10 de jun. de 2009

Preconceito

Cada vez mais me convenço de que admiramos muito as máximas de Jesus, mas não temos coragem de torná-las uma realidade na nossa vida.

Já escutamos muitas e muitas vezes que não devemos julgar, para não sermos julgados, mas continuamos a medir o outro com a régua torta de nossos preconceitos.

Na semana passada, os impositivos profissionais me levaram a visitar uma residência na zona leste, a mais populosa, carente e violenta de nossa cidade. Fui entregar um documento a uma senhora.

Lá chegando, e encontrando o portão meio aberto, entrei, anunciei com quem gostaria de falar e permaneci no pátio aguardando.

Havia um grupo de jovens lá dentro, e não pude deixar de perceber que quase todos usavam tatuagens, tinham os cabelos descoloridos, vestiam apenas bermudas e chinelo, e ostentavam uma postura meio arrogante.

Levando em conta a região geográfica, logo uma ideia começou a se insinuar em minha mente: marginais..., ou galerosos, como se costuma chamar por aqui.

Encostei-me numa parede e aguardei a vinda da pessoa. De súbito, irrompe do fundo das casas um jovem com todas aquelas características, e carregando singelamente uma espingarda. Pequena, mas uma espingarda. Passou por mim e ganhou a rua.

Arregalei os olhos e encostei-me mais ainda no cantinho onde estava. O grupo de jovens logo seguiu o primeiro rapaz.

Aquela ideia inicial avançou um pouco mais. Então os marginais iam praticar algum ato de violência, um assalto, um ajuste de contas. Meu Deus! Aonde fomos parar!

Lembrei-me, então, da senhora que fora visitar. Será que ela sabia daquilo? Quem seriam aqueles jovens para ela? E aí a ideia inicial chegou ao seu ápice. Decerto ela sabia de tudo, pois eles haviam ido buscar a arma na casa dela. Era a mandante ou, no máximo, alguém conivente com o crime!

Estava lá com essas conjecturas (e os olhos quase saltando das órbitas) quando a senhora surgiu, esbaforida, dos fundos da casa. Já veio se desculpando pela demora.

"O senhor me perdoe a demora, mas tenho andado muito atarefada. Sou costureira, e os rapazes aqui do bairro participam do festival folclórico todos os anos. Este ano vamos fazer a dança do cangaço. Estou cansada de tanto trabalhar, mas acho que vai ficar tudo muito lindo!"

Asseguro que foi o sorriso mais amarelo que já sorri.

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