27 de jun. de 2010

Aprendendo a ser pai

O aspecto mais interessante da experiência da paternidade com o Pedro é ressignificar tudo o que eu achava ser correto enquanto pai da Bella. Como já dito em um post anterior, infelizmente nossos filhos mais velhos são cobaias, e acabam sendo balão de ensaio de nossas experiências.

Hoje eu percebo muitas das nuances de conviver com uma criança pequena, ausentes no meu relacionamento com a Bella. Por conta de nossas necessidades mútuas de aprendizado, passei a conviver com ela, de maneira mais intensa, quando ela tinha de três para quatro anos.

E lamento não ter compartilhado a primeira infância dela. Percebo com o Pedro como se formam laços invisíveis entre pais e filhos, ligações de cumplicidade, de confiança, de respeito e de entendimento.

Concluo que, se tivesse convivido com a Bella nessa época, seria hoje um pai mais compreensivo, menos rigoroso, mais amoroso. Teria mais recursos para entendê-la, suas reações, gostos, pendores e quereres.

Não dá para voltar atrás. Mas um exercício que tenho feito é o de enxergar o bebê dentro dela. Eu sei que fica complicado, ela está quase do tamanho da mãe, mas continua sendo uma criança. É meu bebezão, e é assim que lido com ela a partir de então. Com os dois, aprendo a ser pai.

15 de jun. de 2010

Lembranças de Copas

Bem, já que estou aqui de plantão durante o jogo Brasil e Coréia do Norte, relembro alguns fatos relativos a Copas passadas. Aliás, a todas as Copas de minhas lembranças.

Da Copa de 1978, na Argentina, não lembro nada.

Copa de 1982, Espanha, não lembro de ter visto nenhum jogo em particular, mas lembro da repercussão pela eliminação. Havia jogadores mineiros na Seleção (Cerezo, Éder Aleixo, Luisinho) e o próprio técnico era mineiro, Telê Santana. Lembro da tristeza e da revolta geral. Ah, e quando um jogador fazia um gol, a Globo mostrava a assinatura dele na tela, como um artista assinando sua obra.

Copa de 1986, México. Meu avô Martinho havia dado para cada neto uma vuvuzela (naquele tempo chamávamos apenas de corneta ou cornetão). Lembro que quase ninguém tinha força para tocar. No dia do jogo contra a França, quando fomos eliminados nos pênaltis, fui para a rua com o jogo ainda em andamento, para brincar com os vizinhos. Ninguém estava muito interessado. Depois meus tios ficaram reclamando que as cornetas tinham dado azar (pobre vovô).

Copa de 1990, Itália. Todo mundo xingando o Lazaroni e o Dunga. No dia da final (Alemanha e Argentina) estava em Itatiaiuçu, no sítio do tio Martinho Jr. Lá pelo segundo tempo (e o placar 0 a 0), a televisão fez "Puff" e queimou. Foram todos os assistentes escutar o final da partida no rádio de um dos automóveis. Assim, ninguém viu o gol do titulo da Alemanha ao vivo.

Copa de 1994, EUA. Mais uma final em Itatiaiuçu. Martinho Jr ficava falando antes das cobranças de pênalti: "Minha geração já viu três conquistas, tá na hora da geração de vocês ver pelo menos um campeonato". Os mais novos ficamos de joelhos e comemoramos muito quando Baggio errou a cobrança.

Copa de 1998, França. Era uma época muito festiva, pois estava me formando em Direito. Assisti alguns jogos com minha família e outros com os colegas. A final foi na casa de uma colega, e para falar a verdade não me lembro de muita coisa. Nesse tempo o álcool fazia parte de meus fins de semana.

Copa de 2002, Japão/Coréia. Já aqui em Manaus, a final foi numa manhã de domingo. Na hora do jogo, estávamos, eu e France, nas atividades da sopa da Fundação Allan Kardec. Os foguetes comemorando os gols interrompiam a palestra sobre o Evangelho, feita pelo José Alberto. Depois fomos entregar a sopa em uma cidade transbordando de alegria. Mais tarde, fomos a uma comemoração junina, com nossa turma de estudos da Doutrina. Foi quando se divulgou a notícia do desencarne do Chico Xavier.

Copa de 2006, Alemanha. Até bem pouco tempo atrás, não me lembrava de praticamente nada dessa Copa. Ficava me perguntando: "Quem era o técnico do Brasil?", ou "Qual time foi o campeão?" Só lembrava que não era o Brasil. Foi quando vi o filme oficial da copa no Sportv e lembrei do Parreira, da eliminação contra a França e da final vencida nos pênaltis pela Itália.

11 de jun. de 2010

O bem visível

No filme 'A Corrente do Bem' uma onda de solidariedade e gentileza se espalha por uma comunidade a partir do exemplo de bondade do garoto vivido por Haley Joel Osment, de 'O Sexto Sentido'.

A mensagem central do filme é a de que o bem recebido aqui deve ser devolvido mais adiante, sem se preocupar com quem é o novo recebedor. Forma-se assim uma corrente de atitudes positivas, reforçando o título original do filme, 'Pay It Forward', numa tradução capenga deste autor, 'Retribua mais na frente'.

Ontem, dentro do supermercado lotado, com nervos à flor de todas as peles, vi um exemplo de corrente do bem.

Não havia mais cestinhas disponíveis, daí um senhor de idade equilibrava várias caixinhas de creme de leite e embalagens de margarina nos braços, fazendo malabarismo para não derrubar tudo. Um casal de jovens à frente dele na fila ofereceu-lhe o lugar, certamente condoído pela situação.

O senhor sorriu e aceitou, passando à frente. O caixa atendia então uma senhora que havia colocado dezenas de latas de refrigerante no carrinho, todas soltas. Ela tirava uma por uma, pois uma das mãos segurava a bolsa. E a fila se impacientava cada vez mais.

Nesse instante, o senhor agraciado pelos jovens colocou os mantimentos que selecionara na esteira e passou a ajudar a companheira de fila, pegando as latinhas que teimavam em rolar para lá e para cá no fundo do carrinho. Foi uma operação demorada, mas que chegou a termo.

Na hora pensei: o segundo gesto de gentileza não existiria sem o primeiro. Tudo bem que a vontade de ir embora do supermercado naquela hora pode ter contribuído para a decisão do senhor, mas sua ajuda só se tornou possível a partir da bondade do casal.

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