22 de nov. de 2010

Isabella, minha filha

Em dezembro de 2000, eu e France já éramos amigos, mas eu desconhecia detalhes de sua vida pessoal. Naquele mês, o grupo de estudos da Doutrina Espírita do qual participávamos realizou um almoço de Natal, na residência de uma das dirigentes.

Era um domingo, e quando cheguei deparei-me com France e sua filhinha, a Isabella, à época com 1 ano e 3 meses. Linda, toda cacheadinha. Lembro de ter pensado, uai, eu nem sabia que a France era casada. Foi um pensamento típico de tradicional família mineira. E fiquei aguardando, naturalmente, que o pai da Bella chegasse ao encontro festivo a qualquer momento.

Ainda nesse dia, por uma circunstância qualquer, a Bella veio parar no meu colo. Ela já andava, mas estava desconfiada com a quantidade de pessoas presentes. E, por uma felicidade imensa, uma máquina fotográfica registrou esse momento. Tudo conspirava a nosso favor: foi a primeira vez que segurei minha filha nos braços.

O tempo passou, e minha relação com a France foi se tornando mais próxima. Já frequentava seu lar, e Bella começou a me chamar de tio. Em setembro de 2001 começamos a namorar, e os contatos com a Bella eram mais e mais frequentes. O tio aparecia tanto na sua casa que até o cachorro começou a balançar o rabo, amistoso.

No começo de 2003 nossa relação ficou mais séria. France havia saído de um emprego e resolvemos, todos, nos mudar para Belo Horizonte, a fim de que ela cursasse uma pós-graduação. Foi o começo de nossa vida em comum, e foi quando iniciei a convivência mais próxima com a Bella.

Inicialmente, ela não me chamava de pai, e nem era essa nossa intenção, minha e de France. Se as coisas acontecessem, que fosse de maneira natural, sem imposição artificial. Bella já tinha três anos, percebia bem as coisas, e me chamava de Martim. Era como ela via sua mãe me chamar, e repetia sempre.

Em BH, uma presença marcante foi Eduarda, filha de meu irmão. Seis meses mais velha que a Bella, adotou de imediato a postura de sua mestra e tutora. Começaram a competir em vários aspectos (eram as únicas netas da família, até então) e quando Isabella viu Eduarda chamando meu irmão de pai, não titubeou: começou, também, a me chamar assim. Se a Duda tinha um pai, ela também teria.

Recordo-me, com alegria, de uma semana em que precisei viajar a serviço. Fui na segunda e retornei na sexta e, antes mesmo de ir em casa, fui à escola apanhar a Bella. Quando nos avistamos, ela correu e, sem palavras, começou a me abraçar efusivamente. Abraçava, olhava para mim, abraçava de novo. Sem palavras, só sorrisos. E eu transbordava de lágrimas. Creio que a partir desse momento é que me tornei, mesmo, o pai dela.

Muitas e muitas coisas aconteceram. Voltamos para Manaus e France participou de um programa de treinamento da Petrobrás. Eles iriam realizar a obra do Gasoduto Coari-Manaus e queriam qualificar o pessoal daqui, ao invés de trazer profissionais de outros estados.

France participou, qualificou-se como inspetora de dutos e foi contratada por uma empresa terceirizada para atuar como uma das fiscais da obra. Beleza. O único porém é que o trabalho se dava em regime de embarque: 21 dias no mato, 21 em casa.

Admito que não foi fácil. Era muita saudade! Foram 3 anos de idas e vindas, 3 anos em que fui pai e mãe da Bella metade do tempo. Mas que já passaram, e trouxeram muito aprendizado para todos nós. E, muito importante, fortaleceram e consolidaram minha relação com a Bella.

Hoje, com a chegada do Pedro, eu percebi o quanto fazem falta os primeiros anos. Já até comentei algo aqui sobre isso. Mas posso dizer com o coração tranquilo que os laços do sentimento envolvem a mim e a Bella para sempre.

PS: Bella encontrou seu pai biológico em duas oportunidades. Ele vive no estado do Rio de Janeiro com a esposa e os quatro filhos. Por outro lado, temos uma relação maravilhosa com os avós paternos, tios e primos da Bella, os quais moram aqui em Manaus.

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