24 de dez. de 2006

Natal

Querido Jesus:

Na época em que viestes à Terra, amigo, muitos eram os que te esperavam. Rabinos liam e reliam as profecias a teu respeito; sábios do oriente perscrutavam os céus, em busca dos sinais de tua vinda; o povo, humilhado em sua dignidade, ansiava pela vinda do Libertador, aquele que iria lhe livrar do jugo do opressor romano.

Até mesmo Roma estava atenta, e não hesitaria em esmagar quem se revoltasse, como de fato o fez contra os auto-declarados profetas e messias daqueles tempos.

Entretanto, na noite gloriosa em que Maria e José te receberam nos braços carinhosos, apenas os pastores foram avisados de tua chegada. A eles, criaturas pacíficas dos campos, os anjos anunciaram o início da era de "paz na terra aos homens de boa vontade".

Que imagem maravilhosa! As criaturas do céu, tutoras dos nossos destinos, vêm até nós e escolhem os pastores como os primeiros a receber a boa nova, a melhor notícia da humanidade em todos os tempos.

Pastores vivem aos campos, convivendo em harmonia e paz com seus rebanhos, guiando-os aos melhores pastos, protegendo-os das intempéries e ameaças. Sua vida é uma comunhão integral com a criação divina, fazem parte dela e sabem muito bem qual seu papel para a felicidade geral.

Esse singular aviso funcionou como um prenúncio de tua passagem entre nós. Era como se estivesses nos alertando que estavas vindo pelos mais humildes, os mais sofridos, os que guardavam a pureza nos corações. "Bem aventurados os pobres de espírito..."

Os rabinos não te reconheceram, preferiram te condenar à cruz da infâmia. O povo deu-te as costas, escolhendo Barrabás, porque não conseguia entender um libertador que se entregava aos algozes, perdoava aos inimigos e pregava a cultura da paz.

Mais tarde, tu mesmo reafirmaria: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos..."

Vemos, assim, que aqueles que mantém a simplicidade como norma de conduta terão uma solicitude especial dos céus, participarão primeiro das bodas, receberão antes de todos as boas notícias.

Nós outros, no entanto, que preferimos cultivar "a dureza dos corações", temos de ficar atentos, buscar os sinais, acreditar e lutar pela conquista dos "olhos de ver e ouvidos de escutar".

E até hoje, Jesus, para quantos tu permaneces um enigma!

Quantos são os que não sabem que tu viestes e desconhecem tua presença constante nos destinos da humanidade, a nos guiar sempre para o mais correto, o mais justo, o mais humano!

Quantos vêem as iniquidades do mundo e se desesperam, porque nada mais esperam do futuro!

Quantos buscam as fugas do consumismo, do álcool e das drogas, do sexo irresponsável, atrás de uma felicidade provisória e mentirosa!

Quantos se encastelam na indiferença, sem abrir os olhos para os demais filhos de Deus, irmãos de todos!

Quantos viram os sinais, escutaram a mensagem mas preferiram dar abrigo somente aos próprios interesses, olvidando os deveres de amar ao próximo como a si mesmo!

Certo é, Senhor, que muito ainda temos de aprender. Aprender a ouvir a voz de nossa consciência, aprender a calar nossas paixões doentias, aprender a transformar nossos instintos de orgulho e egoísmo em expressões de fraternidade, amor e compreensão. E, para tanto, ajuda nunca nos faltou.

Todos os anos, na época do natal, aquelas mesmas criaturas do céu que anunciaram nos campos tua chegada, falam anônimas no silêncio de nossos pensamentos.

"Ampara". "Perdoa". "Ama". "Entende". "Aceita". "Persevera". "Esquece". "Ajuda". "Sorri". "Abraça"."Sonha". "Jesus veio".

Falam em teu nome, anunciam mais uma vez que estás aqui, renascendo confiante na manjedoura dos nossos corações.

"Muito obrigado" é pouco para te dizer.

Feliz Natal.