12 de dez. de 2008

Vale a pena

Em outro momento deste relato, disse que a paternidade/maternidade é uma missão, e não divertimento. É cheio de ônus, mas tem cada bônus maravilhoso.

Nesta semana, encontramos um desses bônus em forma de carta, em nossa árvore de natal.

Senhor Deus, eu lhe peço um Feliz Natal e para o Senhor abençoar a minha família, que você deseje amor, felicidade, carinho e muita paz para a minha família, obrigada por ter me dado uma família tão legal, dê um Feliz Natal para as pessoas que estão nas ruas sofrendo, desculpe se eu fiz alguma coisa de errado, obrigado por ter me dado um irmão, ele vai nos dar muita felicidade e um ótimo feliz aniversário para você Jesus, eu te amo muito e você vale muito 1000 vezes mais do que a terra!
Beijos
Isabella
Feliz Natal!

Desculpem a corujice.

27 de nov. de 2008

Grávidas

É interessante o poder de atração que uma grávida exerce sobre nós, meros mortais, e em especial sobre as demais mulheres.

Basta ver uma barriga proeminente que já sentimos uma quase incontrolável vontade de interagir com a gestante. Alguns não se contém e, para espanto da grávida, chegam a alisar a barriga, torcendo para que o nenê chute naquele exato instante.

Em seguida, vem as perguntas inevitáveis:

"É menino ou menina?"

"Já escolheu o nome?"

"Vai nascer quando?"

"Normal ou cesárea?"

Tantas foram as vezes que a France respondeu a esse questionário (e tantas outras ainda serão as que ela irá responder, pois o Pedro só nasce em março) que ela pensou em colocar as respostas em um crachá e andar com ele por aí.

Eu não critico quem costuma fazer esse rol de perguntas, até porque também não consigo me controlar. Invariavelmente sorrio quando avisto uma grávida, e sinto um misto de admiração, ternura e carinho pela situação.

Certa vez, há bastante tempo, antes mesmo de sequer pensar em ser pai, e num daqueles momentos de ócio, veio-me à cabeça uma espécie de desafio: encontrar imagens que representassem fielmente alguns conceitos.

O primeiro conceito em que pensei foi o de liberdade. Qual imagem melhor representaria essa idéia? Pensei em uma imagem mais ou menos assim:



Ou seja, o ciclista controla seu equilíbrio mesmo sem usar as mãos, mas sabe que qualquer descuido pode representar uma queda. Ele deve usufruir da liberdade sem esquecer da responsabilidade.

E, para representar o conceito de humanidade, qual seria a melhor imagem? Sempre pensava na foto de uma grávida, como essa a seguir.




18 de nov. de 2008

Cronologia II

Bem, então no início de 2008 fomos ao consultório do Dr. Marco Tulio, lá em Nova Lima. Recebêramos indicação de uma pessoa da família, e desta forma agendamos um horário.

Já o procuramos com a intenção de realizarmos algum procedimento. Não tínhamos mais qualquer dúvida sobre nossa incapacidade de naturalmente gerar filhos - precisávamos de ajuda.

E logo no primeiro contato ficamos surpreendidos pela atmosfera de confiança que o Dr. Marco Tulio inspira. Em nenhum instante ele nos deu falsas esperanças: sempre embasou seus prognósticos em probabilidades, mas sempre nos incentivou a acreditar nos 40% de chance que possuíamos. Este percentual foi definido a partir do perfil da France: jovem e com o histórico de uma gestação exitosa.

Para quem desconhece os meandros da infertilidade, para tudo existe um percentual: a cada ano de vida após os 35 anos, a mulher perde x% de seus óvulos; ao congelar e descongelar o embrião, diminuem 20% as chances de implantação; após a cirurgia de varicocele, minha chance de retomar a fertilidade era de 50%; e por aí vai.

Feito o primeiro contato com o médico, definimos o método que utilizaríamos e programamos todo o procedimento. Foi uma logística complicadíssima, pois envolvieu viagens a BH, férias escolares da Bella, realização de um empréstimo, ciclo menstrual, limites do cartão de crédito, aplicação de injeções, a escala de trabalho da France, autorizações do plano de saúde e uma série de outras condicionantes. Ufa!

Assim, nos meses de maio e junho retornamos a BH para realizarmos o tratamento. O procedimento funcionou mais ou menos assim:

- France tomou um hormônio que interrompeu por completo seu ciclo menstrual;

- 15 dias após, ela realizou um ultrassom que confirmou a interrupção;

- a partir de então, ela passou a tomar doses diárias de outro hormônio, com vistas a estimular a ovulação;

- duas vezes por semana, realizava ultrassom para ver se o tamanho e a quantidade dos óvulos. Com os resultados, o médico alterava a dosagem do hormônio;

- após 12 dias de aplicações diárias, ela havia gerado uma quantidade satisfatória de óvulos;

- realizamos então a punção para retirada dos óvulos, um procedimento um pouco doloroso. No mesmo dia, colhemos os meus soldadinhos;

- conseguimos gerar 19 óvulos em boas condições. 19 dos meus recrutas, assim, foram selecionados e fortalecidos (acho que com Biotônico Fontoura), para garantir a fecundação. Eles foram, então, injetados diretamente no núcleo de cada óvulo, no método denominado ICSI;

- dois dias depois, voltamos ao laboratório para saber o resultado. Dos 19 óvulos fecundados, 11 geraram embriões saudáveis e viáveis;

- os três mais aptos foram, enfim, implantados no útero, em um procedimento muito simples. Os demais foram congelados e moram agora na avenida do Contorno, em BH.

Curiosidade: os embriões foram numerados e classificados. Implantados foram o 1, o 5 e o 6.

A par destes procedimentos, realizamos sessões de acupuntura com a Dra. Chin Du, uma chinesa radicada em Belo Horizonte. Apesar de morar no Brasil há décadas, ela quase não se expressa em português; a cada sessão, ela repetia, após estimular os pontos: "Segula bebê! Segula bebê!"

Após a implantação, retornamos a Manaus e aguardamos 12 dias até realizar um exame de gravidez. Este é o ponto mais sensível de todo o procedimento, pois gerar os embriões é relativamente garantido. A questão maior é: eles irão se fixar na parede do útero? Para ajudar nessa fixação, haja mais hormônio. Foram caixas e mais caixas de progesterona.

Em nosso caso, felizmente, um dos três bichinhos conseguiu se segurar. No início da gestação, havia dois sacos gestacionais, a indicar que pelo menos dois estavam se desenvolvendo. Mas, a partir do segundo ultrassom, notamos que somente o Pedro seguiu seu caminho dentro do útero.

Costumo dizer que os outros dois embriões foram implantados para encorajar o Pedro, para que ele não se sentisse só no início da jornada. Ao 5 e ao 6, nossa eterna gratidão.

10 de nov. de 2008

Arcos e Flechas

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.
Este texto é do livro O Profeta, de Gibran Khalil Gibran. Sintetiza, com poesia e profundidade, a compreensão que os pais devem ter em relação a seus filhos.

Tentar comentar, verso por verso, seria um desrespeito tremendo à beleza do poema. Deixo apenas registrada minha admiração pela imagem dos arcos e das flechas. Para que nossos filhos voem rumo a seu destino, é necessário que nos curvemos, muitas vezes ao peso da dor. Mas ser pai e mãe é missão, não divertimento.

3 de nov. de 2008

O tesouro

O tempo é um patrimônio quase sempre mal utilizado em nossas vidas. Costumamos reclamar que estamos sem tempo, que o tempo urge, mas em verdade somos péssimos usuários desse recurso que nos é renovado todos os dias.

Falo de experiência própria, pois nunca sei direito o que fazer com meu tempo livre. Procuro algo para fazer em casa, ligo o computador, a televisão, separo livros e revistas e, quando dou conta, estou fazendo tudo e nada ao mesmo tempo.

É por isto que Machado de Assis disse: "Matamos o tempo e o tempo nos enterra."

Mas nem todos somos assim. Tenho notado que a France, por exemplo, usa com bastante objetividade e sabedoria os poucos minutos de que ela pode dispor livremente durante o dia.

Invariavelmente, ela está envolvida com alguma coisa relacionada ao Pedro. Ou está trocando ideias com amigas e parentes sobre a gravidez, por e-mail ou telefone, ou está pesquisando na internet sobre cuidados, produtos, novidades, ou está lendo os livros e revistas que comprou sobre a maternidade, ou está assistindo programas no Discovery Home & Health sobre bebês.

Quando não está fazendo nenhuma dessas coisas, ela simplesmente vai até o quarto e fica imaginando como serão as coisas por ali a partir de março.

O Evangelho diz que "onde estiver teu tesouro, aí também estará teu coração". É uma advertência sábia de Jesus a respeito dos tesouros da vida terrena e os da vida imaterial.

Para mim, significa que usaremos nosso coração - ao dedicarmos nossos melhores esforços e mobilizarmos nossos mais importantes recursos - para conquistar aquilo que elegemos como prioridade em nossas vidas - nosso tesouro.

Muitas vezes, o tesouro que elegemos é transitório: um cargo mais alto na hierarquia, uma casa maior, um prêmio na loteria. Não importa, todo o nosso coração estará envolvido em sua conquista.

Noto, assim, pelo uso que tem feito de seu tempo, quão belo e nobre é o tesouro escolhido por ela. E que eu, por outro lado, não poderia ter escolhido melhor.

31 de out. de 2008

Para Descontrair

Temos um amigo na Fundação Allan Kardec que é um pouco distraído. É o Rodrigo. Ele é muito prestativo e atencioso, e costuma pegar uma carona conosco ao final das atividades.

Há poucos meses, estava com ele e a Bellinha no carro, retornando para casa. Contei a ele então, todo animado, a novidade sobre o Pedro.

"Sabia, Rodrigo, que a France está grávida?"

Ele olhou meio desconfiado e sapecou:

"Grávida de quem?"

* * *

Marido de mulher grávida passa recibo o tempo inteiro sobre sua situação. Ontem, na farmácia, fui listando para o atendente as nossas necessidades:

"Bom dia, Senhor."

"Progesterona a 200mg, duas caixas."

"Aqui. Algo mais?"

"Ácido fólico, também duas caixas."

"Prontinho. Mais alguma coisa?"

"Dramin, para o enjôo. Em comprimidos."

Depois desse terceiro pedido, o rapaz retornou a pergunta:

"É menino ou menina?"

12 de out. de 2008

Adoção não é para qualquer um

Durante todo o processo que durou da constatação de nossa infertilidade até a realização do procedimento, uma questão sempre presente foi a da adoção. Embora sempre tentando gerar um filho por nós mesmos, tínhamos o pensamento de que adotar uma criança seria a solução extrema.

Como um mantra, sempre repetíamos: se nada der certo, partimos para a adoção. Era uma espécie de seguro que mantinha nossa esperança acesa; da maneira que fosse, ao final de tudo teríamos nosso filho garantido.

Essa ilusão durou até o dia em que fui ao Juizado buscar informações sobre os procedimentos. Conversei com uma assistente social muito simpática, que logo na primeira frase desmontou, literalmente, nossas pretensões.

Ela disse algo do tipo: "A adoção existe para conseguir uma família para as crianças que não têm uma, e não o contrário, ou seja, para uma família que não tem crianças conseguir uma".

Esta lógica tão cristalina logo me fez perceber o papelão que estava ali desempenhando. Eu fora até lá como quem vai a um supermercado escolher um produto: esse não está bom, aquele ali já passou da idade, não tem um com mais dentes, não?

A assistente ainda esclareceu vários outros pontos. Disse que toda adoção ocorre como última solução, ou seja, quando a convivência da criança com sua família original não é mais possível. Até lá, o Estado envidará todos os esforços para assegurar que os filhos permaneçam com seus pais naturais.

Afirmou, ainda, que infelizmente a maior parte dos pretendentes à adoção vêm com a mesma expectativa nossa: não conseguimos gerar uma criança naturalmente; vamos ao juizado pegar uma. Por tal razão, a preferência é para crianças bem novas, e particularmente do sexo feminino. A espera por crianças nessas condições costuma durar anos.

Saí de lá bastante envergonhado, mas, por outro lado, aliviado: descobri que a adoção não era a nossa praia. Ao menos, não neste momento.

Adotar uma criança é um exercício pleno de amor: é pensar muito mais na criança que será acolhida do que em si mesmo, na sua satisfação de ter um filho.

É se esforçar para proporcionar a alguém uma rotina e um cotidiano decentes, que lhe permitam viver com dignidade e respeito.

É acolher em seu lar alguém que talvez nunca tenha experimentado qualquer tipo de convivência doméstica.

Diria que isso sim é exercitar o amor de forma desinteressada.

Eu sei que minha família seria capaz disto tudo. Mas o que ficou bem claro para mim é que nosso momento é outro: o que queríamos (e continuamos querendo) é um filho.

9 de out. de 2008

Cronologia

Achei interessante relatar como foram e como têm sido nossos esforços, através do tempo, para trazer mais um bebê a esta Terra.

Nossa luta começou em 2004, após uma gestação se interromper naturalmente. Foi um momento bem doloroso, em especial para a France. Mas, com paciência e resignação, superamos. Sabemos que o Cristo sempre ajuda, mas precisamos do Redentor para dar uma canja.

À época, morávamos em BH, e no decorrer daquele ano retornamos a Manaus. A ideia de uma nova gravidez estava sempre presente, e nenhum método contraceptivo foi adotado a partir de então.

No entanto, não conseguíamos. Por duas vezes ficamos em dúvida, mas os testes de sangue feitos nos mostravam a dura realidade.

Em 2005, já casados oficialmente, continuamos as tentativas, mas sem sucesso. Já estávamos desconfiando que alguma coisa andava errada quando nos consultamos com médicos especialistas.

E o diagnóstico foi preciso: eu era infértil. Meus soldadinhos, além de poucos, não gostavam muito de nadar. Ficavam numa eterna dança no mesmo lugar, rebolando e rebolando. Somente com uma carona eles conseguiriam chegar às trompas.

Descobrimos, ainda, que uma possível causa para minha dificuldade era a varicocele. Desde jovem eu sentia dores intensas nos testículos, mas nunca me importava. Eram as veias que se enchiam de varizes e não permitiam o crescimento adequado de meus pequenos mensageiros.

Em outubro de 2006, o Dr. Anoar Samad realizou uma cirurgia e corrigiu minha varicocele. A Unimed pagou tudinho, graças a Deus. Minhas dores diminuíram consideravelmente, e aguardamos ansiosos seis meses para ver se havia dado certo. Mas os exames mostraram que a infertilidade continuava.

É certo que a cirurgia melhorou a qualidade dos soldadinhos, agora eles dançavam no mesmo ritmo. Mas a quantidade e a motilidade, que são os detalhes fundamentais para a longa jornada, continuavam muito aquém do desejável.

Passamos o ano de 2007 pensando o que fazer. Um pensamento corrente era: caso não dê certo, vamos adotar. Mas isso é assunto para outro texto.

Resolvemos, então, consultar outro médico especialista, desta vez nas Alterosas. O Dr. Marco Tulio Vaintraub fora indicado por alguém da família e, em janeiro de 2008, entramos em seu consultório.

Treinando

Pipiras comendo banana

Ontem de manhã, caminhando com o Campeão na praça depois de uma chuva, deparei-me com um pequeno ser, amedrontado e encharcado, buscando proteção junto à raiz de uma mangueira.

Um filhote de pipira azul caíra de seu ninho e se refugiara onde a chuva não o alcançava.

Piando nervosamente nos galhos da árvore, os pais voavam de um lado para outro, temendo que um dos inúmeros gatos que vivem nas redondezas descobrisse o banquete farto ali.

Na hora, nem pensei: adiantei-me ao Campeão e peguei o indefeso passarinho, aconchegando-o em um dos bolsos da bermuda. Até procurei o ninho nos galhos, mas seria uma tarefa impossível encontrar sua casa e restituí-lo são e salvo.

Achei melhor, então, cuidar do pequeno animal até que ele tenha autonomia suficiente para decidir seus próprios vôos.

Já em casa, tirei da árvore uma casa de passarinhos que ali havíamos pendurado e dei-lhe seu primeiro morador. Com uma seringa e banana amassada, improvisei um bico de mãe.

Parece estar dando certo. Deixo a seringa cheia de banana e, quando ele pia, quem está por perto o alimenta. De noite, cubro sua casinha com um pano de prato. Uma vez por dia o desalojo do conforto e limpo sua toca.

A Isabella adorou a história, virou a mãe do pequeno pássaro e já o batizou como Bob. Sequer desconfiamos do sexo do passarinho, espero não gerar, com esse nome, um trauma para o futuro.

Quanta fome o bichinho tem! Ele pede por mais banana até seu papinho ficar inchado. Daí ele fica arfando até adormecer. Quando acorda, volta a piar e a abrir o bicão quando alguém se aproxima.

Duas coisas descobri nessa tarefa de pai improvisado: que um bebê faz muito, mas muito cocô, e que os passarinhos têm língua, uma língua pontuda e agitada.

Por outro lado, ele é um filho bem fácil de cuidar: quando o sol se põe, ele come pela última vez e adormece pesadamente. Só acorda quando o dia começa a clarear.

Atualização em 13/10/2008

Infelizmente, nosso Bob não resistiu e faleceu nesta noite. Creio que a boa vontade não foi suficiente para suprir a falta do calor materno. Que Deus o acompanhe.

7 de out. de 2008

Ontem e Hoje

O fato de vermos nossos filhos antes de nascerem já se tornou banal.

Com o ultrasom 3D e 4D já se pode ver até os traços do rosto, saber com quem ele se parece antes mesmo do parto. Um primo nascido este ano, lá em BH, quando chegou da maternidade já tinha no criado-mudo um porta-retrato com uma foto sua.

E, mais uma vez, a internet está cheia de artistas que protagonizam filmes e não sabem: ainda não viram nem a luz do dia, quanto mais a de um flash.

Tudo isso me fez ficar pensando sobre como eram as gestações no passado e como elas são atualmente. Poderia ir longe e falar do tempo de minha avó, mas não preciso fazer tamanho recuo. Basta pensar na minha própria gestação, lá pelos idos de 1974.

O médico só sabia que existia um bebê, que ele estava vivo e que seus batimentos podiam ser ouvidos. Só.

O sexo, a existência de alguma deficiência, a quantidade de dedos na mão, até mesmo a quantidade de bebês era uma grande incógnita. Sala de parto devia ser um lugar de grandes surpresas.

Nas três gestações de minha mãe, ela desejou uma menina. Não conseguiu nenhuma, e o suspense se manteve até o final de cada parto. Haja coração!

Quando nasci, o cordão umbilical se enrolou no meu pescoço. Foi um parto dentro de outro. Se fosse hoje, o médico veria pela tela do ultrasom e simplesmente mandava fazer uma cesariana. Mas aí não teria emoção. :-p

Acho que por isso é que aquele ditado popular foi cunhado: "Urna de eleição, barriga de mulher e cabeça de juiz, ninguém sabe o que tem dentro." Já inventaram pesquisa de opinião e ultrasom; portanto, apenas a mente dos Meritíssimos permanece insondável.

Hoje já sei um bocado de coisas sobre meu filho: o tamanho do fêmur, o diâmetro do abdome, a translucência nucal (!) , que ele gosta de ficar com a mão no rosto, que o chute dele é potente.

Mas, tanto ontem como hoje, uma outra espécie de percepção continua a existir, em especial para as mães: a ligação afetiva com o filho.

A mãe sabe quando o filho acorda, quando está feliz, quando gosta da comida que ela ingere. Quando se mexe, quando concorda com o que está sendo dito, quando discorda, quando dorme recostado no fundo do útero.

Coisas que pesquisas e indagações científicas talvez não consigam mensurar, mas que nosso bom senso, e a infalível intuição feminina, afirmam com categoria.

Notícias do Pedro

Pedro está bem, tudo transcorre como manda o figurino.

Como nossa gestação iniciou-se a partir de um procedimento de fertilização, o acompanhamento é feito mais amiúde. Assim, uma vez por mês realizamos um ultrasom, minha esposa faz exames e a médica analisa tudo.

Ontem ocorreu mais um passo dessa rotina. Graças a Deus, tudo está em ordem. Pedro pesa agora 135g. Junte um sabonete e meio e terás uma ideia de sua massa. Ele entrou na 17ª semana de desenvolvimento.

Segundo a literatura médica, nos três primeiros meses todos os órgãos do bebê se formam. A partir do quarto, tudo o que ele faz é crescer e crescer, pois o organismo já está praticamente completo.

Como não poderia deixar de ser, essas notícias trouxeram muita alegria a nossa família. A Bellinha sempre é a mais exultante e ansiosa. Por ela, o Pedro já tinha nascido.

E já que o pai é distraído, ontem ele não levou a "pasta dos exames" para a médica (apesar de não ter sido lembrado de tanto). Teve de retornar correndo em casa para apanhá-la. As leis de trânsito, felizmente, (quase) não foram violadas.

4 de out. de 2008

Um alerta

O pai é tão distraído que às vezes se esquece de postar.

Mas um assunto não poderia ficar de fora; é algo que venho pensando há um bom tempo, e parte de nossa própria experiência pessoal.

Se você já passou dos 30, e quer que a maternidade / paternidade seja parte de sua vida, é bom saber a quantas anda sua fertilidade.

Ser ou não fértil pode ser uma questão de poucos anos. Nosso organismo, e em especial o feminino, passa por mudanças significativas após a terceira década de uso. Cada ano que passa faz as chances de engravidar naturalmente diminuírem e diminuírem.

Nosso corpo é feito para se reproduzir; é uma lei natural da qual ninguém foge. Mas, certamente, há um período mais adequado: quando estamos mais jovens, saudáveis e fortes, e podemos assim melhor nos dedicar à prole. Ultrapassada essa etapa, o próprio corpo entende que o melhor tempo se esvaiu, e inicia-se um processo natural de perda da fertilidade.

Quer dizer, isso é o que ocorre naturalmente, com quem não tenha problemas de fertilidade. Estes acometem cerca de 15% da população, independente da idade. Um casal é considerado infértil se não consegue engravidar mesmo mantendo relações regulares por mais de um ano.

Em resumo: se queres ser pai ou mãe, não dê chance ao tempo, consulte um médico e veja como está sua fertilidade. Os exames são simples e, quanto antes o diagnóstico, melhores e mais seguras são as alternativas.

Não quero, de forma alguma, censurar ou criticar quem está adiando a vinda de um bebê, planejando a gravidez após a compra da casa, ou depois de passar no concurso, ou conseguir um emprego, ou mesmo sem uma razão específica.

O alerta é apenas que o tempo costuma não esperar.

25 de set. de 2008

Outro Pai Distraído

O Amazonas recebe, nesta semana, mais um pai distraído.

Meu irmão mais novo, Marcolino Pitombo, veio a Manaus fiscalizar algumas obras. Ele é o pai da Helena, nascida agora em julho, e, segundo minha cunhada, num comentário aí abaixo, também se encaixa na categoria dos pais cujas fichas caem beeem devagar.

Estou começando a obter respostas. Será um problema de família??

21 de set. de 2008

Uma ligação no meio da noite

Às vezes, o pai distraído também é sonolento.

Este é o mês do bebê no Discovery Home & Health. Partos, obstetras, mamadeiras, gêmeos, fraldas, arrotos, refluxos, cólicas, choro noturno, cesarianas, parece que, mais hora menos hora, vão pular da tela e cair no chão aqui da sala.

Sexta à noite, estávamos assistindo a uma maratona de nascimentos e cuidados com o bebê. A Bellinha já havia ido dormir, e eu estava ali, no esforço para continuar acordado. Não que os assuntos não fossem interessantes e importantes, mas a semana de atividades estava vencendo.

Faltavam quinze minutos para o programa terminar, e eu fui arrumar a cama (para ir adiantando e nela só cair dali a pouco). Resolvi deitar e aguardar minha esposa, mas acabei adormecendo.

Dali a pouco, ela se deitou e eu, vendo que caíra no sono, tentei me justificar e bancar o "sempre presente". Disse que estava ali e que, se ela precisasse de algo durante a noite, era só ligar.

Na hora ela começou a rir e eu "acordei": normalmente, essa é uma frase que falo quando nos despedimos pela manhã. À noite, à beira do sono, a frase pronta é diferente: "Boa noite, qualquer coisa você me chama."

Além das risadas, o episódio me mostrou que preciso renovar meu repertório, urgente.

15 de set. de 2008

Uma lasanha na hora certa

Quando se fala em gravidez, duas palavras são sempre lembradas: enjôos e desejos. Principalmente quanto a estes, muitas são as histórias e os "causos".

Pedidos absurdos feitos de madrugada, misturas um pouco suspeitas, vontades pra lá de estranhas - são os desejos de mulher grávida. E ai de quem não os atender, pois o menino pode nascer com cara de queijo, de lua, de não sei mais o quê...

Graças a Deus, minha esposa tem experimentado alguns desejos bem tranquilos de atender. Em geral, são comidas típicas aqui do Norte. Outra noite foi um tacacá, às vezes é sardinha com farinha, até mesmo um pato no tucupi. A maior parte das vezes o que ela sente é fome mesmo, por conta das demandas do curumim, que cresce e cresce a cada dia.

Ontem nós presenciamos o que foi, até agora, o desejo mais incomum. Noite de domingo, muita preguiça, vontade de não fazer quase nada. Havíamos almoçado fora, e eu já pensava o que comer de noite: pedir uma pizza, um sanduíche, quando ouvi: "Vontade de comer lasanha!"

Eu pensei, ai, meu Deus, pois meus dotes culinários se resumem ao uso do telefone. Já comecei a planejar uma ida a uma casa de massas próxima aqui de casa, quando ouvi a segunda frase: "Eu vou fazer."

Daí, fui preparar a lista, ir ao supermercado, comprar os ingredientes e dar uma de marido interessado na cozinha. O que quer dizer: mexer alguma coisa no fogo, colocar a mesa e abrir o refrigerante. Só.

A lasanha ficou pronta depois das nove da noite. A Bellinha nem teve pique para esperar, acabou dormindo. Depois de saborear, percebi mais uma vez o valor da intuição feminina. Foi uma lasanha na hora certíssima, fechou o dia muito bem. E eu peguei uma carona deliciosa no desejo alheio.

Utilidade Pública - Atualizado em 22/09/2008

Se você, marido de mulher grávida em Manaus/AM, for surpreendido por um pedido de sardinha frita em uma noite de segunda feira, não se preocupe. Seus problemas acabaram!

O Ponto do Peixe, restaurante especializado nos pescados amazônicos, abre de segunda a segunda e tem um cardápio para todos os gostos e desejos. Fica na Avenida Tarumã, 539, na Praça 14.

Não falamos aqui da sardinha em lata. O desejo foi direcionado para um peixe regional, conhecido popularmente por sardinha, do gênero Triportheus e muito abundante na região amazônica. Veja aqui foto de um exemplar.

14 de set. de 2008

Um Curumim

Realizamos um ultrasom nesta semana e quase tudo indica que o bebê em gestação é do sexo masculino.

A médica, muito informal, disse ter avistado algo como "uma salsicha no meio das pernas". Ela não quis afirmar categoricamente, mas parece que é mesmo um varão.

Se confirmado, o nome será Pedro. É um nome que sempre foi muito simpático, tanto a mim como a minha esposa. Por alguma razão, não há nenhum Pedro em minha família.

Já na família dela faltam dedos para contar os Pedros, a começar do avô. É Pedro Humberto, João Pedro, Pedro Carlos, Pedro de Jesus, e por aí vai.

Há, ainda, uma outra razão, muito especial, para a escolha desse nome. Meu saudoso avô Martinho, de quem herdei o nome e o gosto pelos livros, queria em sua família os nomes dos apóstolos de Jesus.

Temos Mateus, Marcos, João, Tiago, André e Felipe, e agora chega o Pedro. Outros nomes bíblicos presentes são José, Daniel, Rafael e Gabriel.

Atualização em 25/09 - Esqueci-me do Paulo, marido da Gisele.

7 de set. de 2008

A Gestação

Nossa gestação já anda pelo terceiro mês. Tecnicamente, o bebê já é um feto, deixou de ser embrião.

Hoje, independência do Brasil, de certo modo também é a "independência" do nosso filho, pois os manuais, os sites de bebês, as milhares de mães que trocam mensagens nesses sites, até os médicos mencionam que os três primeiros meses são os mais críticos.

Nós sabemos disso muito bem, pois há quatro anos tivemos uma gestação interrompida naturalmente, do primeiro para o segundo mês, sem uma causa aparente.

A diferença agora é que realizamos um procedimento para a gravidez - sempre falo que meus soldadinhos ou são preguiçosos ou desertaram. Implantamos três pequenos embriões e, graças a Deus, um deles se agarrou e começou a crescer.

A previsão é que ele/ela nasça em março de 2009.

Reflexões

O fato de existir um pequeno ser em desenvolvimento bem próximo a nós está trazendo muitas reflexões.

Na internet existem zilhões de imagens e até vídeos de embriões e fetos em formação, mostrando as diferenças entre as várias fases da gestação. Compramos até um documentário do Discovery que mostra em detalhes como o bebê vai crescendo.

É muito interessante, pois o bebê depende, absolutamente, em tudo da mãe. É ela quem o protege, alimenta e sustenta. É ela quem abre mão de uma silhueta esbelta, de noites de sono, de equilíbrio hormonal e emocional, de uma vida sem enjôos, e de uma série de situações e condições.

Eu sei que isto é muito óbvio, mas parece que em geral os bebês se esquecem, ou mesmo nem se dão conta disso.

Você já agradeceu a sua mãe por ela ter enfrentado tudo isso para que um dia você pudesse ser quem você é?

Você já parou para pensar que, se sua mãe não quisesse, ou não tivesse a coragem suficiente, você nada seria?

É claro que a maioria das mães também se esquece disso, e não fica cobrando a criança por tudo o que fez por ela. Fez por amor, e o amor basta. Essa é a expressão maior do amor materno.

Mas voltemos a pensar em nossa própria condição. Qualquer criatura na face da Terra dependeu de outra para tudo, pois todos nascemos de uma mãe. Se pensássemos mais sobre isso, seríamos mais humanos, menos individualistas, pensaríamos bastante antes de adotar qualquer posição egoísta.

Vou ligar para minha mãe agora.

Por que distraído?

Essa é uma boa pergunta: por que sinto-me um pai distraído? Para conseguir respostas, ou ao menos tentar, resolvi escrever.

Racionalmente, tudo está perfeito: queríamos a gravidez, planejamos, consultamos especialistas, submetemo-nos ao tratamento e hoje estamos em gestação. Olho para a barriga dela e penso: puxa, tem um pequeno ser lá dentro crescendo. E eu ajudei a fazê-lo entrar.

Mas sinto que alguma coisa falta, algo que não consigo definir. Parece que todo mundo sabe de alguma coisa a mais e não quer me contar. Daí a sensação constante de ser distraído, e estar perdendo o melhor da festa.

Eu sei que a mãe tem ligações muito mais profundas com o bebê, sei que o instinto materno é uma conquista milenar de nossa espécie, e que o pai muitas vezes fica meio de lado, sem um envolvimento maior. Mas será que é isso mesmo?

Mais uma vez, obrigado por vir até aqui.

5 de set. de 2008

Começando hoje


Ontem comemoramos o aniversário de nossa filha mais velha. Na verdade, a data correta é dia 3, mas fizemos no dia seguinte para facilitar a vida de todo mundo (hoje é feriado, pudemos acordar mais tarde).

Antes de cantarmos os parabéns, resolvi de improviso agradecer a presença de todos. Na hora, uma inspiração bacana surgiu: criamos nossos filhos para dois objetivos principais.

O primeiro é que eles cresçam responsáveis, ou seja, sabendo responder pelas consequências de seus atos. Sabendo que quem planta, colhe. Sabendo que podemos escolher vários caminhos, mas que somos "escravos" dessas escolhas.

O segundo é que eles sejam capazes de lutar pela própria felicidade. Ninguém se iluda achando que pode legar felicidade a seus filhos. O que podemos fazer é torná-los aptos a fazer a eleição de seus próprios ideais e estimulá-los a alcançar. Ninguém pode pré-determinar o êxito nas ações de sua prole - nem nas nossas ações conseguimos isso! Mas podemos lhes apresentar recursos para que eles persistam nas metas que um dia escolheram.

A comemoração foi muito boa, e ela gostou bastante.