29 de dez. de 2017

Itamar e Daniella


Há 25 anos, em 1992, contava eu 18 anos e acompanhava com muita atenção todos os desdobramentos do impeachment de Fernando Collor. Não cheguei a ir às manifestações de caras-pintadas, mas estava empolgado pelo clima vivido pelo país.

A imprensa investigava os detalhes da corrupção, explorava a ligação do presidente com PC Farias; o pedido de impeachment fora entregue no Congresso pela ABI e pela OAB e sua tramitação era célere; tudo se encaminhava para a saída do presidente, e se festejava a possibilidade de queda de um político envolto em corrupção.

Lá em casa minha mãe tinha uma assinatura de Istoé, à época comandada por Mino Carta, e eu consumia cada exemplar assim que chegava. Pela TV a pedida era acompanhar tudo pela Bandeirantes, que fazia uma cobertura correta e muito abrangente dos desdobramentos no Congresso.

O pedido de impeachment já fora aprovado na Câmara, Collor estava afastado provisoriamente. O Senado iria começar o julgamento, e a Band apresentava ao vivo a sessão do dia 29 de dezembro.

Estava eu só, em casa, assistindo à sessão, quando o advogado de Collor assume a tribuna. Especulava-se que o presidente poderia renunciar para assim encerrar o processo de impeachment sem julgamento. Dito e feito. O advogado leu a carta de renúncia, e eu acompanhei ao vivo, tomado de fervor cívico. Era um momento histórico.

Os jornalistas enlouqueceram. Correram atrás do Itamar para saber da repercussão. Populares faziam festa nas ruas, parlamentares idem no Congresso. Eu mal me continha de alegria por estar fazendo parte daquele momento nacional, ainda que apenas vendo a TV.

Nesse instante, minha mãe chega em casa, com um ar de muita ansiedade. A primeira coisa que ela me pergunta:

- Ele já está preso?!!

Obviamente, achei que ela se referia ao Collor. Expliquei que não, que ele renunciara naquele momento e que o Itamar era nosso novo presidente.

Minha mãe insistiu na pergunta e comecei a perceber que estávamos falando de coisas diferentes. Foi quando ela falou do trágico assassinato de Daniella Perez e da busca que estava sendo feito ao Guilherme de Pádua.

Mudei de canal para a Globo e vi que só se falava disso. Esse triste acontecimento acabou desviando bastante a atenção do momento político. Itamar e Daniella, Collor e Guilherme dividiram o foco de atenção dos brasileiros nas semanas e meses seguintes.

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