24 de mai. de 2009

Gratidão

Quando um casal decide trazer mais uma criança a este mundo, a decisão é inteiramente sua - assim como a responsabilidade. É uma questão de escolha.

Entretanto, por ser talvez o empreendimento mais complexo e glorioso da existência humana, o ato de criar um filho nunca é uma experiência isolada. A própria dinâmica das coisas desencadeia um movimento de coordenação, dependência e auxílio, envolvendo inúmeras pessoas, próximas ou distantes ao rebento.

Constatamos, eu e minha família, essa dinâmica durante o nascimento do Pedro. E gostaríamos de agradecer a tantas pessoas que colaboram nesse projeto.

Aos profissionais médicos, Dr. Marco Tulio e Dra. Raquel. Por uma feliz coincidência, professor e aluna. Ele cuidou dos procedimentos de reprodução assistida, ela acompanhou a gravidez e realizou o parto. Ambos compromissados e sérios, mas acima de tudo afetuosos e amigos.

Aos colegas de trabalho (em especial aos chefes), que nos ofertaram compreensão e apoio em todos os momentos.

Aos amigos, irmãos e irmãs do coração que encontramos nas estradas do mundo e que, por um imperativo de afinidade, passaram a ser nossos companheiros de jornada. Como é bom ver a alegria com que recebem o Pedro!

Aos parentes, sempre presentes, constituidores agora da moldura familiar que acolhe nosso curumim.

Aos nossos irmãos, alguns já experimentados nas lides paternas, por apoiarem silenciosamente nossas decisões e torcerem pelo sucesso de nossos planos.

Agradecemos aos avós do Pedro, sábios e benevolentes em suas palavras. Em especial, agradeço a D. Silvana, a maior entusiasta dessa longa caminhada. Ela acompanhou desde o início os esforços para a gravidez se concretizar, ofertando, além de recursos materiais, farta dosagem de amor, apoio e paz. Teve a honra de escoltar o Pedro quando ele finalmente veio para casa.

Enfim, somos gratos a todos os que vibraram pelo êxito dessa etapa de nossas vidas.

Mas faltam agradecimentos, ainda.

A nossa filha, que com paciência e compreensão, após anos de longa espera, ganhou seu maninho querido, gostosamente acolhido em seu quarto.

Ao próprio Pedro, por acreditar em nossa capacidade de amá-lo e direcioná-lo para uma vida sadia e equilibrada, na qual as boas decisões triunfem e a paz encontre lugar.

Finalmente, agradecemos a Deus, por nos julgar dignos de desempenhar tão nobre papel. Obrigado, Senhor.

21 de mai. de 2009

Dicas de filmes - Wall-E


Como você já notaram, tenho uma predileção especial pelos filmes da Pixar. Wall-E é um dos que mais me emocionaram.

Sinopse

No futuro, a humanidade abandonou o planeta Terra. Coberto de lixo e poluição, o globo tornou-se um local inadequado para manter e gerar a vida. A solução é, assim, embarcar todas as pessoas em uma grande espaçonave, deixando na Terra inúmeros robôs que limparão o planeta.

A ideia inicial era retornar assim que as condições estivessem melhores. Para monitorar o estado da Terra, periodicamente robôs seriam enviados ao planeta a fim de identificar a melhora da situação.

No entanto, o plano não funcionou. O tempo passou, o planeta continuou sujo e a humanidade parece ter esquecido de sua terra natal. Confinada em um moderno veículo espacial (a nave Axiom), desfrutando de inúmeras comodidades, a grei humana engordou e passou a viver uma vida sem sentido, em que os relacionamentos são todos virtuais e ninguém parece interessado em fazer algo diferente. E, nisso, 700 anos se passaram.

Na Terra, todos os robôs limpadores deixaram de funcionar. Todos, menos Wall-E. Ele continua com sua rotina de recolher o lixo, compactá-lo e empilhá-lo de forma a construir enormes estruturas, similares a edifícios urbanos.

Mas, além da função para a qual foi projetado, Wall-E desenvolveu uma vida própria. Adestrou uma pequena barata e a transformou em seu animal de estimação; passou a colecionar objetos encontrados em seu cotidiano; transformou um pequeno contêiner em refúgio, no qual guarda suas quinquilharias, protege-se das tempestades e descansa durante a noite.

Wall-E sente-se só. Todas as noites, assiste ao filme "Hello, Dolly", emocionando-se quando vê os personagens darem-se as mãos. Ele anseia pelo contato com alguém.

De súbito, seu desejo se realiza. Eva, uma robô enviada pela Axiom para avaliar as condições do planeta, pousa próxima a seu contêiner. Wall-E logo se apaixona e passa a segui-la. Eva, no entanto, tem uma missão: encontrar algum tipo de vegetação na Terra. Esse é o sinal de que o planeta se recuperou dos danos ambientais e está pronto para receber de volta a população humana.

Eva, desta forma, nenhuma importância dá a Wall-E, que se esforça por se fazer notar, inutilmente, enquanto ela vasculha tudo a seu redor.

Enfim, Eva acaba achando o que procura, retorna para a Axiom e leva, sem saber, um apaixonado robô a reboque. A presença de Wall-E dentro da nave é essencial para que a humanidade retorne à Terra.

Valores do filme

Sem dúvida, a grande lição de Wall-E é a humanidade. O pequeno robô parece o ser mais humano de todo o universo mostrado no filme.

Sua gentileza (quase morre de susto ao ver que atropelou a baratinha), sua timidez (aproxima-se a custo de Eva), sua educação (apresenta-se aos demais robôs da Axiom cumprimentando-os e dizendo o próprio nome) e, principalmente, seu amor por Eva são o que o caracteriza como dotado de uma humanidade linda, poética.

Além disso, ele humaniza a todos com quem se relaciona: Eva ri e se diverte, Mo torna-se amigo, John, Mary e o Comandante McCrea despertam da letargia provocada pela Axiom, até os gigantes Wall-A dão adeusinho quando ele parte. É como que sua figura desajeitada despertasse o que de melhor há nas criaturas.

Outro aspecto interessante, ligado a este primeiro, é o do progresso. Wall-E, no longo período passado a sós na Terra evoluiu, desenvolvendo as características mencionadas acima. Mas , curiosamente, desenvolveu sintomas de humanidade diversos dos demais robôs.

Todos os robôs mostrados tem caracteres humanos. Eva é irritadiça, destrói coisas em virtude do aborrecimento por não cumprir sua missão; Mo tem compulsão por limpeza; Auto é ardiloso e maquiavélico. Wall-E é diferente, é singelo e amoroso, e isso faz a diferença.

Há, ainda, o valor no filme do meio ambiente, do cuidado com nossa casa e das consequências que um estilo de vida consumista e desleixado pode nos proporcionar.

19 de mai. de 2009

Nós, os criminosos

Há alguns anos, novel na Doutrina Espírita, li uma frase de Chico Xavier que me deixou encucado. Não me recordo agora dos termos exatos, mas ele dizia que a diferença entre nós e os criminosos é que estes haviam sido descobertos. Nós, não.

Fiquei pensativo, ora, mas eu não sou criminoso. Formado em Direito, tendo estagiado por quase três anos em varas criminais no fórum de Belo Horizonte, sabia bem a diferença entre quem cometia crimes e quem era "cidadão de bem".

Por outro lado, pensava: mas quem disse isso foi o Chico. Como assim, ele é um criminoso?!

O tempo foi passando e, mais esclarecido, identifiquei algumas situações em que eu era, de fato, alguém que praticava crimes às ocultas.

Bastou eu me lembrar de um computador pessoal que comprara e no qual havia instalado somente programas sem a devida licença. Pirataria pura.

Depois, várias pequenas infrações de trânsito. Crime. Atraso no recolhimento da contribuição previdenciária de nossa secretária doméstica. Culpado.

Daí concluí que eu era, de fato, um criminoso não descoberto. E, à medida em que me encontrava praticando delitos, buscava me corrigir, deixando de transigir nas pequeninas infrações que passavam desconhecidas do grande público.

Essa é uma característica desse tipo de delitos: ninguém sabe. Ninguém nos vê quando avançamos o sinal vermelho, e isso nos dá uma sensação de que não faz mal. Acontece que nossa consciência não nos abandona, e vê tudo. E depois cobra.

Pois bem, eu achei que havia entendido bem a frase. Mas continuava com caraminholas na cabeça: será que era disso que o Chico falava? Mas ele não era um cidadão exemplar, cumpridor de seus deveres? Será que ele praticava essas infrações também?

O tempo continuou a passar e meu conceito de crime foi se alterando. Não pensava mais nas normas criadas pelo homem para disciplinar a vida em sociedade, mas sim refletia sobre as leis eternas e imutáveis do Criador.

Leis que estabelecem apenas um dever: o de amar. Toda a lei está contida no mandamento do amor, disse Jesus. E, quem posterga ou se nega a cumpri-lo, acaba praticando um crime.

Não amar é negar nossa condição humana. Não amar é deixar de realizar nosso potencial. Não amar é se iludir e ter de refazer tudo, dessa vez com amor.

Quem desobedece a uma lei humana e pratica um crime, sujeita-se à pena.

Quem desobedece à lei divina e deixa de amar, também lavra contra si uma condenação: a de ter de amar, se não agora, depois.

Assim, feliz da vida, confirmei que, de fato, somos todos criminosos, pois desperdiçamos as chances diuturnas que temos de amar. Mas o tempo está a nosso favor, e um dia certamente, com esforço e coragem, optaremos pelo amor, sempre.

Mãe e Amor

Homenagem quase tardia às mães (o mês ainda não acabou).

Diz um ditado judaico que, não podendo estar em todos os lugares, Deus então criou as mães.

Há nesse dito uma licença poética, pois a ideia de Deus por si só fala de sua onipresença; o objetivo do provérbio é ressaltar a grandeza do amor materno, tido como expressão mais próximo do amor divino.

Alguns meses atrás, a cidade de Manaus assistiu a uma demonstração desse amor. Uma jovem, por nome Socorro, caminhava em uma movimentada avenida junto a seu filho de 4 anos.

No próximo dia, seria comemorado o aniversário de 5 anos do garoto, e mãe e filho haviam buscado na confeiteira o bolo com que a data seria celebrada.

De súbito, na energia de seus poucos anos, o filho desprendeu-se das mãos maternas e arrojou-se perigosamente na via pública. Um ônibus ameaçador surge, em velocidade inadequada para o local, posto que grande é o número de pedestres ali.

Sem hesitar, a mãe lançou-se atrás do filho, conseguindo empurrá-lo e desviá-lo da rota do coletivo. Seu gesto heroico, entretanto, não a livrou do choque. Socorro faleceu enquanto era atendida pelo serviço de urgência.

Entre as reflexões que realizei nos dias subsequentes ao fato, compreendi que ela deu ao filho, pela segunda vez, a vida. Sacrificou-se, para que ele pudesse viver. Deu o que tinha de mais precioso para permitir que ele seguisse adiante.

A tarefa materna, acredito, representa um intenso programa de atividades que Socorro realizou em poucos segundos.

Qual mãe não sacrifica suas horas de sono para amamentar seu pequeno rebento?

Qual mãe não abre mão de suas horas livres para poder acompanhar de perto o crescimento de seu filho?

Qual mãe não adia a concretização dos próprios sonhos para que os filhos realizem os seus?

Qual mãe não ensina com doçura o que a vida impõe muitas vezes com dor e aflição?

Qual mãe não tem um estoque infinito de paciência?

Qual mãe não deseja, acima de tudo, que os filhos sejam felizes e possam encontrar o próprio caminho?