinha.
Esposa: Que bom. Está muito cheio aí?
Marido: Não, tem duas gatas na nossa frente, e depois mais três gatinhas na fila.
Esposa: [silêncio mortal]
Marido: Alô?
Esposa: De que tipo de gata você está falando?
Marido: Hein? Como assim? Ah, entendi. [rindo]. São gatinhas, animais, daquelas que fazem miau.
Esposa: Então tá certo.
Marido: [bancando o engraçadinho] Mas agora que você comentou passei a prestar atenção, as donas das gatinhas não deixam nada a dever a elas...
Esposa: [outro silêncio mortal]
Marido: Alô?
Esposa: Aproveita que você está aí e pede para te castrarem também. [desliga]
Marido: Alô? Alô?

[Baseado em fatos reais]


8 de fev. de 2012

Aventura no Alto Solimões

Há alguns anos acompanhei uma equipe da FUNAI até Atalaia do Norte para negociar a desocupação da sede da administração regional. Um grupo de indígenas, insatisfeito com o administrador, ocupou as dependências do imóvel exigindo a substituição do chefe. Veio de Brasília, assim, uma delegação, composta pelo diretor da área, uma assessora - que era uma índia nascida em Roraima e que concluíra um curso superior na capital federal - e um senhor que era uma espécie de segurança e informante.

Fomos de avião até Tabatinga, onde Davi Ticuna, Administrador da FUNAI nesta cidade, nos recebeu. Tudo isso aconteceu há 7 anos, e um dos poucos nomes que guardei foi o dele. Davi é uma pessoa muito simpática, e foi nosso cicerone na expedição. Chegamos já de tarde, e tínhamos de nos deslocar até Atalaia. Davi alugara uma potente lancha de 200 hp e lá fomos nós pelos furos do Rio Javari.

Chegamos e nos instalamos num hotel muito, muito singelo - quem conhece o interior do Amazonas faz ideia. Dividi o quarto com o Davi. A primeira providência foi ir direto à sede ocupada. É um imóvel bem próximo ao porto, e um grupo de indígenas ordeiro e simpático ocupara o pátio e a garagem. Havia índios marubos e matis, e muitos não falavam português. Alguns matis traziam uma espécie de bigode feito de pequenos palitos enfiados na bochecha, imitando uma onça. O interior da administração estava sendo preservado, não havia ninguém lá dentro.

Já se sabia que os líderes da ocupação não se encontravam lá, mas o diretor quis passar no imóvel para informar que havia chegado e as negociações iriam começar. Segundo os invasores, o administrador da época era ligado ao grupo político do prefeito, e havia denúncias de desvio de madeira apreendida e de uso dos recursos da FUNAI para favorecer tal grupo.

Não era a primeira vez que tais invasões aconteciam, elas eram a forma de os indígenas organizados se manifestarem, principalmente contra os administradores regionais. Era uma negociação difícil, pois eles impunham suas condições - normalmente a nomeação de um indígena ou de alguém de sua confiança para ocupar o cargo - e era muito complicado obter algum tipo de transigência.

No caso de Atalaia a ocupação fora pacífica, e os servidores simplesmente saíram, deixando a administração na mão dos índios que, como dito, preservaram o imóvel e se limitaram a ficar do lado de fora.

Em seguida fomos à sede do Conselho Indígena local, onde estavam os líderes. Já estava de noite, e eles estavam exaltados. Pareciam embriagados, e enumeravam os desmandos do administrador. O chefe da delegação, acostumado com essas negociações, escutava a todos e pontuava o mínimo possível o "diálogo". Os indígenas indicaram o nome de outro servidor da FUNAI para ocupar a administração. Ele, não indígena, estava lá, e era um dos mais exaltados (e também parecia embriagado). Aparentemente, era uma opção com a qual a direção da FUNAI não contava.

Depois de muito ouvir, o diretor começou a apresentar sua proposta: o primeiro passo para a negociação era a desocupação do imóvel e a retomada das atividades administrativas. Depois disso se discutiriam os possíveis nomes, dentre os quais o do atual administrador. Ou seja, anunciava-se a possibilidade de tudo continuar como antes.

Foi como jogar gasolina na fogueira. Os indígenas gritavam, encolerizados, e praticamente nos expulsaram da sede do Conselho. Voltamos caminhando para o hotel, e no caminho jantamos num churrasquinho, desses que ficam na rua. Estavam todos apreensivos, pois tínhamos passagem marcada para retorno dali a dois dias, e a solução do impasse parecia distante.

No quarto do hotel, Davi me comunicou que iria agir sozinho para tentar resolver a situação. Disse que seria necessária muita conversa, mas que tudo poderia se resolver. E me convidou a acompanhá-lo nessa missão.

Acordamos no outro dia às 5 da manhã e fomos à sede ocupada, ainda no escuro. Os índios já estavam todos acordados e se encaminhando para o banho. Havia uma fila deles na porta do banheiro. Fiquei maravilhado com a cena, e percebi de onde vem esse nosso hábito, que muito aprecio - tomar banho assim que acordar.

Davi foi logo confraternizando e conversando com todos. Mesmo sem querer, eu acabava chamando a atenção, em virtude da altura e, principalmente, da quantidade de pelos no corpo. Havia crianças indígenas que me cercavam e não paravam de olhar, espantadas, para meus braços e mãos.

Um dos índios veio falar comigo. Era o Branco, pois tinha a pele dessa cor. Com a ajuda de Davi, nos comunicamos. Ele informou que um de seus filhos havia ido morar em Manaus, e me perguntava, candidamente, se eu tinha notícias dele. Talvez ele pensasse que Manaus fosse do tamanho de Atalaia, e fosse fácil saber da vida de todos. Até hoje não esqueço do olhar do Branco, cheio de esperança de uma notícia sobre o filho.

Dali começamos uma longa peregrinação pela cidade, para conversar não com os líderes, mas com os pais deles. Davi os conhecia, e era essa sua estratégia. Conseguimos encontrá-los, mas não pude participar da conversa. Sempre tinha de ficar à parte, enquanto o Davi falava e falava.

Terminamos a tempo de encontrar o resto da delegação saindo do hotel, lá pelo meio da manhã. Voltamos à sede ocupada e entramos na sala do administrador. O diretor então marcou uma reunião para o começo da tarde, com a participação dos líderes da ocupação.

Na hora marcada, todos chegaram e o ambiente estava carregado. Resumo: após muita conversa, nem um nem outro - as partes concordaram com a assunção de um terceiro servidor da área, também não indígena, contra quem ninguém tinha nada. O atual administrador seria exonerado e o indicado pelos índios tinha proposta de outra área da FUNAI. Foi um alívio. Tenho certeza que esse desfecho só foi possível com a articulação do Davi, cujo trabalho permaneceu desconhecido da delegação.

Deixamos Atalaia e voltamos a Tabatinga. Na manhã seguinte, fomos com o Davi visitar e inaugurar um posto da FUNAI numa comunidade no Solimões. A aldeia era todo arrumadinha, com energia elétrica e uma boa estrutura. Mais uma vez, e completamente sem querer, chamei bastante a atenção. Se eu tivesse vendido os pelos do meu braço como souvenir teria ficado rico.

Foi realizada uma cerimônia de inauguração do posto - que na verdade havia sido reformado. Discurso com tradução simultânea para a comunidade indígena que ouvia, atenta. Discurso do Davi, do diretor, da assessora e claro, por que não, desse rapaz alto do "governo federal" acompanhando a comitiva. Ganhei de presente um colar de madeira, com diversos bichos entalhados, e uma tela de palha com uma pintura muito bonita.

Depois do discurso, um almoço para todos, uma grande comilança. A cada minuto lançavam um bodó assado na minha frente e fui comendo. Serviam vinho de açaí e sucos diversos. De repente, serviram uma grande posta assada, que parecia um pirarucu. Mas descobri que era jacaré, e estava delicioso.

À tarde retornamos para Manaus, findando essa aventura no Alto Solimões.

27 de jan. de 2012

Haitianos em Manaus

Os haitianos continuam a chegar ao Amazonas, e a situação, divulgada de maneira mais intensa pelos meios de comunicação, começa a despertar reações diversas. Uns ajudam, outros criticam.

Quem está com a 'mão na massa' desde o começo é a Igreja Católica e sua Pastoral do Migrante, pouco se importando com o fato de que a grande maioria dos haitianos é evangélica. É fazer o bem sem olhar a quem. Outras denominações cristãs tem ajudado, bem como setores da sociedade civil e cidadãos anônimos. 4 mil haitianos já foram acolhidos e estão em processo de se estabelecerem por aqui.

Há quem se incomode. O argumento central dessa turma é o receio de que os haitianos roubem o emprego e as oportunidades dos amazonenses, e ainda a perspectiva de que novas e novas levas de refugiados aportem por aqui.

Em favor daqueles que acolhem, poderia argumentar que a ajuda aos haitianos é um gesto humanitário, de auxílio a quem vivia em um dos países mais miseráveis do mundo e perdeu tudo quando do terremoto de 2010 e agora enceta uma viagem perigosíssima em busca de uma chance de recomeçar.

Poderia lembrar, ainda, que a ajuda dada a eles é temporária, apenas até o momento em que eles estejam estabilizados. Logo que conseguem emprego, eles se reúnem para alugar um imóvel em comum e viver como numa república. Eles tem dignidade, não querem ser um peso a ninguém.

Poderia, também, dizer que eles vem para trabalhar, e trabalhando geram riqueza. O salário que recebem é em contrapartida a um serviço que prestam, serviço esse que movimenta a economia amazonense e que será desfrutado por todos nós amanhã: o imóvel que ajudam a construir, o aparelho eletrônico que ajudam a montar, etc, etc, etc.

Mas o principal argumento que encontro em favor do auxílio é minha própria história. Também sou um migrante. Assim como os, haitianos, deixei minha terra natal em busca de novas oportunidades, as quais jamais me foram negadas aqui no Amazonas.

Em 1999, fiz um concurso público que oferecia vagas no Brasil inteiro. Minha classificação não me permitiu ficar em Belo Horizonte. Vim, assim, para Manaus, e fui muito bem acolhido aqui. Nunca me acusaram de estar tirando o emprego de um amazonense. Nunca olharam atravessado para mim porque sou de fora. Nunca me pediram para que eu voltasse para Minas porque estava sobrando aqui. Muitíssimo pelo contrário.

O povo amazonense me recebeu de braços abertos, e me senti tão bem aqui que resolvi ficar. De migrante tornei-me habitante, e não tenho planos se sair, pois percebo que aqui está a oportunidade da minha vida.

Inesquecível o dia em que comi o jaraqui pela primeira vez. Foi no Panela Cheia, aqui no Dom Pedro. Hoje não é meu peixe preferido, mas sempre terá um sabor especial: sabor da decisão de aqui viver e ser feliz. E essa decisão jamais seria tomada sem o carinho e o acolhimento do povo dessa terra.

8 de jan. de 2012

Na Ermida

Ermida, dizem os dicionários, é uma pequena igreja situada fora do povoado, em local ermo.

Em Divinópolis, Minas Gerais, há um distrito chamado Ermida, onde vive Seu Antônio Chaves. Ele completou 80 anos com saúde e bom humor, à frente de numerosa família. 

Coração generoso, Seu Antônio é embaixador da paz onde quer que se encontre. Apaziguar, conciliar, reatar, entender, perdoar e aceitar são alguns de seus verbos preferidos.

Pai amoroso, é capaz de arroubos para proteger e encaminhar seus descendentes. Nunca perde uma oportunidade de esclarecer e orientar.

Amigo valoroso, constrói em torno de si uma rede de fraternidade e apoio. É um pólo irradiador de otimismo e confiança a todos os que o procuram em busca de apoio, material ou espiritual.

Homem virtuoso, muitas vezes se encolheu de propósito para ressaltar o bem que há nos outros. Seu Antônio tem o dom de perceber de imediato o que há no coração das pessoas, alegrando-se quando lá encontra boas disposições, semelhantes às próprias.

Uma de suas características mais marcantes é a fé. Católico, sua vida está impregnada do perfume de amor presente nas narrativas do Evangelho de Jesus.

Como bom cristão, sabe que nossa caminhada na Terra passa por alguns vales de lágrimas, onde ouvimos, e às vezes experimentamos, choro e ranger de dentes.

Como bom cristão, sabe contudo que a esperança e a bondade são as ferramentas do devoto sincero, manejando-as com a confiança dos exemplos que encontra em sua igreja.

Muito há o que falar de Seu Antônio, e sempre temos de mencionar Dona Alice. Ela o cativou na juventude, e hoje nos conquista dia a dia com seu sorriso doce, seu abraço afetuoso e seu coração sem limites.

Juntos, Antônio e Alice vêm construindo uma família comprometida com o que há de melhor no mundo, a começar pelo intenso amor que seus integrantes nutrem uns pelos outros. São um exemplo de união, fraternidade e zelo.

Como bom cristão, Seu Antônio sabe que as bem aventuranças prometidas por Jesus serão fruídas mais tarde, e que nosso papel é trabalhar no dia de hoje, ofertando o melhor de si enquanto aguarda a recompensa futura.

No entanto, por compreender como poucos o valor do esforço, da renúncia e do amor, Seu Antônio faz por merecer a paz que hoje desfruta, na Ermida em que vive, ao lado daqueles que ama.

Felicidades, Seu Antônio! Que as bênçãos dos céus continuem a descer sobre o senhor, hoje e sempre!