31 de out. de 2008

Para Descontrair

Temos um amigo na Fundação Allan Kardec que é um pouco distraído. É o Rodrigo. Ele é muito prestativo e atencioso, e costuma pegar uma carona conosco ao final das atividades.

Há poucos meses, estava com ele e a Bellinha no carro, retornando para casa. Contei a ele então, todo animado, a novidade sobre o Pedro.

"Sabia, Rodrigo, que a France está grávida?"

Ele olhou meio desconfiado e sapecou:

"Grávida de quem?"

* * *

Marido de mulher grávida passa recibo o tempo inteiro sobre sua situação. Ontem, na farmácia, fui listando para o atendente as nossas necessidades:

"Bom dia, Senhor."

"Progesterona a 200mg, duas caixas."

"Aqui. Algo mais?"

"Ácido fólico, também duas caixas."

"Prontinho. Mais alguma coisa?"

"Dramin, para o enjôo. Em comprimidos."

Depois desse terceiro pedido, o rapaz retornou a pergunta:

"É menino ou menina?"

12 de out. de 2008

Adoção não é para qualquer um

Durante todo o processo que durou da constatação de nossa infertilidade até a realização do procedimento, uma questão sempre presente foi a da adoção. Embora sempre tentando gerar um filho por nós mesmos, tínhamos o pensamento de que adotar uma criança seria a solução extrema.

Como um mantra, sempre repetíamos: se nada der certo, partimos para a adoção. Era uma espécie de seguro que mantinha nossa esperança acesa; da maneira que fosse, ao final de tudo teríamos nosso filho garantido.

Essa ilusão durou até o dia em que fui ao Juizado buscar informações sobre os procedimentos. Conversei com uma assistente social muito simpática, que logo na primeira frase desmontou, literalmente, nossas pretensões.

Ela disse algo do tipo: "A adoção existe para conseguir uma família para as crianças que não têm uma, e não o contrário, ou seja, para uma família que não tem crianças conseguir uma".

Esta lógica tão cristalina logo me fez perceber o papelão que estava ali desempenhando. Eu fora até lá como quem vai a um supermercado escolher um produto: esse não está bom, aquele ali já passou da idade, não tem um com mais dentes, não?

A assistente ainda esclareceu vários outros pontos. Disse que toda adoção ocorre como última solução, ou seja, quando a convivência da criança com sua família original não é mais possível. Até lá, o Estado envidará todos os esforços para assegurar que os filhos permaneçam com seus pais naturais.

Afirmou, ainda, que infelizmente a maior parte dos pretendentes à adoção vêm com a mesma expectativa nossa: não conseguimos gerar uma criança naturalmente; vamos ao juizado pegar uma. Por tal razão, a preferência é para crianças bem novas, e particularmente do sexo feminino. A espera por crianças nessas condições costuma durar anos.

Saí de lá bastante envergonhado, mas, por outro lado, aliviado: descobri que a adoção não era a nossa praia. Ao menos, não neste momento.

Adotar uma criança é um exercício pleno de amor: é pensar muito mais na criança que será acolhida do que em si mesmo, na sua satisfação de ter um filho.

É se esforçar para proporcionar a alguém uma rotina e um cotidiano decentes, que lhe permitam viver com dignidade e respeito.

É acolher em seu lar alguém que talvez nunca tenha experimentado qualquer tipo de convivência doméstica.

Diria que isso sim é exercitar o amor de forma desinteressada.

Eu sei que minha família seria capaz disto tudo. Mas o que ficou bem claro para mim é que nosso momento é outro: o que queríamos (e continuamos querendo) é um filho.

9 de out. de 2008

Cronologia

Achei interessante relatar como foram e como têm sido nossos esforços, através do tempo, para trazer mais um bebê a esta Terra.

Nossa luta começou em 2004, após uma gestação se interromper naturalmente. Foi um momento bem doloroso, em especial para a France. Mas, com paciência e resignação, superamos. Sabemos que o Cristo sempre ajuda, mas precisamos do Redentor para dar uma canja.

À época, morávamos em BH, e no decorrer daquele ano retornamos a Manaus. A ideia de uma nova gravidez estava sempre presente, e nenhum método contraceptivo foi adotado a partir de então.

No entanto, não conseguíamos. Por duas vezes ficamos em dúvida, mas os testes de sangue feitos nos mostravam a dura realidade.

Em 2005, já casados oficialmente, continuamos as tentativas, mas sem sucesso. Já estávamos desconfiando que alguma coisa andava errada quando nos consultamos com médicos especialistas.

E o diagnóstico foi preciso: eu era infértil. Meus soldadinhos, além de poucos, não gostavam muito de nadar. Ficavam numa eterna dança no mesmo lugar, rebolando e rebolando. Somente com uma carona eles conseguiriam chegar às trompas.

Descobrimos, ainda, que uma possível causa para minha dificuldade era a varicocele. Desde jovem eu sentia dores intensas nos testículos, mas nunca me importava. Eram as veias que se enchiam de varizes e não permitiam o crescimento adequado de meus pequenos mensageiros.

Em outubro de 2006, o Dr. Anoar Samad realizou uma cirurgia e corrigiu minha varicocele. A Unimed pagou tudinho, graças a Deus. Minhas dores diminuíram consideravelmente, e aguardamos ansiosos seis meses para ver se havia dado certo. Mas os exames mostraram que a infertilidade continuava.

É certo que a cirurgia melhorou a qualidade dos soldadinhos, agora eles dançavam no mesmo ritmo. Mas a quantidade e a motilidade, que são os detalhes fundamentais para a longa jornada, continuavam muito aquém do desejável.

Passamos o ano de 2007 pensando o que fazer. Um pensamento corrente era: caso não dê certo, vamos adotar. Mas isso é assunto para outro texto.

Resolvemos, então, consultar outro médico especialista, desta vez nas Alterosas. O Dr. Marco Tulio Vaintraub fora indicado por alguém da família e, em janeiro de 2008, entramos em seu consultório.

Treinando

Pipiras comendo banana

Ontem de manhã, caminhando com o Campeão na praça depois de uma chuva, deparei-me com um pequeno ser, amedrontado e encharcado, buscando proteção junto à raiz de uma mangueira.

Um filhote de pipira azul caíra de seu ninho e se refugiara onde a chuva não o alcançava.

Piando nervosamente nos galhos da árvore, os pais voavam de um lado para outro, temendo que um dos inúmeros gatos que vivem nas redondezas descobrisse o banquete farto ali.

Na hora, nem pensei: adiantei-me ao Campeão e peguei o indefeso passarinho, aconchegando-o em um dos bolsos da bermuda. Até procurei o ninho nos galhos, mas seria uma tarefa impossível encontrar sua casa e restituí-lo são e salvo.

Achei melhor, então, cuidar do pequeno animal até que ele tenha autonomia suficiente para decidir seus próprios vôos.

Já em casa, tirei da árvore uma casa de passarinhos que ali havíamos pendurado e dei-lhe seu primeiro morador. Com uma seringa e banana amassada, improvisei um bico de mãe.

Parece estar dando certo. Deixo a seringa cheia de banana e, quando ele pia, quem está por perto o alimenta. De noite, cubro sua casinha com um pano de prato. Uma vez por dia o desalojo do conforto e limpo sua toca.

A Isabella adorou a história, virou a mãe do pequeno pássaro e já o batizou como Bob. Sequer desconfiamos do sexo do passarinho, espero não gerar, com esse nome, um trauma para o futuro.

Quanta fome o bichinho tem! Ele pede por mais banana até seu papinho ficar inchado. Daí ele fica arfando até adormecer. Quando acorda, volta a piar e a abrir o bicão quando alguém se aproxima.

Duas coisas descobri nessa tarefa de pai improvisado: que um bebê faz muito, mas muito cocô, e que os passarinhos têm língua, uma língua pontuda e agitada.

Por outro lado, ele é um filho bem fácil de cuidar: quando o sol se põe, ele come pela última vez e adormece pesadamente. Só acorda quando o dia começa a clarear.

Atualização em 13/10/2008

Infelizmente, nosso Bob não resistiu e faleceu nesta noite. Creio que a boa vontade não foi suficiente para suprir a falta do calor materno. Que Deus o acompanhe.

7 de out. de 2008

Ontem e Hoje

O fato de vermos nossos filhos antes de nascerem já se tornou banal.

Com o ultrasom 3D e 4D já se pode ver até os traços do rosto, saber com quem ele se parece antes mesmo do parto. Um primo nascido este ano, lá em BH, quando chegou da maternidade já tinha no criado-mudo um porta-retrato com uma foto sua.

E, mais uma vez, a internet está cheia de artistas que protagonizam filmes e não sabem: ainda não viram nem a luz do dia, quanto mais a de um flash.

Tudo isso me fez ficar pensando sobre como eram as gestações no passado e como elas são atualmente. Poderia ir longe e falar do tempo de minha avó, mas não preciso fazer tamanho recuo. Basta pensar na minha própria gestação, lá pelos idos de 1974.

O médico só sabia que existia um bebê, que ele estava vivo e que seus batimentos podiam ser ouvidos. Só.

O sexo, a existência de alguma deficiência, a quantidade de dedos na mão, até mesmo a quantidade de bebês era uma grande incógnita. Sala de parto devia ser um lugar de grandes surpresas.

Nas três gestações de minha mãe, ela desejou uma menina. Não conseguiu nenhuma, e o suspense se manteve até o final de cada parto. Haja coração!

Quando nasci, o cordão umbilical se enrolou no meu pescoço. Foi um parto dentro de outro. Se fosse hoje, o médico veria pela tela do ultrasom e simplesmente mandava fazer uma cesariana. Mas aí não teria emoção. :-p

Acho que por isso é que aquele ditado popular foi cunhado: "Urna de eleição, barriga de mulher e cabeça de juiz, ninguém sabe o que tem dentro." Já inventaram pesquisa de opinião e ultrasom; portanto, apenas a mente dos Meritíssimos permanece insondável.

Hoje já sei um bocado de coisas sobre meu filho: o tamanho do fêmur, o diâmetro do abdome, a translucência nucal (!) , que ele gosta de ficar com a mão no rosto, que o chute dele é potente.

Mas, tanto ontem como hoje, uma outra espécie de percepção continua a existir, em especial para as mães: a ligação afetiva com o filho.

A mãe sabe quando o filho acorda, quando está feliz, quando gosta da comida que ela ingere. Quando se mexe, quando concorda com o que está sendo dito, quando discorda, quando dorme recostado no fundo do útero.

Coisas que pesquisas e indagações científicas talvez não consigam mensurar, mas que nosso bom senso, e a infalível intuição feminina, afirmam com categoria.

Notícias do Pedro

Pedro está bem, tudo transcorre como manda o figurino.

Como nossa gestação iniciou-se a partir de um procedimento de fertilização, o acompanhamento é feito mais amiúde. Assim, uma vez por mês realizamos um ultrasom, minha esposa faz exames e a médica analisa tudo.

Ontem ocorreu mais um passo dessa rotina. Graças a Deus, tudo está em ordem. Pedro pesa agora 135g. Junte um sabonete e meio e terás uma ideia de sua massa. Ele entrou na 17ª semana de desenvolvimento.

Segundo a literatura médica, nos três primeiros meses todos os órgãos do bebê se formam. A partir do quarto, tudo o que ele faz é crescer e crescer, pois o organismo já está praticamente completo.

Como não poderia deixar de ser, essas notícias trouxeram muita alegria a nossa família. A Bellinha sempre é a mais exultante e ansiosa. Por ela, o Pedro já tinha nascido.

E já que o pai é distraído, ontem ele não levou a "pasta dos exames" para a médica (apesar de não ter sido lembrado de tanto). Teve de retornar correndo em casa para apanhá-la. As leis de trânsito, felizmente, (quase) não foram violadas.

4 de out. de 2008

Um alerta

O pai é tão distraído que às vezes se esquece de postar.

Mas um assunto não poderia ficar de fora; é algo que venho pensando há um bom tempo, e parte de nossa própria experiência pessoal.

Se você já passou dos 30, e quer que a maternidade / paternidade seja parte de sua vida, é bom saber a quantas anda sua fertilidade.

Ser ou não fértil pode ser uma questão de poucos anos. Nosso organismo, e em especial o feminino, passa por mudanças significativas após a terceira década de uso. Cada ano que passa faz as chances de engravidar naturalmente diminuírem e diminuírem.

Nosso corpo é feito para se reproduzir; é uma lei natural da qual ninguém foge. Mas, certamente, há um período mais adequado: quando estamos mais jovens, saudáveis e fortes, e podemos assim melhor nos dedicar à prole. Ultrapassada essa etapa, o próprio corpo entende que o melhor tempo se esvaiu, e inicia-se um processo natural de perda da fertilidade.

Quer dizer, isso é o que ocorre naturalmente, com quem não tenha problemas de fertilidade. Estes acometem cerca de 15% da população, independente da idade. Um casal é considerado infértil se não consegue engravidar mesmo mantendo relações regulares por mais de um ano.

Em resumo: se queres ser pai ou mãe, não dê chance ao tempo, consulte um médico e veja como está sua fertilidade. Os exames são simples e, quanto antes o diagnóstico, melhores e mais seguras são as alternativas.

Não quero, de forma alguma, censurar ou criticar quem está adiando a vinda de um bebê, planejando a gravidez após a compra da casa, ou depois de passar no concurso, ou conseguir um emprego, ou mesmo sem uma razão específica.

O alerta é apenas que o tempo costuma não esperar.