31 de jan. de 2011

Liberdade

Costumo dizer que a função dos pais é a de ir paulatinamente dando aos filhos a liberdade de que eles precisam.

No início, pela força das circunstâncias, são os pais que tudo decidem pelos filhos: o que irão comer, vestir, a que horas irão dormir. A constituição física débil e dependente daqueles faz nascer o instinto de cuidados e proteção nos genitores.

Com o passar do tempo, as decisões vão passando à alçada infantil; obviamente de uma maneira calculada e progressiva, de acordo com a capacidade da criança em poder se determinar.

O ápice desse processo se dá na juventude, quando o indiviíduo, em princípio, já pode gerir de maneira autônoma seu destino, sem necessidade de uma interferência paterna para as coisas funcionarem. Liberdade dada antes da hora, ou depois, gera instabilidade, insegurança e dependência.

E um dos momentos cruciais desse processo de conquista da liberdade é o primeiro dia de aula da criança. Até esse instante, os pais ditavam as cartas e não eram incomodados por nada nem ninguém; sua palavra é a lei e ponto final. Os filhos lhes pertencem plenamente nessa fase; as crianças os imitam em tudo, e neles se espelham em suas interações com o mundo.

Tudo começa a mudar com a convivência rotineira e constante com outras fontes de influência. Os professores, e principalmente os colegas, passam a mostrar à criança outros mundos possíveis, outras formas de proceder e de viver. E, por essa razão, passam a influenciá-la, de maneira irreversível.

É claro que os pais continuam como a principal e mais relevante fonte de influência para a criança. O que muda nessa história é que os pais perdem a exclusividade, deixam de ser os únicos mentores do filho. Se, por um lado, isso é vital para o amadurecimento e o desenvolvimento emocional da criança, representa por outro o primeiro dos muitos golpes que o coração paterno irá suportar.

É como se o filho deixasse de ser dos pais e iniciasse sua trajetória na direção do mundo, a quem sempre pertenceu. E isso dói.

Mas depois passa. =) Na verdade, esse é o primeiro passo da criança na direção de si mesma.

Pedro começa essa jornada na quarta feira. E meu coração vai ficando menor a cada hora que passa.