29 de set. de 2009

20 Anos - Carta

De: Pai distraído
Para: Outro pai distraído

Pai querido,

Hoje, completam-se 20 anos de saudades.

Se fosse mal agradecido a Deus, teria motivos de queixa. Afinal, já vivi mais tempo sem do que contigo. Quando partistes, tinha 14 anos.

Mas, pensando melhor, não dá para alguém viver sem seus pais, mesmo eles estando ausentes. Somos uma projeção deles, misturada com nossas próprias experiências, assim como serão os nossos filhos. Não podemos nos desfazer das impressões e vivências da infância.

Assim, sempre estivestes comigo: no sorriso, na timidez, no jeito amigo. Da mesma forma como permaneces com meus irmãos. E isso é um motivo de grande alegria.

Hoje estou aqui, vivendo as experiências da paternidade, tal qual as vivestes. Agora vejo que muitas vezes erramos por ignorância, e que nunca nos falta a vontade de acertar. Conosco, você acertou quase sempre.

Teus três filhos já são pais. De nossa parte, esperamos ser com nossos filhos tão carinhosos quanto fostes conosco. É nossa maior herança.

Um grande abraço, até mais.

27 de set. de 2009

Laços invisíveis

Quando somos bem pequenos, nossa vida está literalmente nos braços de nossos pais. Deles dependemos para absolutamente tudo, e sem seus cuidados e diretrizes nossa precária vida se perderia em poucas horas.

Acaba que nós crescemos e nos esquecemos disso. Sabemos que somos ligados a eles mas, na maior parte das vezes, não damos a eles maior importância do que damos a nossos amigos, nossos outros parentes, nossos amores.

Ocorre que a recíproca não é verdadeira.

Um bebê desperta em seus pais laços invisíveis de afeto, carinho e proteção. Basta olhar para suas tentativas de interagir com o mundo, basta se sensibilizar com seu sorriso espontâneo e largo, sua inocência em cada pequena descoberta...

Por isso é que, depois que eles crescem, e muitas vezes erram na vida, os pais, e acima de tudo as mães, olham para eles e não conseguem esquecer aquele ser pequenino e carinhoso. Nunca deixamos de ser bebês para nossos pais.

Graças a Deus.

24 de set. de 2009

Coisas que sempre se ouve - II

Quando se torna pai, a gente descobre, estupefato, que a grande maioria da população terrestre é o supra-sumo da puericultura. Todos são mestres, doutores e PhDs na arte de cuidar de crianças, e cada um tem a receita mais infalível para solucionar qualquer problema.

Assim, você sempre escuta:

- Não pode dar banho até o sétimo dia;
- Não pode sair na rua durante os três primeiros meses;
- Olha esse vento encanado! Fecha a janela!
- Cuidado na hora do banho para não entrar água no ouvido!
- Tem de forçar a glande para desobstruir o pipizinho.
- Não pode forçar a glande de jeito nenhum!
- Chegou da rua? Vai descansar antes de pegar no bebê. Senão dá quebranto!
- Chazinho é bom para cólica;
- Fralda de pano é mais confortável para ele, já viu como a descartável esquenta?
- Já está engatinhando? Tem de engatinhar até os seis meses!
- Até os dois meses só pode dar um banho por dia;
- Criança no ar condicionado? Deus me livre!
- Os dentinhos estão nascendo? Esfrega um alho na gengiva que não vai doer.
- Dá uma rodela de limão para ele mastigar;
- Etc, etc, etc...

Ouça sempre o pediatra do seu filho. E não economize no bom senso.