30 de nov. de 2009

Sem medo do mundo

A gente sempre aprende com as crianças; em especial, quando elas aprendem com o mundo.

A criança não tem medo do mundo; acha que tudo ali em volta dela existe para ela, está a sua disposição para que ela experimente, aproveite, e viva, de maneira plena.

Por isso, ela se joga para a frente, querendo andar, desconhecendo por completo a lei da gravidade; tenta pegar tudo o que está ao alcance dos braços, sem se importar se corta, espeta ou dá choque.

Lembro que, certa vez, Isabella encontrou uma bolinha de naftalina e não titubeou: colocou na boca achando que era um Mentos. Depois sentiu o gosto ruim e cuspiu.

Com o tempo, e com a ação educativa dos pais, ela aprende aos poucos seus limites, e descobre, mesmo que com o dedo queimado ou o joelho ralado, o que pode e não pode, o que deve e não deve.

Mas o problema é que ficamos com muito medo do mundo, a partir do momento em que descobrimos nossas limitações. Não posso, não devo, não, de maneira geral, acaba se internalizando e virando uma norma implícita de conduta.

Creio que muitas de nossas inseguranças nascem nesse período. Tememos tanto o mundo que adotamos quase sempre uma postura defensiva, protegendo nossos interesses e se arriscando apenas de forma calculada.

Hoje, vejo que as crianças estão certas.

O mundo é nosso, foi criado por Deus para nossa morada, e nosso instrumento de progresso. Por que se amedrontar ante a própria casa?

O risco maior de nossa existência é o de não se arriscar, deixar as oportunidades passarem, por puro medo.

Temos pernas para andar, mãos para segurar, olhos para ver, boca para falar. Sem ação e esforço, não há crescimento, aprendizado. Membros e funções não utilizados, atrofiam e murcham. E o tempo passa.

As crianças têm razão por serem corajosas.

9 de nov. de 2009

Mais aprendizado

Dizem que o autoconhecimento é a chave do progresso individual. Saber quem somos, quais nossas potencialidades e limitações, auxilia-nos a decidir melhor os rumos de nossa vida.

Estou descobrindo que, para se conhecer, nada melhor que conhecer os próprios filhos.

Nossas crianças copiam nosso comportamento. É algo inconsciente, que eles realizam como uma necessidade. Sem perceberem, eles nos observam e dissecam, e depois replicam o que viram. Adotam como seus os modelos comportamentais que lhes oferecemos.

Assim, se quer saber quem você é, observe seus filhos. Eles te copiam. E aqueles comportamentos deles que mais te incomodam, com certeza absoluta são teus também. É por isso que eles te incomodam tanto.

Você quer se livrar deles em si próprio, e acaba incomodado com o que teus filhos fazem.

Não tem como fugirmos de nós mesmos. Ainda que replicados nos infantes.

Aprendizado

Estar em uma família é estar aprendendo, o tempo todo. Mesmo que não se queira.

É claro que não se fala aqui de aprendizado formal, de disciplinas ou matérias. É aprendizado de comportamento, de posturas, de hábitos.

Ao se formar um casal, os indivíduos se adequam ao jeito do outro, harmonizando seus quereres e tendências. Em geral, como essas tendências e gostos foram um fator de afinidade e aproximação, fica fácil estabelecer uma vida em comum harmônica.

No entanto, quando surgem os filhos, tudo muda. Os cuidados e esforços exigidos para o bem estar das crianças literalmente invadem a esfera de vida, já estabilizada, que os pais construíram para si. Uma reacomodação de vontades, espaços e prioridades torna-se indispensável.

A rotina altera-se completamente. Os hábitos cristalizados do grupo são alterados. Inevitavelmente, programas e costumes serão abandonados ou adiados. O foco da família desloca-se do par para a prole. Até porque, se os filhos não estiverem bem, os pais também não estarão.

E é difícil passar por isso. Resiste-se a essa quebra da rotina, sem sucesso. Vejo que talvez muitas uniões não tenham sucesso por conta da inacapacidade dos pais em enfrentar a mudança. Rebelamo-nos contra esse processo natural, queremos enquadrar a realidade aos nossos interesses, sem resultado.

Por imaturidade, esperamos que tudo volte como era antes, com nossa liberdade. Apenas nos esquecemos que, com nosso livre arbítrio, permitimos felizes o ingresso de outros indivíduos em nosso círculo existencial.

Indivíduos que surgem, no início, completamente dependentes de nossos cuidados, atenção e amor. Seres que se entregaram, literalmente, a nossos braços, confiantes em nossa capacidade de amá-los e de direcioná-los para uma vida sadia e feliz. E como é bom ser o agente dessa direção!

Se queres mudança, constitua uma família. Se não queres, lembra-te de que, sem mudança, a vida não progride, não anda para a frente. É como se o mundo não girasse.

Estar em uma família é estar aprendendo, o tempo todo. Mesmo que não se queira.