19 de mai. de 2009

Nós, os criminosos

Há alguns anos, novel na Doutrina Espírita, li uma frase de Chico Xavier que me deixou encucado. Não me recordo agora dos termos exatos, mas ele dizia que a diferença entre nós e os criminosos é que estes haviam sido descobertos. Nós, não.

Fiquei pensativo, ora, mas eu não sou criminoso. Formado em Direito, tendo estagiado por quase três anos em varas criminais no fórum de Belo Horizonte, sabia bem a diferença entre quem cometia crimes e quem era "cidadão de bem".

Por outro lado, pensava: mas quem disse isso foi o Chico. Como assim, ele é um criminoso?!

O tempo foi passando e, mais esclarecido, identifiquei algumas situações em que eu era, de fato, alguém que praticava crimes às ocultas.

Bastou eu me lembrar de um computador pessoal que comprara e no qual havia instalado somente programas sem a devida licença. Pirataria pura.

Depois, várias pequenas infrações de trânsito. Crime. Atraso no recolhimento da contribuição previdenciária de nossa secretária doméstica. Culpado.

Daí concluí que eu era, de fato, um criminoso não descoberto. E, à medida em que me encontrava praticando delitos, buscava me corrigir, deixando de transigir nas pequeninas infrações que passavam desconhecidas do grande público.

Essa é uma característica desse tipo de delitos: ninguém sabe. Ninguém nos vê quando avançamos o sinal vermelho, e isso nos dá uma sensação de que não faz mal. Acontece que nossa consciência não nos abandona, e vê tudo. E depois cobra.

Pois bem, eu achei que havia entendido bem a frase. Mas continuava com caraminholas na cabeça: será que era disso que o Chico falava? Mas ele não era um cidadão exemplar, cumpridor de seus deveres? Será que ele praticava essas infrações também?

O tempo continuou a passar e meu conceito de crime foi se alterando. Não pensava mais nas normas criadas pelo homem para disciplinar a vida em sociedade, mas sim refletia sobre as leis eternas e imutáveis do Criador.

Leis que estabelecem apenas um dever: o de amar. Toda a lei está contida no mandamento do amor, disse Jesus. E, quem posterga ou se nega a cumpri-lo, acaba praticando um crime.

Não amar é negar nossa condição humana. Não amar é deixar de realizar nosso potencial. Não amar é se iludir e ter de refazer tudo, dessa vez com amor.

Quem desobedece a uma lei humana e pratica um crime, sujeita-se à pena.

Quem desobedece à lei divina e deixa de amar, também lavra contra si uma condenação: a de ter de amar, se não agora, depois.

Assim, feliz da vida, confirmei que, de fato, somos todos criminosos, pois desperdiçamos as chances diuturnas que temos de amar. Mas o tempo está a nosso favor, e um dia certamente, com esforço e coragem, optaremos pelo amor, sempre.

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