27 de fev. de 2009

Caduquices

Caducar
v. int.
,
fazer-se caduco;
envelhecer;
perder as forças;
deixar de ter valor ou validade;
tornar-se nulo.

Quando cheguei ao Amazonas, há quase 10 anos, estranhei o uso que se faz aqui do verbo caducar. Eu sempre o utilizava em algum dos sentidos acima. Caducar, para mim, era tornar-se decrépito.

Aqui no Norte usa-se caducar em um sentido muito especial. Quando nasce uma criança, e seus pais e parentes ficam com aquele ar meio bobo, babando pela prole, diz-se que estão caducando.

Bem, confesso que estou caduquíssimo. Como disse no post anterior, é muito, muito difícil deixar de ficar olhando para o Pedro. Passamos boa parte do tempo simplesmente admirando suas múltiplas caras e bocas.

Outro dia, enquanto o carregava na garagem, fiquei torcendo para que algum vizinho passasse pela rua e assim eu pudesse mostrar meu troféu, orgulhoso. Vizinhos dos quais nem sei o nome direito, e duvido que saibam o meu.

É incrível como buscamos interpretar os mínimos sinais que ele emite. Uma boca franzida, ele concordou com o que falamos. Um olhar de interrogação, ele está pensando no que foi falado. Cara feia, não gostou da vovó. Tem cara de calminho, vai ser muito tranquilo. Olha como é resignado, quase não chora. E por aí vai.

Todo mundo havia me falado isso antes, e agora tendo a concordar mais do que nunca. É muita emoção. Quando o segurei pela primeira vez, ele ainda estava na UTI. Ver aquele pequeno ser se esforçando para se aproximar mais de mim, como quem se entrega em absoluta confiança, foi dos momentos mais marcantes até então. Ele buscava aconchego, colo, carinho, e ia esticando o pequeno corpo para se aninhar junto a mim.

Pois é, cá estou. Caducando.