27 de nov. de 2008

Grávidas

É interessante o poder de atração que uma grávida exerce sobre nós, meros mortais, e em especial sobre as demais mulheres.

Basta ver uma barriga proeminente que já sentimos uma quase incontrolável vontade de interagir com a gestante. Alguns não se contém e, para espanto da grávida, chegam a alisar a barriga, torcendo para que o nenê chute naquele exato instante.

Em seguida, vem as perguntas inevitáveis:

"É menino ou menina?"

"Já escolheu o nome?"

"Vai nascer quando?"

"Normal ou cesárea?"

Tantas foram as vezes que a France respondeu a esse questionário (e tantas outras ainda serão as que ela irá responder, pois o Pedro só nasce em março) que ela pensou em colocar as respostas em um crachá e andar com ele por aí.

Eu não critico quem costuma fazer esse rol de perguntas, até porque também não consigo me controlar. Invariavelmente sorrio quando avisto uma grávida, e sinto um misto de admiração, ternura e carinho pela situação.

Certa vez, há bastante tempo, antes mesmo de sequer pensar em ser pai, e num daqueles momentos de ócio, veio-me à cabeça uma espécie de desafio: encontrar imagens que representassem fielmente alguns conceitos.

O primeiro conceito em que pensei foi o de liberdade. Qual imagem melhor representaria essa idéia? Pensei em uma imagem mais ou menos assim:



Ou seja, o ciclista controla seu equilíbrio mesmo sem usar as mãos, mas sabe que qualquer descuido pode representar uma queda. Ele deve usufruir da liberdade sem esquecer da responsabilidade.

E, para representar o conceito de humanidade, qual seria a melhor imagem? Sempre pensava na foto de uma grávida, como essa a seguir.




18 de nov. de 2008

Cronologia II

Bem, então no início de 2008 fomos ao consultório do Dr. Marco Tulio, lá em Nova Lima. Recebêramos indicação de uma pessoa da família, e desta forma agendamos um horário.

Já o procuramos com a intenção de realizarmos algum procedimento. Não tínhamos mais qualquer dúvida sobre nossa incapacidade de naturalmente gerar filhos - precisávamos de ajuda.

E logo no primeiro contato ficamos surpreendidos pela atmosfera de confiança que o Dr. Marco Tulio inspira. Em nenhum instante ele nos deu falsas esperanças: sempre embasou seus prognósticos em probabilidades, mas sempre nos incentivou a acreditar nos 40% de chance que possuíamos. Este percentual foi definido a partir do perfil da France: jovem e com o histórico de uma gestação exitosa.

Para quem desconhece os meandros da infertilidade, para tudo existe um percentual: a cada ano de vida após os 35 anos, a mulher perde x% de seus óvulos; ao congelar e descongelar o embrião, diminuem 20% as chances de implantação; após a cirurgia de varicocele, minha chance de retomar a fertilidade era de 50%; e por aí vai.

Feito o primeiro contato com o médico, definimos o método que utilizaríamos e programamos todo o procedimento. Foi uma logística complicadíssima, pois envolvieu viagens a BH, férias escolares da Bella, realização de um empréstimo, ciclo menstrual, limites do cartão de crédito, aplicação de injeções, a escala de trabalho da France, autorizações do plano de saúde e uma série de outras condicionantes. Ufa!

Assim, nos meses de maio e junho retornamos a BH para realizarmos o tratamento. O procedimento funcionou mais ou menos assim:

- France tomou um hormônio que interrompeu por completo seu ciclo menstrual;

- 15 dias após, ela realizou um ultrassom que confirmou a interrupção;

- a partir de então, ela passou a tomar doses diárias de outro hormônio, com vistas a estimular a ovulação;

- duas vezes por semana, realizava ultrassom para ver se o tamanho e a quantidade dos óvulos. Com os resultados, o médico alterava a dosagem do hormônio;

- após 12 dias de aplicações diárias, ela havia gerado uma quantidade satisfatória de óvulos;

- realizamos então a punção para retirada dos óvulos, um procedimento um pouco doloroso. No mesmo dia, colhemos os meus soldadinhos;

- conseguimos gerar 19 óvulos em boas condições. 19 dos meus recrutas, assim, foram selecionados e fortalecidos (acho que com Biotônico Fontoura), para garantir a fecundação. Eles foram, então, injetados diretamente no núcleo de cada óvulo, no método denominado ICSI;

- dois dias depois, voltamos ao laboratório para saber o resultado. Dos 19 óvulos fecundados, 11 geraram embriões saudáveis e viáveis;

- os três mais aptos foram, enfim, implantados no útero, em um procedimento muito simples. Os demais foram congelados e moram agora na avenida do Contorno, em BH.

Curiosidade: os embriões foram numerados e classificados. Implantados foram o 1, o 5 e o 6.

A par destes procedimentos, realizamos sessões de acupuntura com a Dra. Chin Du, uma chinesa radicada em Belo Horizonte. Apesar de morar no Brasil há décadas, ela quase não se expressa em português; a cada sessão, ela repetia, após estimular os pontos: "Segula bebê! Segula bebê!"

Após a implantação, retornamos a Manaus e aguardamos 12 dias até realizar um exame de gravidez. Este é o ponto mais sensível de todo o procedimento, pois gerar os embriões é relativamente garantido. A questão maior é: eles irão se fixar na parede do útero? Para ajudar nessa fixação, haja mais hormônio. Foram caixas e mais caixas de progesterona.

Em nosso caso, felizmente, um dos três bichinhos conseguiu se segurar. No início da gestação, havia dois sacos gestacionais, a indicar que pelo menos dois estavam se desenvolvendo. Mas, a partir do segundo ultrassom, notamos que somente o Pedro seguiu seu caminho dentro do útero.

Costumo dizer que os outros dois embriões foram implantados para encorajar o Pedro, para que ele não se sentisse só no início da jornada. Ao 5 e ao 6, nossa eterna gratidão.

10 de nov. de 2008

Arcos e Flechas

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.
Este texto é do livro O Profeta, de Gibran Khalil Gibran. Sintetiza, com poesia e profundidade, a compreensão que os pais devem ter em relação a seus filhos.

Tentar comentar, verso por verso, seria um desrespeito tremendo à beleza do poema. Deixo apenas registrada minha admiração pela imagem dos arcos e das flechas. Para que nossos filhos voem rumo a seu destino, é necessário que nos curvemos, muitas vezes ao peso da dor. Mas ser pai e mãe é missão, não divertimento.

3 de nov. de 2008

O tesouro

O tempo é um patrimônio quase sempre mal utilizado em nossas vidas. Costumamos reclamar que estamos sem tempo, que o tempo urge, mas em verdade somos péssimos usuários desse recurso que nos é renovado todos os dias.

Falo de experiência própria, pois nunca sei direito o que fazer com meu tempo livre. Procuro algo para fazer em casa, ligo o computador, a televisão, separo livros e revistas e, quando dou conta, estou fazendo tudo e nada ao mesmo tempo.

É por isto que Machado de Assis disse: "Matamos o tempo e o tempo nos enterra."

Mas nem todos somos assim. Tenho notado que a France, por exemplo, usa com bastante objetividade e sabedoria os poucos minutos de que ela pode dispor livremente durante o dia.

Invariavelmente, ela está envolvida com alguma coisa relacionada ao Pedro. Ou está trocando ideias com amigas e parentes sobre a gravidez, por e-mail ou telefone, ou está pesquisando na internet sobre cuidados, produtos, novidades, ou está lendo os livros e revistas que comprou sobre a maternidade, ou está assistindo programas no Discovery Home & Health sobre bebês.

Quando não está fazendo nenhuma dessas coisas, ela simplesmente vai até o quarto e fica imaginando como serão as coisas por ali a partir de março.

O Evangelho diz que "onde estiver teu tesouro, aí também estará teu coração". É uma advertência sábia de Jesus a respeito dos tesouros da vida terrena e os da vida imaterial.

Para mim, significa que usaremos nosso coração - ao dedicarmos nossos melhores esforços e mobilizarmos nossos mais importantes recursos - para conquistar aquilo que elegemos como prioridade em nossas vidas - nosso tesouro.

Muitas vezes, o tesouro que elegemos é transitório: um cargo mais alto na hierarquia, uma casa maior, um prêmio na loteria. Não importa, todo o nosso coração estará envolvido em sua conquista.

Noto, assim, pelo uso que tem feito de seu tempo, quão belo e nobre é o tesouro escolhido por ela. E que eu, por outro lado, não poderia ter escolhido melhor.