23 de out. de 2006

A felicidade é uma pizza

A felicidade é um estado de espírito. Sentir-se feliz é uma opção íntima do indivíduo, e não o resultado de fatores externos.

Encontrar a felicidade é encontrar o equilíbrio interno, que se traduz em um sentimento de plenitude, gratidão e resignação ante a vida e ante os necessários sacrifícios e bênçãos que dela fazem parte.

A procura da felicidade dialoga-se, e muito, com os nossos mecanismos de interação com o mundo. Por exemplo, o olhar que lançarmos ao mundo, e tudo o que colhermos nesse ato, determina aquilo que enxergamos, para o bem e para o mal. Determina, também, nossa condição de felizes ou não.

Nossos valores, princípios e crenças estão presentes em todos nossos gestos, intenções e pensamentos, por menores ou mais ínfimos que estes possam nos parecer. Da mesma maneira como André Luiz afirma que nós nos transformamos naquilo que amamos, podemos dizer que enxergamos aquilo que desejamos.

Esses elementos - valores, princípios e crenças - são os filtros pelos quais enxergamos o mundo. Todos os possuímos, sem exceção, e nossa visão do mundo, o modo como o compreendemos, encontra-se necessariamente deles dependente.

Tomemos como exemplo uma pizza sendo admirada por uma assembléia.

Objetivamente considerada, ela é a mesma para todos os observadores: uma porção de massa assada, composta de farinha, ovos, leite e fermento, coberta por vários ingredientes previamente elaborados, entre os quais encontramos queijo, massa de tomate, orégano, e etc.

Todos sem exceção vêem a pizza, mas cada um enxerga aquilo que melhor se afiniza com suas crenças.

Os gulosos lambem os lábios e imaginam o momento sublime em que irão saboreá-la, curtindo todos os ingredientes e ansiando por mais um pedaço.

Os enfastiados a rejeitam em pensamento, localizando a mente na lembrança de outras iguarias que melhor lhes satisfaçam as vontades.

Os sovinas de imediato calculam-lhe o valor, agregando os custos da entrega em domicílio e dos ingredientes opcionais, como o catupiry.

Os práticos olham em redor e contam o número de companheiros presentes, fazendo cálculos numéricos para saber se aquela pizza é suficiente para alimentar a todos, mas pensam primeiro no próprio pedaço .

A felicidade, para estes, pode até se resumir em um suculento pedaço de pizza, mas está longe, muito longe deles.

Ao revés, o indivíduo que se alimenta de crenças sadias, que não lhe limitam a compreensão do mundo, enxerga coisa completamente diversa.

Pode ele enxergar na pizza a oportunidade de confraternizar com seus semelhantes, entabulando conversação honesta e instrutiva.

Pode também ele dirigir a mente para todos aqueles que, no momento, não dispõem sequer de um disco de pizza para alimentar sua família, rogando em seguida a Deus lhes conceda força e resignação para a vitória sobre os desafios da vida.

Pode este indivíduo, ainda, ver na pizza uma síntese da ação inteligente do homem sobre os recursos da natureza - um reflexo do que pode a humanidade fazer de positivo com os potenciais que Deus lhe coloca à disposição.

Enfim, cada qual enxergará na pizza aquilo que já traz dentro de si mesmo: a fome, a gula, o egoísmo, ou a renúncia, o amor, a gratidão a Deus.

Para concluir, nada melhor do que lembrar da lição de Emmanuel em "Oração Nossa", em psicografia de Chico Xavier:

Senhor, auxilia-nos sobretudo a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir Seus desígnios, onde e como queiras, hoje, agora e sempre.

6 de out. de 2006

Reencarnações

Há alguns anos, o jornal Mundo Espírita, editado pela Federação Espírita do Paraná, publicou uma série de perfis de Espíritos que colaboraram na Codificação realizada por Allan Kardec.

A série de biografias, intitulada "Expoentes - Os Espíritos que colaboraram na Codificação", trazia um breve resumo sobre as entidades que ditaram respostas a Kardec e escreveram textos constantes, hoje, das obras básicas do Espiritismo. A redação dos perfis era realizada com base em obras espíritas e também obras de referência - dicionários e enciclopédias - e contemplava as informações disponíveis sobre o autor espiritual, em especial a respeito de suas reencarnações.

O Espírito Emmanuel, ganhou, assim, o seu perfil , por conta da mensagem "O Egoísmo", inserta em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XI. Podemos supor que o mentor de Chico Xavier tenha colaborado com outros textos da Codificação, que permanecem anônimos.

Apenas por curiosidade, Joanna de Ângelis também participou dessa ilustre equipe espiritual. São de sua autoria as mensagens "A Paciência" (capítulo IX, item 7) e "Dar-se-á Àquele que tem" (capítulo XVIII, itens 13 e 15), ambas assinadas como Um Espírito Amigo.


O texto biográfico de Emmanuel, entretanto, trouxe para mim duas surpresas. A primeira foi a omissão da encarnação de Emmanuel como Padre Damiano, narrada na obra Renúncia, de sua autoria, circunstância expressa, inclusive, no prefácio do livro.

A segunda foi ler que Quinto Varro e Quinto Celso, mesma individualidade presente na obra Ave, Cristo, também de sua autoria, teriam sido Emmanuel. Como sou curioso, à época reli o prefácio da obra e nele não antevi, mesmo que indiretamente, tal suposição.

Enviei, assim, um e-mail para a redação do jornal, expondo estas dúvidas. A resposta recebida não fez qualquer menção à primeira indagação (a ausência de notícia sobre o Padre Damiano), e afirmou que a encarnação de Emmanuel como Quinto Varro é fato notório, tendo sido mencionado em diversas palestras por Divaldo Franco e Raul Teixeira.

Assim, deixei de me preocupar com o assunto, e nem tive ensejo de trocar idéias com quem quer que seja sobre isso.

Até que, navegando recentemente pelo site da Editora Lachatre, descobri uma obra que devassa as existências de Bezerra de Menezes. Chama-se "O 13º Apóstolo". E, no texto explicativo do livro, consta que Bezerra é quem teria vivido na Terra como Quinto Varro. Veja aqui.

E agora, José? Quem está com a razão? Quem foi Quinto Varro? Emmanuel ou Bezerra?

Não é minha intenção responder a essa questão, mas sim refletir a respeito dessa nossa ânsia, enquanto espíritas, de saber quem foi quem, quem está reencarnado, onde estão os apóstolos do Cristo, os santos, e etc.

Há não muito tempo atrás, uma polêmica dividiu os meios espíritas entre aqueles que apostavam que Chico Xavier foi a reencarnação de Allan Kardec, e os que refutavam essa teoria.

Para o público afeito a esse tipo de curiosidade, poderia até ser criada uma revista de fofocas, a "Vultos", ou então "Quem Reencarna", para explorar os meandros desse trânsito de celebridades entre os dois planos da existência.

É natural existir essa vontade conhecer as reencarnações alheias. Até porque isso reflete, em alguma instância, o desejo próprio de cada um de conhecer seu passado e, assim, estar mais próximo de conhecer sua essência.

Mas esse conhecimento será inútil se bastar em si mesmo, se não for além da mera ciência dessa ou daquela circunstância, se fulano foi beltrano ou ciclano. Para que esse conhecimento seja válido, imagino que dois aspectos devam estar presentes no processo para obtê-lo e em sua utilização:

- o conhecimento deve enfocar, primordialmente, a função última da reencarnação: contribuir para a evolução das criaturas. A reencarnação em sucessivas existências terrenas é uma concessão divina para acelerar o progresso individual, com reflexos óbvios no avanço coletivo. As lições colhidas pelo Espírito nesse "mergulho na carne" têm a característica de serem mais estáveis e profundas do que se adquiridas na erraticidade.

Assim, torna-se relevante, ao se analisar vivências de uma mesma individualidade, perceber em que pontos o Espírito precisava aprimorar-se e quais os mecanismos utilizados para tanto; verificar se existiram provas análogas em mais de uma encarnação; se houve contato com afetos e desafetos do pretérito; e, muito importante, identificar qual foi a postura do Espírito face a essas provas e quais as conseqüências de suas decisões.

- esse conhecimento deve, ainda, ser obtido através do estudo sério e compromissado com a verdade. É certo que a palavra de médiuns autorizados é um forte indicativo, mas sempre deve ser confrontada com outros indícios e passar pelo crivo da razão e do bom senso.

Nesse sentido, as pesquisas de Hermínio C. Miranda são exemplares. Para realizar suas afirmações, ele pesquisou vastas fontes históricas, analisou e comparou dados, para somente então apresentar suas conclusões. Na obra "As Marcas do Cristo", Hermínio analisou, em dois volumes, as biografias de Paulo de Tarso e de Martinho Lutero, para ao final concluir que se trata da mesma individualidade.

Para escrever "Eu sou Camille Desmoullins", Hermíno utilizou outra ferramenta, a regressão de memória. Concluiu, assim, que o jornalista Luciano dos Anjos foi Camille Desmoullins, personagem da Revolução Francesa.

Outras obras de Hermínio que abordam o tema são "Guerrilheiros da Intolerância" e "As Sete Vidas de Fénelon".

Em "A Memória e o Tempo", outra obra de Hermínio, há uma reflexão interessante sobre essa busca de vidas do mesmo Espírito:

"Como provar, no entanto, dentro de tais parâmetros, que a alma X é a mesma que esteve encarnada em A, no século passado, e está vivendo novamente em B, neste século?
(...)
"O recurso, portanto, é voltar-se para a estrutura psicológica do ser, comum conjunto de fatores imponderáveis e até subjetivos, por certo, mas não menos nítidos e característicos de uma individualidade quando tabulados e tomados como um todo. Isso porque o ritmo evolutivo do ser é lento, e não mudamos substancialmente de uma vida para a seguinte, do bandido para o santo, e vice-versa - vamos escalando penosamente a rampa das conquistas morais e intelectuais e não aos saltos."

Para concluir, creio ser um tipo de estudo interessante o da análise de reencarnações de uma individualidade, mas que o estudioso que a ele se inclina mostre-se dedicado e respeitoso com esse instituto tão belo quanto o da reencarnação. Que a palavra sem fundamento, que o "achismo" irresponsável não prejudiquem a divulgação de nossa Doutrina, gerando dúvidas e incertezas em nossas mentes inquietas e ansiosas.