27 de jan. de 2012

Haitianos em Manaus

Os haitianos continuam a chegar ao Amazonas, e a situação, divulgada de maneira mais intensa pelos meios de comunicação, começa a despertar reações diversas. Uns ajudam, outros criticam.

Quem está com a 'mão na massa' desde o começo é a Igreja Católica e sua Pastoral do Migrante, pouco se importando com o fato de que a grande maioria dos haitianos é evangélica. É fazer o bem sem olhar a quem. Outras denominações cristãs tem ajudado, bem como setores da sociedade civil e cidadãos anônimos. 4 mil haitianos já foram acolhidos e estão em processo de se estabelecerem por aqui.

Há quem se incomode. O argumento central dessa turma é o receio de que os haitianos roubem o emprego e as oportunidades dos amazonenses, e ainda a perspectiva de que novas e novas levas de refugiados aportem por aqui.

Em favor daqueles que acolhem, poderia argumentar que a ajuda aos haitianos é um gesto humanitário, de auxílio a quem vivia em um dos países mais miseráveis do mundo e perdeu tudo quando do terremoto de 2010 e agora enceta uma viagem perigosíssima em busca de uma chance de recomeçar.

Poderia lembrar, ainda, que a ajuda dada a eles é temporária, apenas até o momento em que eles estejam estabilizados. Logo que conseguem emprego, eles se reúnem para alugar um imóvel em comum e viver como numa república. Eles tem dignidade, não querem ser um peso a ninguém.

Poderia, também, dizer que eles vem para trabalhar, e trabalhando geram riqueza. O salário que recebem é em contrapartida a um serviço que prestam, serviço esse que movimenta a economia amazonense e que será desfrutado por todos nós amanhã: o imóvel que ajudam a construir, o aparelho eletrônico que ajudam a montar, etc, etc, etc.

Mas o principal argumento que encontro em favor do auxílio é minha própria história. Também sou um migrante. Assim como os, haitianos, deixei minha terra natal em busca de novas oportunidades, as quais jamais me foram negadas aqui no Amazonas.

Em 1999, fiz um concurso público que oferecia vagas no Brasil inteiro. Minha classificação não me permitiu ficar em Belo Horizonte. Vim, assim, para Manaus, e fui muito bem acolhido aqui. Nunca me acusaram de estar tirando o emprego de um amazonense. Nunca olharam atravessado para mim porque sou de fora. Nunca me pediram para que eu voltasse para Minas porque estava sobrando aqui. Muitíssimo pelo contrário.

O povo amazonense me recebeu de braços abertos, e me senti tão bem aqui que resolvi ficar. De migrante tornei-me habitante, e não tenho planos se sair, pois percebo que aqui está a oportunidade da minha vida.

Inesquecível o dia em que comi o jaraqui pela primeira vez. Foi no Panela Cheia, aqui no Dom Pedro. Hoje não é meu peixe preferido, mas sempre terá um sabor especial: sabor da decisão de aqui viver e ser feliz. E essa decisão jamais seria tomada sem o carinho e o acolhimento do povo dessa terra.

Um comentário:

Bia Nobre disse...

Adorei o texto, reflete tudo o que nós, cidadãos não egoístas, pensamos! Amazonense é um dos povos mais acolhedores do Brasil e graças a Deus estão fazendo bem esse papel!